Morgan Housel, autor do best seller “A Psicologia Financeira”, publicou antes de acabar 2023 o seu segundo livro, “Same As Ever: Timeless Lesson on Wealth, Greed and Happiness”, em tradução livre, “O Mesmo de Sempre – Um guia para o que não muda nunca”.
A obra carrega o mesmo estilo da anterior, que alcançou mais de 4 milhões de cópias em todo o mundo: capítulos curtos, parágrafos, frases e ênfase na narrativa para revelar insights profundos sobre tópicos muito amplos.
A tese de Morgan é de que as decisões financeiras são menos orientadas por dados e planilhas derivadas da matemática do que por características e comportamentos humanos subjetivos, como ego, medo, ganância ou inveja.
Por isso, muito do que acontece é perfeitamente previsível: o mesmo de sempre – título da obra.
O seu novo livro tenta desenvolver esta tese sugerindo que é melhor fazer previsões com base no comportamento das pessoas, em vez de tentar antecipar os acontecimentos.
Housel aponta que os comportamentos mais poderosos são aqueles que nunca mudam e fornecem indicadores para o futuro. O livro ilustra com exemplos como Jeff Bezos, o fundador da Amazon, conseguiu concentrar nas exigências dos clientes que permanecem mesmo quando a tecnologia e os hábitos de compra mudam: preços baixos e envios mais rápidos.
Mais subjetividade, menos números
Housel diz que fatores subjetivos, e não números, são fundamentais para a compreensão de muitos eventos significativos, desde a Grande Depressão da década de 1930 e a pandemia de covid-19, passando pela bolha tecnológica e pela crise financeira global.
Em 24 capítulos, o autor percorre uma série de exemplos extraídos da história, da ciência e das finanças para compartilhar uma série de conclusões. Entre elas que as pessoas são muito boas em prever o futuro, exceto as surpresas – que tendem a ser tudo o que importa.
O autor também se debruça sobre a sabedoria de grandes nomes, como o estatístico Nassim Taleb e o sócio de Warren Buffett, Charlie Munger, que faleceu recentemente. Segundo o braço direito do fundador da Berkshire Hathaway, não é a ganância, mas a inveja que faz o mundo girar.
Morgan ilustra isso com a pergunta do porquê as pessoas são tão nostálgicas em relação ao passado, já que ele talvez não tenha sido melhor que o presente.
Presente e passado
Um exemplo dado é a década de 1950. As taxas de mortalidade eram muito mais altas, assim como as famílias de hoje também são mais ricas do que as gerações anteriores. Para isso, Housel observa a renda familiar americana média ajustada pela inflação.
“Os salários médios por hora ajustados à inflação são quase 50% mais elevados hoje do que em 1955”, observou Housel. “E a renda mais alta não se deveu ao trabalho mais horas, nem inteiramente ao fato de as mulheres ingressarem no mercado de trabalho em maior número.” Foi devido a ganhos de produtividade, acrescenta na obra.
Então, por que as pessoas estão tão nostálgicas em relação à décadas passadas? Segundo Housel, tudo se resume à inveja e ao desejo humano de comparar seu desempenho com o de todos os outros.
O autor vai um pouco mais a fundo ao demonstrar que a inveja é um elemento-chave, e que a nostalgia “é um dos melhores exemplos do que acontece quando as expectativas crescem mais rapidamente do que as circunstâncias”.
Sobre isso, Housel observa que riqueza e felicidade são uma equação de duas partes: o que você tem e o que você espera ou precisa.
“Quando você percebe que cada parte é igualmente importante, você percebe que a atenção esmagadora que prestamos para obter mais e a atenção insignificante que dedicamos ao gerenciamento de expectativas fazem pouco sentido, especialmente porque o lado das expectativas pode estar muito mais sob seu controle”.
E para se aprofundar mais quanto ao gerenciamento de expectativas, o autor mais uma vez cita Charles Munger.
“Quando perguntado: ‘Você parece extremamente feliz e contente. Qual é o seu segredo para viver uma vida feliz?’ Charlie Munger respondeu: A primeira regra para uma vida feliz são baixas expectativas. Se você tem expectativas irrealistas, será infeliz por toda a vida”.
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