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Finanças

Selic em 3,50%: onde investir agora e quanto rendem as aplicações de renda fixa

Com a nova elevação da taxa de juros, especialistas ainda acreditam que papéis pós-fixados são a melhor alternativa.

Previdência

Dando continuidade a um ciclo de alta da Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) definiu nesta quarta-feira (5) um aumento de 0,75 ponto percentual para a taxa básica de jurosque passou de 2,75% para 3,50% ao ano. 

Este aumento torna as aplicações em renda fixa mais atrativas, uma vez que grande parte acompanha a variação da Selic. Mas como fica agora o retorno das principais aplicações? Os papéis pós-fixados ainda são a opção do momento? O InvestNews consultou agentes do mercado para entender o novo cenário.

Em março, a taxa Selic interrompeu um ciclo de queda de seis anos, quando subiu de 2% para 2,75% ao ano. Antes disso, a última vez que a Selic havia apresentado alta foi em julho de 2015, quando a taxa saltou de 13,75% para 14,25% ao ano. Veja na imagem a seguir:

Selic

Com isso, na renda fixa, a remuneração pós-fixada vai acompanhar a evolução da Selic nos próximos meses. Quando ela estava no seu menor patamar histórico, de 2% ao ano, parte dos investidores se refugiou em títulos de renda fixa com remuneração prefixada ou indexados à inflação. Alguns até migraram para renda variável, principalmente por meio dos fundos imobiliários ou ações.

Mas com a retomada dos juros, os especialistas apontam que é hora de voltar a confiar nos investimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Vale lembrar que o indexador que acompanha a Selic é usado como referência na renda fixa agora passa a ser de 3,43% ao ano.

Quanto rendem as aplicações?

Apesar da retomada dos juros, a caderneta de poupança continua com retorno real negativo. Ela rende 70% da Selic mais a taxa referencial (TR). Fazendo um cálculo, o rendimento para 12 meses agora é de 2,45%. Considerando que a inflação medida pelo IPCA nos últimos 12 meses foi de 6,10%o rendimento real da poupança é negativo em 3,44% ao ano.

InvestNews pediu um levantamento para o economista Samy Dana para entender como ficam as principais referências de investimentos em renda fixa com a taxa Selic em 3,50%. Veja abaixo:

Quanto rendem os investimentos com a Selic em 3,50%

Quando o assunto é renda fixa, é importante considerar o CDI. E, claro, o investidor não pode esquecer também do Imposto de Renda que incide sobre o rendimento. Com exceção de LCI, LCA, CRI e CRA e debêntures incentivadas, as aplicações são tributadas pelo IR regressivo, que vai de 22,5% até 15%, a depender do prazo. Quanto maior o tempo de resgate, menor o IR cobrado:

  • Alíquota de 22,5% (até 180 dias)
  • Alíquota de 20% (de 181 a 360 dias)
  • Alíquota de 17,5% (de 361 a 720 dias)
  • Alíquota de 15% (acima de 720 dias)

Além do Imposto de Renda e o prazo de aplicação, é interessante ficar de olho nas taxas de administração ou de custódia que alguns investimentos possuem.

Calculamos a rentabilidade líquida dos investimentos considerando o Imposto de Renda e a inflação. Confira a simulação para um papel que rende 100% do CDI (3,43%); um CDB que paga 110% do CDI (3,77%) e um CDB de 90% do CDI (3,09%):

Onde investir na renda fixa?

Marilia Fontes, sócio-fundadora da Nord Research, explica que na renda fixa existem três formas de remunerar o investidor pagando juros pelo capital investido:

  • prefixados: oferecem uma remuneração fixa até o vencimento do título.
  • pós-fixados: a remuneração segue um indexador que pode ser Selic ou CDI e que acompanha a evolução dos juros.
  • indexados à inflação: remunera a inflação IPCA do período + um prêmio geralmente prefixado.

Entender que cada tipo de remuneração se comporta de forma diferente de acordo com o momento macroeconômico é vital para o investidor ter um bom retorno.

Por exemplo, alguns títulos ganham quando os juros estão subindo, como os pós-fixados. E tem títulos que ganham quando os juros estão caindo, por exemplo os indexados à inflação.

“É preciso estar no título certo e no momento macroeconômico certo”, destaca Marília. Isso porque comprar um título que se beneficia com os juros em queda em um cenário de alta da Selic pode até gerar prejuízos na renda fixa, caso o investidor faça a venda antecipada.

Desta forma, neste cenário em que a taxa Selic está em um ciclo de alta, ela aponta como a melhor alternativa na renda fixa os títulos pós-fixados.

Neste tipo de título, o investidor escolhe o indexador, que pode ser CDI ou Selic, e não sabe de antemão quanto o investimento vai render. Tudo dependerá da evolução da taxa de juros.

Se a Selic subir, o CDI também aumenta, em consequência a rentabilidade deste investimento vai para cima. Segundo o último boletim Focus, a projeção é que a Selic termine 2021 em 5,50% ao ano e em 6,25% até o final de 2022. Portanto, quanto maior a taxa Selic, maior a rentabilidade destes títulos pós-fixados.

Entre os mais comuns estão Tesouro Selic, CDBs pós fixados, LCIs e LCAs de bancos atrelados ao CDI. Ela aponta que são estes os ativos que o investidor deve priorizar neste ciclo de alta dos juros. “Com a pressão dos juros americanos de longo prazo, é possível que o Banco Central tenha que subir ainda mais a Selic, por este motivo prefiro o pós-fixado”, diz.

Segundo Marília, ainda haverá a inflação, principalmente em preços de alimentos e combustíveis pressionando o IPCA até 2022, além do câmbio elevado que contamina a inflação. Com a meta do Banco Central de manter o IPCA no limite de 5,25% até o final de 2021, será necessário elevar ainda mais os juros para pressionar a inflação que atualmente está no patamar de 6,10%.

De quais investimentos fugir?

Com o retorno da era do pós-fixado, outros títulos da renda fixa como prefixados e indexados à inflação, podem ficar menos atrativos ao investidor.

Segundo Eduardo Perez, analista de investimentos da Easynvest, é melhor o investidor evitar comprar títulos prefixados porque neste momento de alta de juros, estes títulos podem ter uma performance menor, além do risco da inflação ficar maior do que a taxa prefixada.

“Se o investidor comprou um título prefixado que remunera em 8% ao ano e vence em 10 anos, ele tem o risco que daqui há 10 anos a inflação seja superior a 8% e o seu dinheiro perca poder aquisitivo”, exemplifica. Outra desvantagem é que o CDI pode render mais do que a taxa prefixada e o investidor ganhar menos do que poderia.

Com as eleições em 2022 chegando, Perez adverte para a instabilidade do mercado que pode ainda mais estressar a curva de juros, fazendo com que a taxa Selic aumente. Segundo o analista, a depender de quem ganhe a eleição e sua postura econômica, a curva de juros pode subir ou baixar.

Por este motivo, não compensa entrar em títulos com taxas prefixadas. “Comprar um título prefixado com vencimento de 5 ou 10 anos acaba sendo muito instável porque pega as eleições”, reforça.

Para quem já está posicionado neste tipo de título, ele aconselha avaliar para títulos de prazos mais curtos se ainda são oportunidades interessantes, comparado com a possível remuneração do CDI. Por exemplo, até 2022 a taxa de juros estimada é de 6,25%.

Outro investimento que os especialistas recomendam passar longe são os investimentos indexados à inflação que oferecem IPCA + um prêmio geralmente prefixado.

Em tempos de juros elevados, estes ativos acabam ficando menos interessantes, porque o componente prefixado acompanha o juro real e com a marcação a mercado pode até gerar um retorno negativo ao investidor.

Marília, da Nord, destaca que os investidores enxergam de forma errada a estratégia de títulos de inflação. “Não são para períodos de apenas inflação elevada e sim quando a inflação é alta e o juro é baixo”, reforça.

Ela recomenda aos investidores a vender todos os títulos indexados à inflação com prazo de vencimento acima de quatro anos. “Para quem já tem títulos atrelados ao IPCA, deixaria apenas os de vencimento curto, inferior a 4 anos, que podem sofrer pouco com a marcação a mercado”, aconselha.

Ela explica que não adianta a inflação ser elevada, se o juro também for elevado. “Em 2015, os títulos IPCA deram prejuízo porque a inflação estava em 6,67% e o juro bateu 7,6%”, exemplifica.

Essa marcação a mercado afeta principalmente quem faz os resgates antes do vencimento. Para quem decide se manter no título até vencer, Marília explica que o investidor vai receber a remuneração prometida, mas não necessariamente fechou um bom negócio. Isso porque, conforme os juros vão subindo, novos títulos IPCA com remunerações superiores também vão surgindo, e ele acaba perdendo com a taxa acordada.

E a reserva de emergência?

Se você manteve a reserva de emergência sempre na renda fixa em ativos de liquidez diária, apesar dos diversos ciclos de alta e baixa da Selic, ainda está no caminho correto, segundo especialistas consultados.

Para Marilia, a reserva de emergência sempre deve estar presente em aplicações de liquidez diária e baixa volatilidade.

Para este propósito, apenas três ativos são úteis:

  • Tesouro Selic (emitido pelo governo e que é atrelado à taxa Selic)
  • CDB de liquidez diária (com rendimentos de 100% do CDI ou superiores), de preferência dos cinco maiores bancos (Santander, Brasil, Caixa Econômica, Itaú e Bradesco).
  • Fundos DI, com taxa de administração zerada.

Já Eduardo, da Easynvest, destaca que o Tesouro Selic é o investimento mais seguro para reserva e que não possui marcação a mercado. Enquanto o CDB de liquidez diária precisa entregar de preferência mais do que 100% do CDI para valer a pena. “Se não entregar mais de 100% do CDI, as vezes é melhor optar pelo Tesouro Selic”, avalia.

Um olhar macro

Segundo especialistas consultados pela reportagem, vivemos um período de normalização da taxa de juros, um aperto monetário na tentativa de segurar a inflação que, no acumulado de 12 meses, já é de 6,10%. No entanto, a postura do BC em relação aos próximos meses pode apresentar dualidades.

Por um lado, seguindo a meta de inflação de 3,75% para 2021, a missão do Banco Central seria manter o IPCA no limite de 5,25% até o final deste ano, segundo avalia Rafael Bevilacqua, estrategista chefe da Levante Investimentos. “Para conseguir isso o BC precisaria elevar os juros e sinalizar futuras altas”, aponta.

No entanto, como dar continuidade a essa alta dos juros, se o desemprego permanece elevado? Com mais de 14 milhões de pessoas à procura de uma oportunidade e a necessidade de estimular a economia.

De acordo com Bevilacqua, o crescimento do PIB também não será suficiente para remediar os estragos da pandemia sobre a economia. Neste cenário, os juros deveriam permanecer baixos, o que gera contradição com a normalização da Selic.

Já Fernanda Mansano, economista-chefe do TradersClub, destaca que após um ano de forte estímulo monetário e gasto público, a redução da taxa de juros foi necessária para que os custos do governo fiquem menores. “Em março, o BC tinha sinalizado que já não era preciso tanto estímulo na economia”, diz.

Segundo ela, essa normalização poderia representar uma política contracionista, com mais juros, redução da inflação e diminuição do consumo dentro de uma economia, porém ainda há muitos riscos que podem atrapalhar esse plano. “É preciso que o cenário econômico não se deteriore ainda mais, além do cenário fiscal “, explica.

Bevilacqua cita entre os conflitos o risco fiscal, as incertezas sobre o cumprimento do orçamento de 2021, vacinação abaixo das expectativas e a CPI que deve enfraquecer ainda mais o governo.

Entre idas e vindas, ganha a política expansionista ou a contracionista? Esse é o grande impasse do Banco Central.

Enquanto isso, com uma taxa de juros de 3,50%, Fernanda Mansano explica que as principais mudanças macroeconômicas serão: o encarecimento do crédito e financiamentos para pessoas físicas além de um cenário desfavorável para empresas que precisam capital de giro.

Apesar de um cenário de juros elevados ser anticíclico, a economista reconhece que 2021 é um ano atípico, e na bolsa de valores, por exemplo, setores com demanda reprimida como varejo e shoppings vão continuar se beneficiando.

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