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Finanças

O que são NFTS e como os investidores estão ganhando dinheiro com isso

Com abreviatura semelhante a um papel do Tesouro Direto, esta nova forma de investir no mundo digital está ganhando cada vez mais adeptos.

Marcello Casal Jr
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Já pensou em comprar memes, uma coluna do “The New York Times” ou até obras de artistas que existem apenas no mundo digital? Situações do tipo já são possíveis por meio de NFTs (do inglês “Non-Fungible Token”), uma espécie de ativo digital possibilitado pela tecnologia blockchain e que vem atraindo um número crescente de investidores e curiosos. É tendência? Um novo jeito de fazer negócio?

MAIS: É possível encarar uma obra de arte só como investimento?

Segundo Arthur Igreja, especialista em inovação e negócios, estamos apenas no começo de uma era que vai mudar a forma como enxergamos a propriedade intelectual e a exclusividade no mundo digital.

Com as pessoas passando entre 8h até 12 horas por dia na Internet, Igreja aponta que é natural que surja o desejo de colecionar itens também no mundo digital. “Estamos apenas no começo de uma tendência que vai impactar o mundo de filmes, peças, animações e até inventário musical”, afirma.

Mas o que é o token não fungível, mais conhecido como NFT? Como ele impacta na nossa economia? O InvestNews preparou um tira-dúvidas para você não ficar de fora desta nova tendência. Confira:

O que é um NFT?

Para entender o conceito de NTF, primeiro precisamos dar um passo atrás e entender o que é um token.

Segundo Igreja, um token é um registro digital, uma espécie de contrato ou chave que atesta que você tem posse de algum item. É um comprovante da propriedade intelectual que permite a qualquer momento provar que você é dono de algum bem.

E como isso funciona na vida real? No mundo físico sempre existiu uma diferença entre itens fungíveis e não fungíveis.

Um item fungível é aquele que não é único e pode ser trocado a qualquer momento. Um bom exemplo é o dinheiro em espécie.

Não importa se você tem uma cédula de R$ 100 ou R$ 200, o que importa é o valor dela. Como é um item fungível e não exclusivo, a qualquer momento você pode fazer a troca desta cédula com facilidade por outra do mesmo valor, lembra Igreja.

Já o item não fungível é exclusivo e não pode ser substituído. No mundo físico, também existem alguns exemplos, como uma camiseta autografada por um jogador famoso, um quadro original de Pablo Picasso ou uma coleção de cards de basebol.

“Suponhamos que você tenha um disco de vinil original, que faz parte de uma coleção. Este item tem um número de série, então não existem 2 discos iguais no mundo”, exemplifica Igreja.

Este disco seria um item não fungível. E a qualquer momento, pela caraterística de exclusividade, o dono pode colocar um preço nele.

Mas como isso funciona no mundo digital? A diferença é que estes itens não tangíveis podem existir apenas na internet e também podem ser únicos. Ou seja, mesmo que existam várias cópias, elas nunca serão a original.

Igreja explica que as pessoas começaram a cadastrar itens exclusivos em uma rede blockchain chamada Ethereum e a vender tokens específicos por lá. Desta forma, quem adquirir a peça, se torna proprietário deste “bem digital”.

Por exemplo, recentemente, o presidente do Twitter, Jack Dorsey, vendeu seu primeiro tuíte por pouco mais de US$ 2,9 milhões como NFT. A mensagem “just setting up my twttr”, foi a primeiro publicada por Dorsey na rede social, em 21 de março de 2006.

Isso sempre existiu?

Bruno Diniz, head da FDATA na América do Sul e especialista em inovação no mercado financeiro, explica que nos NFTs surgiram há alguns anos, em meados de 2012, mas só viraram uma febre agora pela atenção que o mundo começou a dar a este tipo de negócio. “Foi uma evolução da forma de pensar e olhar para algo na internet. As pessoas começaram a pagar pela propriedade”, comenta.

Segundo Diniz, em 2017, já existiam os CryptoKitties na rede Ethereum, que eram imagens de gatinhos virtuais colecionáveis. Os mais famosos são vendidos por mais de US$ 100 mil.

Foto: Twitter/CryptoKitties

Outra febre foram os Cryptopunks, lançados em junho de 2017, que eram imagens de 24 x 24 pixels criadas por um algoritmo.

Foram criados 10 mil Cryptopunks colecionáveis, alguns eram imagens de humanos, aliens, primatas e zumbis. Todos foram comprados e agora são negociados apenas no mercado secundário.

Alguns Cryptopunks chegaram a valer milhões de dólares.

Foto: Reprodução Cryptopunks

Mas foi há algumas semanas que o conceito de NFT explodiu, graças ao artista digital Mike Winkelmann, conhecido como Beeple.

Ele criava uma arte digital por dia e decidiu juntar as imagens dos 5 mil primeiros dias em uma única obra a qual denominou “Everydays: The First 5000 Days”

Apesar de ser digital, esta obra chamou a atenção de uma tradicional casa de leilões britânica, a Christie’s. A obra digital de Beeple foi leiloada por US$ 69,3 milhões e se tornou a terceira mais cara de qualquer artista vivo.

Foto: Reprodução

Apesar de não existir uma versão física da obra de Beeple e a possibilidade de encontrar esta imagem circulando na internet, Diniz compara esta situação ao mercado de obras tradicionais. Por exemplo, o conhecido quadro da Mona Lisa ou Gioconda de Leonardo da Vinci.

O quadro original está em exibição permanente no Museu de Louvre, em Paris, mas é possível que as pessoas tenham uma réplica pendurada na parede da sua casa. Ou até mesmo ver a imagem na internet. Mas o que diferencia o quadro real dos outros é a originalidade.

Isso também acontece com outras obras. “Muitas pessoas que compram obras originais têm a obra estocada em algum cofre e exibem nas suas casas apenas replicas”, explica Diniz.

No caso da obra de Beeple, a titularidade é de quem a comprou por US$ 69,3 milhões. E o que circula na internet são as ‘replicas’.

Segundo Diniz, a cultura do NFT ainda está muito incipiente no futuro e é possível que surjam mudanças para regular esse universo digital. “Talvez quem reproduz a imagem passe a pagar royalties ao detentor”, comenta.

Para Arthur Igreja, a lógica de comprar um ativo desses, por exemplo um meme que circula na internet, nem sempre é a exclusividade e sim a popularidade. “Quanto mais popular o meme, mais vale o NFT”, exemplifica.

A mesma lógica pode ser aplicada ao quadro da Monalisa, de Leonardo Da Vinci. “Existem mais de 7 bilhões de fotos na internet, sim, mas são reproduções. E quanto mais famosa ela for, mais ela acrescenta valor ao ativo original”, acrescenta.

Dá para comprar qualquer coisa em NFT?

Com a tendência do NFT, estão surgindo alguns ativos interessantes na internet, alguns curiosos e outros bizarros.

Além da arte de Beeple e o primeiro tuite de Jack Dorsey, vendido por US$ 2,9 milhões, veja outros NFTs:

  • O Nyan cat: um dos Gifts mais icônicos da internet, o gatinho que deixa rastro de arco-íris, foi vendido por US$ 580 mil.
  • A coleção de Grimes: artista e esposa de Elon Musk, ela conseguiu US$ 5,8 milhões com a venda de NFTs de suas artes.
  • Retrato de Lindsay Lohan: a atriz vendeu alguns retratos digitais fazendo alusão a alguns filmes. Um deles foi o retrato Lightning, vendido por US$ 50 mil.
  • Coluna do “The New York Times“: O jornal transformou uma de suas colunas de tecnologia em NFT. O comprador terá seu nome, afiliação e uma imagem de sua escolha publicada no próximo artigo. Os lances já superaram os USS$ 40 mil. Os lucros serão doados para um fundo de causas sociais
  • Áudios de “pum“: O cineasta Alex Ramires e um grupo de amigos trocaram áudios de flatulência em um grupo de Whatsapp, o compilado de 52 minutos foi vendido por US$ 85.
  • Lance de LeBron James: A NBA começou a vender os melhores momentos dos jogos em NFT. Recentemente, um lance de LeBron James foi vendido por US$ 200 mil.

Estes são alguns dos inúmeros NFTs que hoje circulam na internet. Embora sejam cifras elevadas, Diniz esclarece que também é possível encontrar NFTs mais baratos, em torno de US$ 100 ou US$ 200. “Conforme este movimento vai se popularizando entre artistas e músicos, os preços devem abaixar”, afirma.

Ele explica que para criar um NFTs existe também um custo, em torno de US$ 50 para os artistas registrarem a obra ou bem na blockchain.

Como isso impacta a nova economia?

Apesar de ser um mercado bem novo, os especialistas consultados pela reportagem esclarecem que não dá para ignorar a tendência. Segundo Arthur Igreja, estamos presenciando o surgimento de um mercado de itens exclusivos, ligados à vaidade mas também à era da digitalização da economia. “Artistas e atletas promissores, derivativos de produção intelectual ou esportiva, tudo isso será incluído neste novo uso da blockchain”, aponta.

Entre as três transformações mais relevantes os especialistas destacam:

  • Novas formas de gerar renda: a partir do sucesso de Beeple, alguns artistas começaram a vender suas artes digitais via NFT. A alternativa abre um caminho para ativos intelectuais e artistas, que antes eram muito desvalorizados. O mercado da música, da arte, da fotografia e do desenho pode ganhar notoriedade.
  • Investir na valorização de um bem ou pessoa: recentemente, a tenista profissional Oleksandra Oliynykova colocou em leilão uma parte do seu braço para que o dono coloque uma tatuagem visível. Segundo ela, quanto mais fama ela ganha, se uma marca ficar tatuada no seu braço, será mais vezes exibida na televisão ou campeonatos. Até o momento o valor é de US$ 5.660,82
  • Ganhar dinheiro com revenda: esperar a valorização de um NFT para lucrar com a venda deste ativo. O colecionador de Miami revendeu um vídeo do Beeple de dez segundos e faturou US$ 6 milhões, quando ele comprou a peça o custo foi de apenas US$ 60 mil.

Mesmo parecendo um negócio lucrativo, Diniz aconselha aos interessados no mundo no NFT que estudem e conheçam primeiro o mercado e possíveis alternativas de vender ativos. “Lembre que é um investimento alternativo e que a percepção do que é valioso entre o intangível muda para cada pessoa”, aponta.

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