Desde que perdeu o patamar de US$ 100 mil em 2 de fevereiro, o bitcoin (BTC) não conseguiu mais retomar esse nível, e faz pelo menos um mês, que a maior criptomoeda do mundo opera em torno de US$ 85 mil, com poucas variações para cima ou para baixo.

Os investidores tinham se animado em novembro com a eleição de Donald Trump, levando o bitcoin à máxima sua histórica – US$ 109 mil, no final de janeiro. O republicano fez sua campanha apoiado no setor cripto, prometendo uma regulação favorável e medidas que ajudassem o setor. Mas até agora nada realmente palpável foi feito.

“É necessário ter efetivamente uma clareza regulatória nos EUA. O Trump assumiu há dois meses, montou um comitê de cripto, fez diversos anúncios, mas ainda é tudo promessa […] Ainda estamos com o mesmo cenário de cripto que a gente tinha no mandato do Biden”, afirma Rony Szuster, head da área de Research do Mercado Bitcoin.

Para piorar, Trump não só ainda não efetivou nenhuma proposta positiva para cripto, como elevou o nível de incerteza no mundo todo com medidas como demissões em massa no setor público e tarifas contra diversos países, iniciando uma guerra comercial.

“O governo Trump trouxe muitos ruídos nos últimos meses, o que deixa os investidores cautelosos”, explica Beto Fernandes, analista da Foxbit.

No início desta semana, o bitcoin chegou a superar o patamar de US$ 88 mil após notícias de que as próximas tarifas anunciadas por Trump, previstas para dia 2 de abril, serão mais direcionadas a alguns setores e países, de forma mais branda do que era previsto. Mas isso não foi suficiente para fazer com que o mercado cripto realmente ganhasse força.

“Essa notícia ainda não resolve todas as dificuldades que o mercado enfrenta no equilíbrio entre risco e macroeconomia”, avalia Fernandes, citando a necessidade de mudança mais sustentável na economia americana.

Economia no radar

Não é de hoje que o mercado cripto tem tido uma ligação mais forte com a chamada economia tradicional, em especial dos EUA. Então se o cenário é negativo em relação a juros, inflação e outros indicadores, o bitcoin e seus pares tendem a cair – e o contrário também é válido.

E o início do governo Trump elevou as preocupações sobre uma possível recessão nos EUA, em um cenário em que a inflação segue alta e sem sinais claros de controle. Tudo isso faz com que investidores busquem ativos considerados mais seguros, ou seja, renda fixa, como títulos do Tesouro americano. Isso faz com que ativos mais arriscados, como ações e criptomoedas, caiam.

Como destaca Ana de Mattos, analista técnica parceira da Ripio, “os dados macroeconômicos podem trazer volatilidade para as criptomoedas”. Na sexta-feira (28) será divulgado o dado de inflação do PCE nos EUA, aquele que o Federal Reserve usa para definir a trajetória de juros no país.

“Se a inflação vier acima das expectativas, o Fed pode optar por manter ou até aumentar as taxas de juros, o que reduziria a atratividade dos ativos de risco como o bitcoin, favorecendo a migração para ativos de renda fixa. Em contrapartida, um ambiente de juros mais baixos pode incentivar a busca por ativos alternativos, impulsionando a demanda por criptomoedas”, afirma Ana.

Fernandes reforça que o “gatilho” que pode levar o bitcoin a subir é o corte de juros pelo Fed. Porém, o cenário ainda é muito incerto e a próxima reunião do BC americano ocorre apenas em maio – na semana passada o Fed manteve as taxas e projetou duas reduções em 2025 – e até lá seria necessário ver uma queda mais sustentável da inflação para que o mercado se anime.

“Apesar da alta recente do bitcoin, o mercado ainda está meio parado porque falta o principal: apetite por risco”, avalia Isac Honorato, CEO e fundador do Cointimes. Segundo ele, os investidores institucionais, que são os que fazem as grandes movimentações do mercado, ainda estão cautelosos.

“Enquanto o cenário continuar incerto, o dinheiro vai ficar mais nos ativos considerados seguros. Para vermos o mercado cripto se mexendo de verdade, precisa voltar o otimismo. Com juros mais baixos e uma perspectiva melhor para a economia, aí sim os grandes players voltam a tomar risco — e o mercado reage com mais força”, conclui.