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Finanças

Sem reação na bolsa, gringos dolarizam posições no mercado futuro do Brasil

Estrangeiros estão comprados em dólar e em Ibovespa futuro com cenário para juros; entenda.

Os investidores estrangeiros são os grandes responsáveis pelo comportamento da bolsa brasileira em 2023. Foi o apetite externo por ações no mercado secundário da B3 que impulsionou o Ibovespa nos meses de janeiro e julho, por exemplo. Da mesma forma, o maior saque em capital externo desde a pandemia em agosto foi culpado pela derrocada da renda variável nacional no mês passado. 

Agora, os gringos passaram a bola para os investidores locais e aguardam a chegada dos instituciuonais (bancos, gestoras e fundos) e das pessoas físicas no mercado acionário doméstico para o jogo voltar a rolar. 

Prédio da B3 em São Paulo 06/07/2023 REUTERS/Amanda Perobelli

Basicamente, a estratégia dos investidores estrangeiros é comprar ações na bolsa e se proteger dessa operação em dólar com contratos de hedge. Na prática, isso mantém o mercado acionário andando “de lado” até que os investidores locais retomem a confiança para investir com mais força. 

E quando isso vai acontecer? A aposta dos não residentes é de que em algum momento os cortes na Selic vão tornar a renda fixa local menos atrativa – o que, por enquanto, não aconteceu.

A expectativa do mercado é de que essa competição desleal chegue ao fim quando o juro básico atingir 10%. Na quarta-feira (20), a taxa caiu a 12,75%, com o Comitê de Política Monetária (Copom) deixando contratadas mais duas quedas de 0,50 ponto porcentual (pp) até dezembro. Ou seja, deve encerrar 2023 em 11,75%.   

Já nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) reforçou a tese dos juros mais altos por mais tempo, deixando na mesa um novo aumento neste ano e menos cortes em 2024. “Ou seja, a taxa de juros lá para de subir ou sobe mais um pouco, enquanto aqui cai e cai”, resume um operador sênior da mesa de derivativos de um banco nacional.

Porém, quanto mais prolongada for a pausa do Fed, menos espaço há para avançar nos cortes da taxa Selic, diminuindo o apetite global por emergentes. Assim, enquanto aguardam a definição do cenário para os juros tanto nos EUA quanto no Brasil, os gringos ajustam posições compradas (aposta na alta) no mercado futuro.

Segundo disse o profissional citado acima, sob a condição de não ser identificado, os investidores estrangeiros estão arbitrando operações em índice e em dólar futuro ao venderem contratos. “Eles fazem uma arbitragem de venda com venda”, destaca.

Tecla SAP

Funciona assim: o investidor estrangeiro compra uma ação no mercado à vista a R$ 10, por exemplo. Aí ele faz a proteção (hedge) dessa operação comprando dólar futuro. Com a cotação da moeda na faixa de R$ 5, o gringo desembolsou US$ 2 pelo ativo na bolsa. 

“Ou seja, o gringo dolarizou a carteira em ações dele e passou a correr risco em dólar”, explica o profissional. Ao fazer isso, o Ibovespa fica em “banho-maria”, diminuindo a volatilidade, o que deixa os negócios com ações “de lado”, demandando muita paciência e prudência na hora de escolher os ativos.

“Não há motivos para o mercado acionário subir ou descer. Mas os principais ativos estão com um nível de preços bom para acrescentar alguns riscos, sendo que o dólar (a R$ 5) está justamente no topo”, afirma o diretor da mesa de mercados e operações de um banco estrangeiro. Tanto que com essa arbitragem dos gringos o real passa a ficar com um ágio. 

Pessoa conta notas de dólar 03/03/2023 REUTERS/Jose Luis Gonzalez

Isso acontece porque os estrangeiros compraram muitos dólares para proteger a posição em bolsa. “Então, aquele saldo de capital externo em ações brasileiras, que o gringo está comprado em bolsa, passa para comprado em dólar, porque esse superávit em reais é a posição em dólar”, explica o operador citado mais acima.

Há, portanto, uma simetria das operações em índice e em dólar nos mercados à vista e futuro. Dados da B3 mostram que o fluxo de recursos estrangeiros está positivo em quase R$ 22 bilhões no acumulado de 2023, sendo que a metade desse valor refere-se a operações de ofertas secundárias (follow on) e inicial de ações (IPO).

“Desse valor, se o gringo vender por dia R$ 1 bilhão ou R$ 5 bilhões, vai pressionar a bolsa para baixo, mas sem saber qual vai ser o valor em dólar, porque o câmbio flutua. Então, o que ele faz? Ele vende dólar e vende índice ao mesmo tempo e vai perseguindo essa arbitragem”, emenda o profissional. 

Vem, local!

Esse movimento dos estrangeiros no mercado doméstico só deve mudar à medida que for reduzida a posição comprada em moeda estrangeira. Porém, fazia cerca de um mês que o saldo líquido dos estrangeiros em dólar futuro não mudava. 

Dados diários de short position – que consideram a posição líquida em contratos futuros (incluindo mini) – mostram que a primeira redução de posição comprada dos gringos ocorreu apenas nesta semana, na terça-feira (19), com uma queda de 40 mil contratos. Ao mesmo tempo, essa redução deve ser acompanhada pela volta dos investidores locais em bolsa. 

Por ora, o saldo dos institucionais no mercado secundário da B3 está negativo em quase R$ 30 bilhões no acumulado de 2023 até a mesma data, enquanto os individuais estão reduzindo o déficit mensal e elevando o superávit anual, ainda tímido em R$ 6,7 bilhões. 

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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