RESUMO:
- Patrimônio dos fundos brasileiros cresceu 15,27% no ano passado;
- Indústria de fundos superou o valor da Bolsa em R$ 500 bilhões;
- Juro baixo é apenas um dos motores desse crescimento;
A indústria de fundos de investimentos no país fechou 2019 no maior volume da história, com um patrimônio de R$ 5 trilhões. Esse valor equivale a um avanço de 15,27% em relação ao ano anterior, segundo a provedora de informações financeiras Economatica.
A amostra considerou todos os fundos que operaram ou ainda operam no mercado entre dezembro de 2010 e dezembro de 2019. Em dólares, o patrimônio se mantém acima de US$ 1 trilhão desde dezembro de 2016. O melhor momento dessa indústria aconteceu em julho de 2019, quando ela alcançou US$ 1,27 trilhão.
O professor de economia do Ibmec-SP, Walter Franco, aponta que o motivo mais óbvio para esse crescimento é o novo patamar de juros no Brasil, com a Selic em 4,5% ao ano. Isso porque o baixo retorno da renda fixa estimula uma migração de recursos para investimentos mais alternativos, seja do pequeno, do médio, ou do grande investidor.
No entanto, esta é apenas uma das razões que vêm turbinando os fundos no Brasil. A outra seria o próprio amadurecimento do mercado de capitais, que ganha adeptos graças ao avanço tecnológico nas corretoras e à entrada de fintechs no mercado de investimentos.
“Temos um mercado muito mais dinâmico e diversificado do que há 10 anos, o que leva o estrangeiro a enxergar oportunidades ainda inexploradas por aqui”, resume Franco, do Ibmec-SP.
Por fim, existe uma expectativa de que o país cresça acima de 2% em 2020, como prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outra projeção positiva vem das contas públicas.
Segundo o professor, caso estes dados se confirmem, o país pode voltar a ter o chamado “grau de investimento” das agências de risco, um selo de bom pagador que acaba por atrair o investidor estrangeiro. Neste cenário, os investidores já estariam se adiantando para comprar ativos menos conservadores a preços ainda baixos.
3 pontos para entender o crescimento
Veja abaixo razões que estão estimulando a indústria de fundos no país, segundo Walter Franco, do Ibmec:
- Queda da taxa Selic e procura por investimentos menos conservadores;
- Nova dinâmica e amadurecimento do mercado de capitais;
- Corrida para precificar a volta do grau de investimento;
Maior que as empresas da Bolsa
A indústria brasileira de fundos supera o valor de mercado de todas as empresas listadas na bolsa de valores brasileira, a B3. Em dezembro, elas somavam juntas R$ 4,5 trilhões. E essa distância vem crescendo ano a ano. Até agosto de 2014, os dois mercados eram muito próximos em tamanho, de acordo com a Economatica.
Os fundos que investem em renda fixa, como debêntures e títulos públicos,ainda são a esmagadora maioria: eles representavam 74,26% do total dessa indústria em dezembro. Já os fundos de renda variável (entre eles os de ações e Brazilian Depositary Receipts) representavam 10,14% desse bolo, o maior patamar desde 2013.
Ações e multimercados
A indústria de fundos de investimentos encerrou 2019 com uma captação líquida de R$ 191,6 bilhões, mais do que o dobro que no ano anterior (R$ 95,4 bilhões), segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
O melhor resultado ficou com os fundos que investem em ações. Eles tiveram o melhor resultado anual e a maior captação líquida da indústria, de R$ 86,2 bilhões. Isso corresponde a um crescimento de 195% em relação a 2018.
Os fundos multimercados tiveram o segundo melhor desempenho no último ano. A classe acumulou captação líquida de R$ 66,8 bilhões em 2019 – crescimento de 37,3% em relação a 2018. Os tipos multimercados livre e investimento no exterior foram os destaques, com entradas de R$ 30,1 bilhões e R$ 25,7 bilhões no ano, respectivamente.