A intensificação de negociações junto aos clientes para repassar, pelo menos, parte do aumento de preços registrados em 2021, especialmente do combustível, foi um dos pontos que pesaram positivamente para que a JSL (JSLG3), empresa de logística rodoviária, registrasse, no ano passado, o melhor resultado de sua história, de acordo com Ramon Alcaraz, CEO da companhia.
“O convencional é uma negociação por ano, só que para um ano que teve 70% de reajuste do diesel e de 30% e 40% em outros insumos, como pneu, peça e manutenção, fica impossível manter. Tivemos que mudar a estratégia e entrar em negociação 2, 3, 4 vezes com cada cliente”, disse o executivo em entrevista exclusiva ao Investnews sobre o balanço financeiro reportado pela companhia nesta terça-feira (22).
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Ao afirmar que o ano foi “transformacional” para a JSL, Alcaraz explicou que, além da negociação intensa com os clientes, o aumento considerável da receita da empresa (a partir de novos contratos) e a gestão mais austera – com a redução de custos logísticos por meio de aumento de produtividade – também contribuíram para os números da empresa mesmo em um ano difícil.
No acumulado de 2021, o lucro líquido alcançou R$ 272,6 milhões, montante quase sete vezes maior ante o ano de 2020. No recorte do quarto trimestre, o lucro chegou a R$ 54,3 milhões, avanço de 78,4% no comparativo com o mesmo intervalo do ano anterior. “Foi muito melhor do que qualquer outro, mesmo quando a gente compara 2019, que não teve o efeito na pandemia”, diz.
O CEO da JSL também enfatizou que a companhia fechou 2021 com R$ 4,1 bilhões em novas receitas contratadas, com prazo médio de execução dos projetos de 42 meses. “Isso significa crescimento garantido pelos próximos anos, isso faz a gente acreditar, além de 2021 ter sido muito bom, em uma projeção para os anos seguintes também muito boa”.
Da quantia total, 75% são por meio de cross-seeling (vendas cruzadas), ou seja, novos negócios com clientes já atendidos pela JSL. “Ninguém quer estar 3 ou 4 vezes em em uma mesa de negociação, mas mesmo assim, pela atuação e a maturidade como a gente tratou (os repasses), tivemos uma abertura para novos contratos bastante expressiva com os nossos próprios clientes. Acreditamos que a nossa relação tem que ser de longo prazo”, enfatizou.
Segundo a companhia, entre os setores que mais contribuíram com as novas receitas estão os de papel e celulose (30%), alimentos e bebidas (26%) e siderurgia e mineração (12%).
Ao mencionar como a pandemia afetou positivamente alguns setores, Alcaraz explicou que o segmento automotivo foi o mais vulnerável. “No ano de 2021, a indústria automobilística como um todo teve uma demanda boa, mas o problema foi de produção, com a falta de insumo, mas o segmento está se peparando para ter um ano de 2022 muito bom, pode ser que seja um dos que vai ter resultado positivo em 2022”, reiterou o executivo.
Mais números da JSL
Em relatório de resultados, a JSL informou que ao levar em conta os números combinados das cinco aquisições feitas entre 2021 e 2022, o lucro em 2021 seria de R$ 296 milhões, mas com o impacto negativo em razão do valor da amortização da alocação do preço das aquisições, o valor ajustado é de R$ 224 milhões.
A receita líquida de serviços atingiu R$ 1,3 bilhão no quarto trimestre, alta de 66% ante o quarto trimestre de 2020. No ano, o montante chegou a R$ 4,212 bilhões, alta de 58,6% ante o ano de 2021. Em relatório, a companhia disse que a receita foi reforçada pelo crescimento orgânico da JSL e pela consolidação total das aquisições realizadas em 2021.
“Ao combinar os números UDM das aquisições realizadas, chegamos a R$ 4,6 bilhões. Esse valor supera em 54% os números inicialmente projetados no processo de IPO (oferta inicial de ações) da JSL em setembro de 2020″, disse a empresa em relatório.
No quarto trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla inglês) foi de R$ 220 milhões, 82% maior que o do quarto trimestre de 2020. Em 12 meses somou R$ 758 milhões, alta de 76% ante o ano de 2021.
A dívida líquida da companhia avançou 13,7% no quarto trimestre ante o terceiro trimestre, de R$ 2,349 bilhões, para R$ 2,672 bilhões. “A dívida liquida cresceu R$ 300 milhões só que, basicamente, o capex líquido (investimento) foi do mesmo valor. Geramos caixa suficiente para comprar o capex, pagar as aquisições e mesmo assim mantemos a dívida liquida crescendo só R$ 300 milhões”, disse Guilherme Sampaio, CFO da JSL, em entrevista ao Investnews.
Além da expansão e renovação da frota, a empresa detalhou que o capex é direcionado à expansão do parque tecnológico. “Estes investimentos geram benefícios como maior visibilidade de cargas, redução de custos logísticos por meio de aumento de produtividade da companhia e dos nossos clientes e visam, cada vez mais, um atendimento diferenciado”, escreveu a empresa em relatório.