Quando a crise chega, o ouro se converte no porto seguro de muitos investidores. Não é por acaso que ele vem ganhando força desde o início de 2019, enquanto outros investimentos vacilam. Vários eventos vêm jogando a cotação para cima: as ameaças da guerra comercial entre EUA e China, o ataque dos EUA ao Irã e, agora, o surto do coronavírus e a queda nos preços do petróleo.
Até a quinta-feira (12), o metal negociado na Comex (divisão de metais em Nova York) fechou valendo US$ 1.590,30 por onça-troy, uma valorização de 3,98% desde o dia 31 de dezembro de 2019. Com o forte tombo das bolsas esta semana, a cotação do ouro no mercado futuro desvalorizou, mas só porque os investidores venderam o metal para compensar as perdas com outros ativos.
Para George Washmann, sócio-fundador e CIO da Vitreo, gestora que lançou no ano passado um fundo com lastro em ouro, o panorama é claro. Quando há crise nos mercados, o investidor tem três alternativas: dólar, títulos do Tesouro americano e ouro. Este último é uma espécie de seguro para o investidor.
Ouro é investimento?
Para muitos investidores, o ouro oferece estabilidade frente a outros investimentos. O metal é considerado uma reserva de valor, cuja demanda aumenta nos momentos de maior risco na economia. Contudo, Hilton Notini, professor de Finanças do Ibmec-SP, adverte para não apostar em ouro com a esperança de obter uma forte valorização no curto prazo. O ideal é garantir a estabilidade dos seus ativos no longo prazo, com a valorização do metal. “O ouro deve ser usado como proteção e garantia contra a desvalorização do nosso patrimônio em períodos de inflação e crise financeira”, recomenda.
É importante considerar que o ouro também é uma commodity mineral cujo valor pode ser controlado pela oferta e procura. Porém, por ser um valor finito, não está sujeito a intervenções econômicas dos governos e sua escassez não é compensada por fabricação.
A cotação do ouro é uma espécie de reserva de valor no tempo, protegendo contra a inflação, mas pode sofrer oscilações caso a política monetária de grandes países mude (especialmente nos EUA, Europa e China), assim como crises econômicas ou catástrofes naturais.
Onde comprar ouro
Segundo Notini, existem quatro formas de investir em ouro:
- Bolsa de Valores: É a mais comum. Para comprar ouro na B3, o investidor precisa ter uma conta em uma corretora credenciada na bolsa. Na B3, é possível investir de três formas: comprando lotes de 250, 10, e 0,225 gramas. O preço do ouro no Brasil é atrelado à cotação do metal na bolsa de Nova York, que é feita em dólares por onça. Desta forma, temos: Lote-padrão de 250g de ouro fino (OZ1D); Lote fracionário de 10g (OZ2D); Lote fracionário de 0,225g (OZ3D).
- Ouro em barras: Esta modalidade serve para quem quer investir no ouro físico, mas prefere não ter uma conta na corretora de valores. Neste caso, ele não é um ativo financeiro. O ouro é comprado então com distribuidoras autorizadas.
- Fundos de investimentos: São fundos que oferecem parte ou a totalidade da carteira lastreada em ouro. O objetivo é oferecer proteção ao investidor em caso de queda da cotação do metal, garantindo a segurança do valor investido. É cobrada uma taxa de manutenção que podem afetar a rentabilidade. É possível comprar fundos de ouro com variação cambial (cuja cotação muda com a oscilação do dólar) e sem variação.
- Joias: Nem sempre são considerados investimentos, porque estes procutos embutem a mão de obra do joalheiro e o valor da joia pode demorar em ser avaliado. O design e a marca pode impactar no preço do metal.
Diversificação ou segurança?
Muitos analistas convergem quando o assunto é utilizar o ouro para diversificar as carteiras do investidor. Para Hugo Daniel Azevedo, superintendente comercial do B2C da Órama, o ouro não gera riqueza, mas é um colchão de liquidez utilizado durante a crise e tem a função de proteger o capital investido (segurança). O metal pode até valorizar com o aumento da demanda, mas não gera lucro como as ações.
Mauriciano Cavalcante, diretor da Ourominas, acredita que o caminho ideal é a diversificação constante da carteira do investidor com ouro. Empolgado com o cenário atual, ele afirma que hoje investiria de 30% a 40% dos recursos do próprio capital em ouro, desde que seja uma aplicação a médio prazo.
Para George Washmann, da Vitreo, diversificar a carteira com ouro é uma medida obrigatória semelhante a ter um “seguro”. Ele aponta que se você investe e tem ouro na carteira, a sua visão não deve ser ganhar dinheiro e sim minimizar os prejuízos das oscilações de mercado. “Se você tem um carro, você vai colocar um seguro, mas isso não significa que vai torcer para ter o carro roubado. É a mesma dinâmica com o ouro”, exemplifica.
Walter Candido de Oliveira, gerente de relações institucionais da Associação Brasileira Dos Metais Preciosos (Abramp), recomenda aos investidores lembrar que o ouro é um investimento de médio e longo prazo. E que deve ser encarado como uma ferramenta de proteção de capital, e não como um ganho. “No cenário atual, a garantia de comprar ouro é a segurança dos seus investimentos, já a valorização do metal depende de múltiplos fatores”, diz.
Provavelmente, você está se questionando: e agora, quanto ouro comprar? O InvestNews comparou as estimativas dos especialistas de quanto ouro devemos ter na carteira. Um esclarecimento importante é que não existe um número fixo, porque a proporção de ouro depende de quanto risco a carteira do investidor possui (investimentos em renda variável).
Quanto colocar na carteira?
Azevedo, da Órama, afirma que investidores que possuem perfil conservador (que investem majoritariamente em renda fixa) não precisam comprar ouro. Já os investidores moderados devem ter de 2% a 3% de ouro na carteira quando a economia está estável. Já em tempos de crise, a proporção de ouro deve subir para 5% ou 10%.
Para investidores de renda variável e perfil agressivo, com pelo menos 50% do patrimônio em ações, a recomendação de Azevedo é ter entre 15% a 20% de ouro no cenário atual e para períodos normais de 5% até 10%. “Recomendo ouro com variação cambial para investidores arrojados e ouro sem variação para os moderados”, afirma.
Washmann, da Vitreo, aconselha aos investidores a ter entre 5% a 10% da carteira em ouro, mas tudo depende do risco. “Se você tem 50% de ações, pode aumentar o investimento em ouro. Mas o importante é manter mesmo se a crise melhorar”, aponta.
Já Cavalcante, da Ourominas, aposta em um percentual maior na carteira. De perfil arrojado, ele recomenda investir de 30% a 40% de ouro no médio e longo prazo. E de 10% a 20% no curto prazo.
Para José Falcão de Castro, analista de renda variável da Easynvest, não existe um percentual fixo como recomendação, pois o nível de ouro nos investimentos muda de carteira para carteira. Contudo, para uma carteira com 30% a 50% de renda variável, um número sensato seria de 5% a 10%, em sua visão.
Os especialistas afirmam que é importante ficar atento a recuperação econômica, caso o cenário mundial melhorar Azevedo aconselha ao investidor se desfazer dos investimentos em ouro mantendo apenas a posição de 2% na carteira.
Cenário atual
Não é segredo que o coronavírus e a crise do petróleo entre a Russia e Arábia Saudita impactaram a cotação do ouro. Nesta quarta-feira (11), a Organização Mundial da Saúde reconheceu o coronavírus como pandemia tornando ainda mais incerta a situação da economia global.
O ouro pode ganhar mais espaço se o coronavírus chocar novamente os mercados. “Temos espaço ainda para o ouro valorizar. Em março, o ouro e o dólar ainda devem liderar os investimentos. Já em abril é uma incógnita”, conclui Azevedo.
Na visão de Cavalcante, o ouro pode subir ainda 3% até dezembro. Porém, se o coronavírus se agravar ainda mais, o valor do ouro pode disparar. “Até o final de 2020, teremos a onça no mínimo a U$S 1.700 (cerca de R$ 270 a grama)”, diz.