A pausa dura (“hawkish”) do Federal Reserve ao manter a taxa na última quarta-feira (20) ainda provoca um ajuste nas posições dos investidores que, enfim, se rendem à narrativa de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. Com isso, há uma reprecificação dos ativos, sendo que a renda fixa americana volta a chamar a atenção.
Isso porque o Fed deixou a porta aberta para mais um aumento de 0,25 ponto porcentual (p.p) na taxa de juros ainda neste ano indo, talvez, para o intervalo de 5,5% a 5,75%. Ao mesmo tempo, sinalizou menos cortes em 2024, atrasando um eventual início do ciclo de alívio mais para o fim do que para meados do ano que vem.
“A maior história após o anúncio é a de que a taxa de juro de referência mundial a 10 anos, a T-note, pressiona a marca de 4,5%, – aparentemente na perspectiva de que a taxa neutra para os Fed Funds pode ser de 4%, e não de 2,5%”, afirma o chefe global de mercados do ING, Chris Turner, em relatório.
A equipe de renda fixa do ING avalia que a curva de rendimentos (yields) dos títulos dos EUA (Treasuries) deve seguir “positivamente inclinada”, com a T-note a um “preço justo” de 0,5 pp acima do mínimo de 4%. Segundo o banco holandês, essa escalada dos yields cria obstáculos para os ativos de risco, como ações, em especial de mercados emergentes.
Fed x Copom
Daí porque os gringos se afastaram da bolsa brasileira e estão à espera de uma sinalização dos locais para retornarem. Porém, os investidores institucionais (bancos, gestoras e fundos) e as pessoas físicas preferem seguir na renda fixa nacional. Mas a dúvida é se faz mais sentido migrar para os títulos dos EUA – portanto, para a renda fixa em dólar – ao invés das ações na bolsa nacional.
Ainda mais agora que o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou os cortes da taxa Selic à “velocidade de cruzeiro” de 0,50 pp. “Isso quer dizer que o diferencial da taxa de juros é agora um insumo negativo para o Brasil, em especial para o dólar”, explica o diretor-gerente da mesa de mercados e operações de um banco estrangeiro.
Para se ter uma ideia, o retorno pago pela T-note de 10 anos, atualmente ao redor de 4,5% ao ano, é o mais elevado desde 2007. Ainda assim, é menor do que o oferecido pelos títulos públicos prefixados brasileiros de mesmo vencimento, com as NTN-F de 10 anos dando retorno anual de 11,4%. Ambos os papéis têm pagamento de juros semestral.
A vez da renda fixa gringa
No entanto, isso não significa que a renda fixa dos EUA não esteja atrativa, segundo os especialistas. Ao contrário. O apelo do Fed aos mercados globais para aceitarem a perspectiva de que, ainda que não haja um último aperto, o primeiro corte não será tão logo apresenta oportunidades para colher bons retornos.
“Os investidores devem se preparar para a perspectiva de juro ‘alto por mais tempo’ em vez de se posicionarem para um iminente pivô suave (“dovish”) do Fed”, ressaltam o gerente de portfólio Jason England e o chefe global de renda fixa Jim Cielinksi, da Janus Henderson. Ou seja, os investidores não devem esperar por uma guinada do Fed em breve.
Para os especialistas da gestora de fundos global, a narrativa do “alto por mais tempo” (high for longer), independentemente do nível final da taxa de juros dos EUA, “está na ordem do dia”. E o Fed está claramente determinado em convencer os mercados disso.
“Isso pode ser visto pelo rendimento de 2 anos do Tesouro dos EUA acima de 5%. Com o provável fim dos aumentos pelo Fed no horizonte, os bônus de prazo mais curto apresentam oportunidades atraentes de rendimento que não existiam há dois anos”
Jason England e Jim Cielinksi, da Janus Henderson
Assim, os yields das Treasuries devem continuar a subir, depois de não respeitarem os níveis mais elevados observados no mês passado nem ao final de 2022. “Se isso desencadear forte aversão ao risco, o dólar irá se fortalecer mais uma vez e é melhor estar posicionado nas taxas dos EUA a correr o risco elevado dos juros no Brasil”, completa o diretor-gerente citado anteriormente, sob a condição de não ser identificado.
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