A Petrobras adicionou óleo no chope dos investidores nesta sexta-feira (8). A decisão da estatal petrolífera de não pagar dividendos extraordinários referente ao quarto trimestre de 2023 causa indigestão. Esse desconforto se reflete nas ações preferenciais (PN; PETR4), que derretem mais de 10% na B3, liderando com folga as maiores quedas do Ibovespa.
- Cotação Ibovespa
- Cotação Petrobras PN
A notícia foi acompanhada do anúncio do balanço da Petrobras no período. A queda de 28,4% no lucro líquido entre outubro e dezembro de 2023, a R$ 31 bilhões, não foi o único banho de água fria nos investidores. Conforme sinalizado pelo presidente da estatal, Jean Paul Prates, não haverá o pagamento de proventos adicionais aos acionistas minoritários.
Mas isso não significa que a Petrobras não irá distribuir dividendos algum referente ao período. Segundo a companhia, será feito o pagamento ordinário de R$ 1,098 por ação, totalizando R$ 14,2 bilhões. O valor eleva a R$ 98,1 bilhões o total de dividendos referentes ao exercício de 2023.
Ainda assim, o volume de dividendos distribuídos pela Petrobras aos seus acionistas referentes ao ano passado será cerca de 50% inferior ao do ano de 2022, conforme a Elos Ayta Consultoria. Ou seja, daria para comprar a Eletrobras, observa o consultor Einar Rivero, responsável pelo levantamento.
“O volume de dividendos desembolsados em 2023, de R$ 98,1 bilhões, seria suficiente para adquirir praticamente todas as ações da 11ª maior empresa de capital aberto brasileira, a Eletrobras, atualmente avaliada em R$ 98,9 bilhões”
Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria
Ele lembra que, nos últimos três anos, a estatal distribuiu “dividendos gordos”. Só em 2022, desembolsou R$ 194,6 bilhões em dividendos, sendo a maior pagadora no eixo América Latina-EUA. Além disso, Rivero destaca que o lucro da Petrobras no acumulado de 2023, de R$ 124,6 bilhões, é o segundo maior já registrado desde 2010, em termos nominais.
Frustração generalizada
Daí porque os investidores não têm motivos para “sextar”. Ainda mais após os números robustos sobre a produção da petrolífera no quarto trimestre do ano passado, o que alimentou esperanças de retorno robusto. A companhia, porém, decidiu sacrificar os acionistas, em prol do aumento dos investimentos em transição energética.
“A opção do Conselho de Administração por reter todo o potencial de dividendos extraordinários se traduz em grande decepção”
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, em relatório
Para ele, apesar de ainda haver uma “decente distribuição” de proventos, a decisão de não pagar dividendos extraordinários desloca o foco sobre as intenções da Petrobras de se debruçar na alocação de capital. O analista não previa a retenção integral da reserva estatutária de R$ 43,9 bilhões, gerando uma distribuição adicional de R$ 26 bilhões aos acionistas.
Ou seja, o mercado esperava que fossem distribuídos R$ 2,67 por ação por causa dos dividendos extraordinários, explica o analista da Guide Investimentos, Matheus Haag, em comentário. “Contudo, esse fato não se concretizou”, emenda, acrescentando que a empresa aprovou dividendos seguindo o mínimo estabelecido na política de remuneração.
“Cadê o dividendo que estava aqui?”, indaga, em relatório, o analista da Genial Investimentos, Vitor Sousa. Para ele, o valor anunciado está “muito aquém” do que poderia ser, tendo em vista a forte geração de caixa da empresa. Antes de impostos, o Ebitda da Petrobras foi de R$ 39,8 bilhões, mas a distribuição ficou limitada a 45% do caixa livre.
“Essa decisão fará com que os investidores repensem sua visão sobre os riscos da Petrobras”
André Vidal e Helena Kelm, analistas de óleo e gás da XP Inc.
Segundo os analistas, a tese de investimentos na Petrobras agora tem grandes incertezas. Um deles é avaliar a probabilidade de grandes movimentos de aquisição no curto prazo, conforme rumores de a empresa recomprar ativos previamente vendidos, como refinarias e a Vibra. Se for isso, as ações da companhia podem cair ainda mais, alertam.
Desafio energético
Portanto, o mercado simplesmente não irá entender a decisão do Conselho de Administração, resume o Bradesco BBI, em relatório. Afinal, crescem as incertezas em relação à política da Petrobras, “que costumava ser bastante clara”.
Porém, não se pode dizer que a notícia é, de fato, uma novidade. Além da declaração de Prates, no mês passado, dizendo que a empresa seria mais cautelosa no pagamento de dividendos extraordinários à medida que era uma “empresa de petróleo em transição”, o plano de negócios da companhia até 2028 já colocava os altos pagamentos em xeque.
“A decisão confirma os temores de que o novo planejamento estratégico irá realizar investimentos em novas avenidas, principalmente energias renováveis, pressionando o pagamento de dividendos”
Raony Rossetti, CEO e cofundador da Melver
Assim, a distribuição de proventos aos acionistas tende a ser mais comedida, à medida que a Petrobras busca garantir sua longevidade enquanto empresa de energia, com o mundo caminhando em direção à sustentabilidade, deixando de ser dependente do petróleo, mas, sem dúvida, demanda energia para o desenvolvimento.
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