Se é uma pessoa, Satoshi Nakamoto deve estar arrancando os cabelos. O bitcoin foi originalmente desenvolvido para ser uma moeda de pagamento, mas com os Ordinals e, agora, com o novo protocolo Runes ele tem se afastado cada vez mais desse propósito.
Ofuscando o brilho do tão aguardado 4º halving do bitcoin, evento quadrienal equivalente à Copa do Mundo do universo das criptomoedas, o Runes provocou fervor na comunidade — mas pelo aspecto negativo. Em pouco tempo após seu lançamento, a blockchain do bitcoin foi infestada de memecoins, congestionando a rede e fazendo com que as taxas de transação explodissem.
Elas dispararam logo após o halving do bitcoin no bloco 840 mil – e a consequente chegada dos Runes –, ultrapassando os R$ 1 mil.
Rede bitcoin se sobrecarrega após chegada do protocolo Runes, e taxa de rede dispara.
O que é o protocolo Runes
Criado por Casey Rodarmor, o mesmo idealizador do Ordinals, o protocolo Runes é uma nova adição ao ecossistema bitcoin que permite a criação de tokens na rede. Mas de um modo diferente.
Enquanto Ordinals são tokens não fungíveis (NFTs), os Runes são tokens fungíveis. A qualidade ‘fungível’ significa que um ativo pode ser intercambiável sem ter valores alterados. Por exemplo, toda nota de R$ 50 é equivalente em valor, assim como todo 1 BTC vale a 1 BTC.
Além disso, o Runes aproveita um modelo de saída de transação não gasta denominado UTXO (Unspent Transaction Output), possibilitando a criação de altcoins por meio de um processo de “gravação” diretamente na blockchain do bitcoin.
UTXO é o termo para as quantidades de criptos que sobraram após uma transação. É semelhante ao troco recebido após compra de algo em dinheiro vivo. Esse modelo é usado pelo Ethereum (ETH), por exemplo.
O novo protocolo estende o conceito UTXO através da capacidade de manter um saldo em qualquer número de tokens. Isso significa que um único Rune pode representar quantidades variáveis de vários tokens, como 10 unidades de RUNE A, 100 unidades de RUNE B e 1.000 unidades de RUNE C.
Diferentemente de outros padrões de tokens que dependem de dados off-chain ou têm uma complexidade operacional elevada, como os BRC-20, o Runes busca simplificar a criação e gestão de tokens no ecossistema do Bitcoin. Rodarmor acredita que esse modelo é assertivo e superior aos demais, pois cada ativo ‘runer’ será completamente on-chain.
Medo de ficar de fora?
Tradicionalmente, o bitcoin tem se concentrado em sua criptomoeda nativa. O Runes rompe com isso.
Para os investidores menos conservadores, a introdução do Runes abre oportunidades de exploração de um novo nicho de mercado nativo do bitcoin. Por ser projetado com base no modelo de UTXOs, espera-se que possa contribuir para a escalabilidade da rede do BTC.
Em contrapartida, os mais fidedignos à ideia inicial de Nakamoto acreditam que tanto o Ordinals como os Runes são formas de atrapalhar o bom funcionamento da rede e os reais objetivos da criação da criptomoeda.
O sucesso a curto prazo do Runes e de seus tokens está sendo analisado neste momento. Mas o fato é que os usuários estão gastando milhões em taxas agora, provavelmente impulsionados pelo FOMO (o “medo de ficar de fora”, na sigla em inglês).
A empolgação não é a única coisa que pode atrair mais usuários. Normalmente, os Ordinals e outras coleções NFT limitam seu tamanho para preservar a colecionabilidade, mas os runes e tipos semelhantes de tokens podem ser feitos em quantidades muito maiores. Isso significa que é mais fácil para mais pessoas possuí-los e se juntar à comunidade de colecionadores.
Os Runes devem gerar debates acalorados nos próximos dias e meses. Gostando ou não, é difícil acreditar no fim da iniciativa.
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