Depois de um outubro vermelho, os principais índices de ações listados na B3 (Ibovespa, IDIV, BDRx e Small Caps) mudaram de direção e aderiram ao “Novembro Azul”, em alusão alusão à campanha de conscientização de saúde que marca o mês. E esse rali acionário, puxado por uma retomada do apetite por risco, não foi uma exclusividade brasileira.
Em novembro, o movimento local foi conduzido pela volta por cima das bolsas internacionais, em especial em Nova York, onde os principais índices do mercado registraram os maiores ganhos mensais do ano.
Aliás, neste último pregão de novembro (30), o Dow Jones alcançou a máxima de 2023 durante a sessão, fechando o mês com valorização de 8,8%, no maior ganho mensal desde outubro de 2022. Já o S&P 500 teve alta de 8,9% em novembro, enquanto o Nasdaq subiu pouco mais de 10%.
Esses dois últimos tiveram o melhor desempenho mensal desde julho do ano passado. O comportamento do outro lado do Atlântico Norte não foi muito diferente. O índice pan-europeu Stoxx 600, que abrange as principais ações europeias, fechou no maior nível desde agosto e na melhor performance no mês desde janeiro.
Por sua vez, o Ibovespa cravou a maior valorização mensal em exatos três anos. Ou seja, a alta de 12,5% acumulada em novembro é a maior de 2023 e, desde novembro de 2020, quando avançou 15,9%, na ocasião, recuperando-se do impacto da pandemia nos mercados globais meses antes.
Segundo o consultor independente Einar Rivero, desde 2000, em 13 oportunidades o Ibovespa teve rentabilidade positiva em novembro, enquanto em 11 ocasiões registrou variação negativa, sendo que o pior novembro ocorreu em 2000 (-10,63%), seguido por 2016 (-4,65%) e 2010 (-4,20%), completando as três maiores quedas.
Além disso, foi a primeira vez que o principal índice acionário da bolsa brasileira subiu mais de dois dígitos em um único mês neste ano. Junho deste foi o que passou mais perto disso, com ganhos de 9%. De lá para cá, os tombos foram maiores que as subidas.
Isso porque, entre agosto e outubro, houve uma debandada dos investidores estrangeiros das ações brasileiras, encolhendo os ganhos do Ibovespa no ano até o mês passado para apenas 3%. Já neste mês, que ainda nem acabou, os gringos ingressaram com mais de R$ 18 bilhões na renda variável nacional.
Os dados mais recentes, que se referem ao encerramento da semana passada, mostram uma sequência de 12 dias seguidos de entrada de recursos. Esses aportes externos elevaram o superávit dessa conta no ano para quase R$ 25 bilhões.
Da aversão ao apetite
Não é por acaso, então, que boa parte da alta acumulada pelo Ibovespa em 2023, que ultrapassa 15%, representa apenas os números de novembro, que içou o índice acionário ao maior patamar desde meados de 2021. Afinal, o que aconteceu no mês para uma guinada tão brusca dos ativos de risco, engatando uma recuperação global?
“No mês de novembro, tivemos melhores condições globais” –
Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital.
Segundo Duarte, o destaque ficou com os Estados Unidos, onde se viu dados econômicos melhores do que o esperado durante todo o mês, tanto de inflação quanto de emprego. “Isso acabou mudando um pouco o tom de alguns membros do Federal Reserve, o que também contribuiu para a queda da taxa de juros de longo prazo nos EUA”, explica.
Vale lembrar que em agosto o rendimento (yield) do título americano de 10 anos (T-note) iniciou uma disparada, atingindo os maiores níveis desde antes da crise de 2008, o que provocou uma aversão por risco generalizada. Como resultado, o bônus de referência global chegou a testar a marca simbólica de 5% em outubro.
Depois, porém, esse movimento arrefeceu, com o papel de 10 anos voltando aos menores níveis em dois meses. Isso porque o mercado de títulos nos EUA (Treasuries) começou a apostar em cortes nos juros pelo Fed já para o início do ano que vem.
“E isso trouxe um apetite a risco muito maior em escala global. Em Wall Street, houve melhora e, consequentemente, isso vem para países emergentes também”, emenda o head da mesa de renda variável da AVG Capital.
Ele acrescenta que, apesar da questão fiscal ainda trazer certa cautela, o cenário no Brasil também joga a favor, em meio à queda da taxa Selic, mesmo que paulatinamente.
Correlação suspeita
Portanto, nos últimos quatro meses, foi o salto das Treasuries que pesou sobre as ações globais, ao passo que o alívio visto neste mês impulsionou as bolsas pelo mundo. A dúvida, então, é se essa correlação entre os bônus dos EUA e os índices acionários veio para ficar – ou ao menos até o fim do ano, garantindo um presente de Natal aos investidores.
Para Duarte, a resposta é sim. “Em princípio, esse rali pode continuar também em dezembro porque os elementos positivos podem continuar atraindo fluxo”, explica. Ou seja, o apetite por ativos mais arriscados tende a ter continuidade desde que sejam mantidas as condições macroeconômicas atuais, tanto aqui quanto lá fora.
Aliás, o bitcoin (BTC) aparece como a melhor aplicação em novembro, atrás apenas de índices de ações. Ainda assim, a alta de 9,00% da criptomoeda superou a do BDRx, composto por recibos de ações de empresas estrangeiras (+6,46%). Na lanterna, ficou o ouro, com queda de 2,85%, seguido pelo dólar (-2,41%), considerando-se a cotação do Banco Central (Ptax).
Porém, a própria animação do mercado devido à queda nos rendimentos de longo prazo nos EUA pode ter um efeito perverso. Afinal, quanto menor a remuneração para se manter dinheiro parado no ativo considerado o mais isento de risco no mundo, mais recursos ficam disponíveis na economia, estimulando o consumo e, de quebra, a inflação.
Em outras palavras, maior pode ser a necessidade do Fed fazer aquilo que hesita, mas não descarta: subir os juros dos EUA novamente. Isso porque com taxas de juros mais baixas no mercado de bônus, fica cada vez mais improvável o custo de vida do cidadão americano esfriar o necessário para o Fed começar a cortar os juros – ou mesmo parar de subir.
“Reduzir os rendimentos dos bônus em antecipação ao fim do ciclo de aperto pelo Fed é uma estratégia autodestrutiva”
Michael Every, estrategista global do Rabobank, em relatório.
Para o especialista, o Fed não está apenas dependente dos dados econômicos, mas também do mercado. “Ou seja, se os rendimentos dos títulos dos EUA subirem, o Fed não terá de subir os juros. Mas se os yields caírem na visão de que o Fed não irá apertar mais; então, ironicamente, terá de fazê-lo”, explica Every, do Rabobank.
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