Se o bitcoin (BTC) é o “ouro digital”, uma outra cripto pretende ser a “prata digital”: a litecoin (LTC).

Ela é uma das criptomoedas mais antigas do mercado – nasceu em 2011, apenas dois anos depois do bitcoin e longos quatro anos antes do ethereum.

O foco dela é o mesmo do bitcoin, ser um meio de pagamento (diferentemente do ethereum, que tem outra proposta). A diferença é que ela traz supostas melhorias (mais sobre isso adiante). E pode estar prestes a ganhar mais fama.

Motivo: tudo indica que o próximo ETF de criptomoeda a ser lançado nos Estados Unidos é justamente de litecoin. Os ETFs, fundos negociados em bolsa, são produtos financeiros que qualquer pessoa pode comprar via home brocker. Um ETF de bitcoin, por exemplo, é basicamente uma conta cheia de bitcoins, e cada cotista do fundo tem direito a um pedaço dela. É uma forma simples de deixar o dinheiro atrelado à variação do BTC.

Os ETFs precisam comprar bitcoins para vender cotas. Esse movimento eleva a demanda pelo ativo, o que pressiona o valor dele para cima. É por isso que o lançamento dos primeiros ETFs de bitcoin nos EUA, em 2024, ajudaram a elevar o preço da cripto.

A SEC (CVM dos EUA) só autoriza ETFs de bitcoin e de ethereum – as criptos de maior liquidez no mercado. Só que uma gestora, a Canary Capital, está desde outubro do ano passado em busca de autorização para criar um ETF de litecoin. E o processo parece adiantado. No dia 21 de fevereiro, o ETF Canary Litecoin Spot apareceu no sistema do Depository Trust and Clearing Corporation (DTCC), a principal provedora de serviços de compensação e custódia dos EUA. Apesar disso não garantir a aprovação, significa que a infraestrutura de compensação e liquidação do mercado já está preparada para o início das operações.

Mesmo que tudo dê certo, porém, não dá para dizer que a litecoin experimentará altas como as do bitcoin. Competir com a maior cripto do mundo não é tarefa fácil. Faz tempo que a LTC deixou de atrair interesse. Sem conseguir sustentar a tese de que seria uma boa reserva de valor, seu preço despencou.

Em maio de 2021, a LTC atingiu sua máxima histórica, de US$ 412,96. Hoje, porém, a criptomoeda opera na casa de US$ 123, 70% abaixo desse pico de quase quatro anos atrás. Enquanto isso, o bitcoin está em torno de US$ 100 mil, 60% acima de seu pico anterior (também de 2021), e segue renovando recordes de alta.

O que a litecoin propõe

A litecoin foi criada usando o mesmo código do bitcoin em um processo conhecido como fork (bifurcação). Nele, membros da comunidade que administra a cripto decidem seguir um caminho diferente do projeto original, pegando a mesma base, mas fazendo modificações que julgam melhores.

No caso da litecoin, o tempo de transação é muito mais rápido (2,5 minutos contra 10 minutos do BTC) e taxas bem menores, o que a torna melhor pagamentos do dia-a-dia.

Criada pelo ex-funcionário do Google Charlie Lee, a LTC também usa o mesmo modelo de mineração que o bitcoin, chamado de Proof of Work (Prova de Trabalho), em que computadores disputam para resolver problemas matemáticos primeiro e completar um bloco da rede, recebendo como recompensa novas unidades da criptomoeda.

Mas a litecoin tem uma rede mais leve, o que facilita para que mais pessoas possam minerar a moeda, além de ter um limite de ativos maior, de 84 milhões, contra 21 milhões do BTC. Atualmente, há pouco mais de 75 milhões de LTC em circulação – o restante segue em processo de mineração.

Apesar da comparação com o bitcoin e a ideia de “prata digital”, o próprio Lee já afirmou que vê o BTC como uma reserva de valor melhor, sendo a litecoin mais funcional para pagamentos. Mas o fato é que o bitcoin é mais utilizado em transações menores também.

Mesmo assim, a litecoin segue entre as maiores criptomoedas do mundo, com um valor de mercado em torno de US$ 9 bilhões. E o acesso também é fácil, já que praticamente todas as exchanges, como Binance e Mercado Bitcoin, têm LTC disponível. Entre os bancos, BTG e Nubank vendem litecoin.

Por que um ETF de litecoin?

Desde que a SEC aprovou os ETFs e bitcoin, há pouco mais de um ano, criou-se uma corrida no mercado sobre quais seriam as próximas criptos a terem seus próprios fundos negociados em bolsa. O ethereum (ETH) conseguiu; Solana (SOL) e XRP (XRP) estão na corrida, e agora a litecoin também.

“De fato, a Litecoin não é uma das criptomoedas mais populares, mas é um token bem famoso. Dito isso, esse movimento sobre o ETF parece ser muito mais especulativo para ver quem consegue primeiro”, avalia Beto Fernandes, analista da Foxbit.

Segundo ele, o momento atual para a litecoin é muito mais difícil do que em seu início, com um grande aumento de concorrência. “Olhando para moedas de pagamento, por exemplo, as stablecoins assumiram parte deste papel muito bem. A trajetória de uma retomada da litecoin não seria tão simples”.