* ARTIGO
A rede bitcoin (BTC) está enfrentando um grande desafio: as taxas de transação estão nas alturas. A média das taxas chegou a US$ 27,95 na última quarta-feira (6), valor bem alto para uma interação regular com o blockchain do bitcoin.
Ainda que nesta terça-feira (12) as taxas tenham recuado e estejam girando ao redor dos US$ 11, ainda é um valor muito mais alto do que os menos de US$ 2 habituais.
O motivo é o aumento da demanda por tokens BRC-20, uma aplicação de uma tecnologia que já vem se popularizando na rede do bitcoin desde o começo de 2023.
O que são BRC-20?
Muitos conhecem o BRC-20 como “NFTs do Bitcoin”, ou “Inscriptions”. É uma técnica de inserir dados genéricos nos blocos do blockchain do bitcoin — mais especificamente, nas transações.
Neste caso, o BRC-20 consiste em inserir dados nos satoshis, a menor unidade do bitcoin. O ponto é: ao mesmo tempo que podem ser rastreados e transferidos, esses satoshis são imbuídos de significados únicos e não fungíveis, portanto, um NFT (token não-fungível).
Lembre-se de que um token fungível é um ativo digital que pode ser trocado por outro ativo digital idêntico. Ele não está relacionado com criar itens e coleções na rede bitcoin, mas sim criar e transacionar altcoins dentro dele.
Em outras palavras, os BRC-20 são essencialmente um conjunto de dados armazenados no blockchain do bitcoin reconhecido pela rede como uma criptomoeda, mas que não são o BTC.
Do entusiasmo à polêmica
O BRC-20 se tornou polêmico porque, como não existe restrição de quais pessoas podem fazer a emissão do NFT, iniciou-se uma corrida para fazer parte da novidade.
Um dos protocolos que usa os tokens BRC-20 para criar NFTs é o Ordinals, que foi criado por Casey Rodarmor em janeiro de 2023. O Ordinals permite que os usuários inscrevam tokens totalmente novos e NFTs em satoshis usando o padrão BRC-20. Esses tokens, por sua vez, podem representar desde obras de arte, colecionáveis, ingressos, até certificados digitais.
O Ordinals se tornou um sucesso entre a comunidade cripto, e a Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo, decidiu listar o seu token nativo, o ORDI, em 7 de novembro, ampliando ainda mais a curiosidade — e o interesse — pela novidade.
Contudo, a rede bitcoin só é capaz de realizar de 6 a 7 transações por segundo. Toda essa corrida pela emissão de NFTs e os tokens BRC-20 fizeram com que o número de transações paradas no mempool, a “sala de espera” da rede do bitcoin, batesse o recorde nos últimos meses.
O gráfico acima mostra que, atualmente, há entre 250.000 a 300.000 transações não confirmadas no mempool. Ainda que a rede bitcoin continue operando sem bugs, essa sobrecarga gerou um aumento nas taxas de transação.
Como é de se imaginar, nem todos estão felizes com essa novidade.
Os dois lados da moeda
Devido ao impacto das taxas elevadas na funcionalidade regular da rede bitcoin para a transferência de valor, certos programadores de BTC e defensores da criptomoeda estão solicitando a restrição das operações com NFTs.
Para eles, os tokens BRC-20 são uma forma de spam e poluição do blockchain, que prejudicam sua real funcionalidade e segurança. Seus argumentos se pautam na tese de que o bitcoin deveria ser usado apenas como uma reserva de valor e/ou um meio de pagamento, e não como uma plataforma para outros tokens tal como o ethereum (ETH), solana (SOL) e outras criptomoedas.
Essa visão é contrária à de outros desenvolvedores e, sobretudo, dos mineradores do bitcoin: enquanto os desenvolvedores reforçam que taxas altas deixam a rede mais segura, taxas mais altas para os mineradores significa mais lucratividade, tornando propensos a rejeitar a ideia de que os BRC-20 sejam spam e ruins para o bitcoin.
Essa divergência de interesses e visões gera um conflito entre os participantes da rede, que pode afetar a sua estabilidade e confiança.
Como resolver esse impasse?
É impossível agradar a todos, e o equilíbrio quase sempre se sobressai como o caminho mais sensato.
Uma possível solução para agradar ambos lados é o uso de uma segunda camada na rede do bitcoin. No caso, uma segunda camada funciona como uma rede paralela, que se comunicaria com a blockchain principal apenas em momentos específicos. Isso reduz a carga e as taxas da rede, permitindo transações mais rápidas e baratas sem comprometer a segurança e a descentralização da primeira camada.
Um exemplo de segunda camada é a Lightning Network, que já está em funcionamento há alguns anos e permite transações instantâneas e quase gratuitas entre os usuários. Nesse caso, ela pode ser uma alternativa para os usuários que querem usar o bitcoin como meio de pagamento ou reserva de valor, sem depender das taxas e da velocidade da primeira camada.
Já os usuários que querem usar os tokens BRC-20 e os NFTs do bitcoin poderiam continuar usando a primeira camada, pagando as taxas correspondentes e aguardando o tempo necessário para a confirmação das transações.
Assim, o bitcoin poderia atender às diferentes demandas e preferências dos seus usuários, sem perder a sua essência. De todo modo, se o equilíbrio não vier pelo bom senso, provavelmente virá de forma forçada, com o tempo.
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