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Finanças

Não controlar contas parceladas aumenta o risco de inadimplência, dizem especialistas

Falta de educação financeira desde cedo e crédito fácil pioram o cenário.

O descontrole com parcelamentos é um dos principais causadores de desorganização financeira. Entre os brasileiros, 47% dos consumidores afirmam ter esse comportamento, de acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Sebrae. Segundo especialistas, essa falta de controle das contas parceladas aumenta o risco de inadimplência.

Jaiana Cruz, planejadora financeira CFP® e sócia da AVG Capital, menciona que, quando as pessoas utilizam algum mecanismo de pagamento parcelado, “elas ficam com uma falsa impressão de que gastaram pouco dinheiro e que está tudo bem gastar mais um pouco em outras compras já que ‘a parcela cabe no bolso'”.

“A probabilidade de essas pessoas se tornarem inadimplentes é muito alta. Se continuarem nesse ritmo, mais cedo ou mais tarde, elas verão seu dinheiro indo embora na forma de juros e multas por endividamento.”

Jaiana Cruz, planejadora financeira CFP® e sócia da AVG Capital.

Andressa Costa, educadora financeira, diz que a raiz do problema é que a maioria dos brasileiros não faz nenhum tipo de controle e nem de planejamento, o que naturalmente leva ao endividamento.

“O que as pessoas precisam compreender é que o orçamento doméstico é um plano financeiro a ser seguido. Ele deve ser traçado e monitorado de perto, para ver se tudo está saindo como planejado ou se é necessário recalcular as rotas.”

Andressa Costa, educadora financeira.

Em linha com o que disseram as especialistas, a pesquisa constatou que 32% dos entrevistados ficaram inadimplentes nos últimos 12 meses por causa de compras parceladas, sendo que 17% citaram o cartão de crédito como a principal dívida não paga.

Na avaliação dos consumidores, os motivos que mais dificultam o pagamento de compras parceladas são: a queda da renda (16%); o desemprego (15%); e manter um mínimo para o próprio sustento (13%). 

A taxa de inadimplência em recursos livres aumentou para 4,2% em outubro, de 4,1% no mês anterior. Esse é o percentual mais elevado desde agosto de 2018, quando foi de 4,22%, de acordo com o Banco Central. Esses números vêm em meio ao alto custo dos empréstimos após o agressivo ciclo de aperto monetário.

“Contratar um crédito é assumir um compromisso… Se não houver disciplina, é fácil perder a noção do quanto foi gasto e ultrapassar os limites do orçamento. O controle financeiro é fundamental para evitar esse tipo de problema”, orienta o presidente da CNDL, José César da Costa. 

A culpa é do crédito fácil?

Crédito: Adobe Stock.

Para as especialistas, a falta de educação financeira é, na maior parte das vezes, o principal elemento que leva à inadimplência. Desse modo, o crédito fácil é simplesmente mais um dos recursos que facilitam o endividamento.

“Infelizmente, no Brasil, a cultura da educação financeira ainda é muito fraca e, nesse cenário, se as pessoas têm facilidade de acesso ao crédito, possivelmente elas também terão facilidade de se endividar.”

Jaiana Cruz, planejadora financeira CFP® e sócia da AVG Capital.

Por outro lado, Costa, educadora financeira, diz que também é preciso ter autorresponsabilidade com o dinheiro.

“É preciso entender que é de responsabilidade individual cuidar do próprio dinheiro. Se você ainda não é bom nisso, não abuse do crédito, é uma equação simples. Além disso, hoje há muito conteúdo gratuito na internet sobre o tema. Basta querer buscar.”

Andressa Costa, educadora financeira.

Por último, ela reforça que para resolver esse problema que assola todo o país seria preciso incluir de alguma maneira a disciplina de educação financeira nas escolas e até mesmo nas empresas.

“Precisamos de educação financeira nas escolas e nas empresas, para crianças e adultos. Essa educação para o bom uso do dinheiro é o que vai transformar essa realidade do nosso país.”

andressa Costa, educadora financeira.

Não diferente dos apontamentos das especialistas, a pesquisa revelou que, com limites de cartão de crédito muito acima da renda, cheques especiais e empréstimos pré-aprovados, 62% dos consumidores disseram que cederam à tentação e levaram para casa algum item não planejado no mês anterior ao levantamento.

A pesquisa ainda mostrou que os itens mais comprados nas condições de fácil acesso ao crédito foram: roupas, calçados e acessórios (26%); seguidos de compras de supermercado (23%); itens de farmácia (20%); perfumes e cosméticos (18%); ida a bares e restaurantes (13%); e eletrônicos (11%). 

Qual é a melhor maneira de usar o cartão de crédito?

Para Costa, educadora financeira, o cartão de crédito é um ótimo aliado se usado com sabedoria. Ela diz que o ideal é escolher esse recurso com base no próprio perfil e a possibilidade de consumo.

A especialista ainda acrescenta que é interessante buscar por um cartão de crédito que gere vantagens através de clubes de benefícios e sistemas de pontuação. “Dessa forma, usa-se o cartão de crédito para compras e gastos que já fazem parte do dia a dia ganha-se vantagens e até mesmo retorno financeiro”, menciona.

Para Cruz, da AVG Capital o segredo para fazer do cartão de crédito um forte aliado no orçamento é entender desde sempre que aquele limite aprovado não é um adicional na renda.

“O cartão de crédito não é um ‘dinheiro a mais’. Ele é apenas um substituto para o dinheiro que você já possui. Ou seja, você só pode gastar no cartão de crédito o valor correspondente ao dinheiro que você já tem garantido hoje para quitar a fatura no vencimento daqui 30 ou 40 dias.” 

Jaiana Cruz, planejadora financeira CFP® e sócia da AVG Capital.

Ela pontua que “o problema é que a maioria das pessoas se programa para pagar a fatura com o dinheiro que ainda vai entrar no mês seguinte e acaba gastando hoje o dinheiro que possui agora na conta”.

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