Conforme antecipado pelo InvestNews em setembro, a Vale (VALE3) promoveu um grande corte nos dividendos no terceiro trimestre deste ano. A mineradora pagou US$ 1,764 bilhão aos acionistas no período, o equivalente a um corte de mais de 40% ante o montante de US$ 3,1 bilhões distribuído sob a forma de proventos em igual período de 2022.
Com isso, a Vale junta-se a outras grandes mineradoras, como a BHP. A rival anglo-australiana havia sido a maior pagadora de dividendos do mundo nos últimos dois anos, mas caiu da segunda para a quarta colocação no ranking global de pagadores de proventos na passagem do terceiro trimestre de 2022 para o mesmo período de 2023.
Ou seja, os grandes cortes nos dividendos do setor de mineração continuaram no trimestre passado, confirmando o presságio previsto para a Vale. Além disso, as mineradoras uniram-se à Petrobras (PETR4), que aplicou a maior redução de proventos no mundo pelo segundo trimestre consecutivo, cortando US$ 9,6 bilhões em retorno aos acionistas.
“As maiores quedas nos dividendos vieram de todo o setor de mineração, em que a metade das empresas reduziu os pagamentos, e dos produtores de petróleo no Brasil, indo na contramão da tendência mais ampla do setor petrolífero”,.
Janus Henderson, em relatório.
Os dados fazem parte da mais recente edição do Índice Global de Dividendos da Janus Henderson referente ao trimestre passado. Pelo levantamento, os cortes drásticos das duas blue chips contribuíram para que os dividendos das empresas brasileiras no índice despencassem 67,1%. Tal cenário adverso ofuscou o resultado positivo do setor financeiro.
Dividendos resilientes
Para a Janus Henderson, a dinâmica dos dividendos pagos pelas empresas brasileiras indica, ao mesmo tempo, uma complexidade e uma resiliência que merecem uma análise mais aprofundada. “Isso sinaliza um otimismo cauteloso sobre a capacidade de recuperação, mesmo considerando-se o ciclo volátil das commodities”, diz, em relatório.
Tanto que o head global de renda variável da gestora, Ben Lofthouse, destaca que o impacto da BHP e da Petrobras foi desproporcionalmente grande.
“O fato de termos observado cortes tão acentuados dos dois maiores pagadores de dividendos do mundo em 2022 é muito incomum”.
Ben Lofthouse, hed global de renda variável da janus henderson.
A gestora britânica destaca que, excluindo os dois maiores cortes, feitos por Petrobras e BHP, houve um crescimento global de 5,3% nos dividendos pagos no terceiro trimestre. Além disso, os dividendos globais caíram 0,9% entre julho e setembro de 2023, para US$ 421,9 bilhões. Porém, em termos ajustados, houve leve alta de 0,3%.
Ainda assim, essas duas empresas reduzirão a taxa de crescimento global em dois pontos percentuais no ano inteiro, o que levou a Janus Henderson a reduzir a previsão de dividendos pagos no acumulado de 2023, de US$ 1,64 trilhão para US$ 1,63 trilhão. Porém, o valor representa alta de 4,4% ante os proventos distribuídos globalmente em 2022.
Segundo a gestora, esses números estão alinhados com a tendência de longo prazo, considerando-se os dividendos variáveis de algumas empresas e os efeitos cambiais. Portanto, não há motivo de preocupação, ressalta o head global de renda variável, considerando-se o grande impacto negativo de várias empresas.
“Os dividendos brasileiros e globais caíram no terceiro trimestre deste ano, mas o crescimento resiliente é evidente”.
Lofthouse, EM RELATÓRIO.
Segundo o head global de renda variável, a aparente fraqueza nos dividendos globais do terceiro trimestre mascara um progresso significativo em todo o mercado. “E vale lembrar que os proventos costumam ser muito menos voláteis do que os lucros ao longo do tempo, proporcionando conforto em tempos de incerteza econômica”, conclui.
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