A emissora de stablecoins Tether Holdings transferirá sua entidade corporativa e subsidiárias para El Salvador após obter uma licença de provedora de serviços de ativos digitais no país centro-americano.

A Tether, uma das empresas mais importantes do setor de criptoativos, com mais de US$ 137 bilhões em ativos de reserva sob gestão, estava registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. A empresa mantém uma relação de longa data com o governo salvadorenho, apoiando os esforços do país para se tornar um polo de bitcoin e empreendedores do setor de criptomoedas.

“Essa decisão é um passo natural para a Tether, pois nos permite construir um novo lar, fomentar a colaboração e fortalecer nosso foco em mercados emergentes”, disse Paolo Ardoino, CEO da Tether, em comunicado na segunda-feira.

A Tether é a emissora e operadora da stablecoin USDT, um criptoativo que depende de uma reserva composta em grande parte por dinheiro e ativos equivalentes, como dívida do governo dos EUA, para manter o valor de um para um com o dólar americano. Um forte rali nos mercados de criptoativos em 2024, juntamente com o aumento das taxas de juros, impulsionou as fortunas da Tether a novos patamares, permitindo que a empresa acumulasse bilhões de dólares em lucros a cada trimestre.

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Parte de suas reservas é gerida pela Cantor Fitzgerald LP, cujo CEO, Howard Lutnick, deve servir na próxima administração do presidente eleito Donald Trump. A Tether enfrentou desafios legais significativos ao longo dos anos, incluindo nos EUA, onde, em 2021, concordou em pagar US$ 41 milhões para resolver acusações de que mentiu sobre suas reservas.

A Tether não especificou se abrirá um escritório físico em El Salvador, se a mudança afetará sua controladora iFinex Inc. ou sua empresa irmã, a exchange de criptomoedas Bitfinex Technology Ltd., ou se manterá operações nas Ilhas Virgens Britânicas. Um porta-voz não respondeu de imediato às perguntas adicionais da Bloomberg.

Enquanto isso, El Salvador passou por uma grande reviravolta sob o atual presidente Nayib Bukele. A erradicação de gangues criminosas nas ruas, juntamente com um crescente estoque de Bitcoin que ultrapassa US$ 600 milhões, ajudaram o país a se reerguer nos últimos anos. Em dezembro, o país também chegou a um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um empréstimo de US$ 1,4 bilhão, após quatro anos de negociações.

O Bitcoin, a criptomoeda mais valiosa do mundo, desempenhou um papel fundamental nas estratégias tanto da Tether quanto de Bukele. Carteiras controladas pela Tether detêm mais de US$ 7,7 bilhões em Bitcoin, segundo a Arkham Intelligence, e a empresa organiza uma série de conferências semestrais com temática de Bitcoin em Lugano, na Suíça, e em El Salvador.

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El Salvador foi o primeiro país a adotar o Bitcoin como moeda de curso legal há três anos, na esperança de que uma maior adoção da criptomoeda pudesse enriquecer sua economia. Em 2019, um doador anônimo ajudou a financiar um esforço para transformar a vila de surfe El Zonte, em El Salvador — conhecida coloquialmente como “Bitcoin Beach” — em um futuro polo para negócios de criptomoedas. Em 2023, a Tether participou de um plano de US$ 1 bilhão para construir a maior fazenda de mineração de Bitcoin do mundo em El Salvador, utilizando os vulcões do país como fonte de energia renovável para o projeto.

O governo também criou o Chivo, um serviço de carteira cripto e uma infraestrutura de caixas eletrônicos, em 2021, oferecendo US$ 30 em Bitcoin para cada carteira aberta pelos moradores. No entanto, a plataforma não teve impacto significativo e foi encerrada como parte do acordo com o FMI.