Um comparecimento maciço às manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro para o feriado do Dia da Independência na terça-feira (7) ajudará o presidente em sua tentativa de acuar o Supremo Tribunal Federal (STF), a quem tem atacado frequentemente, e eventuais episódios de violência durante os atos elevarão ainda mais o grau de instabilidade institucional no país.
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Bolsonaro tem apostado suas fichas nas manifestações de 7 de Setembro, em busca de mostrar força e apoio popular num momento em que pesquisas de opinião mostram queda de sua popularidade, apoiadores e ele próprio são alvos de investigações judiciais e seu governo é acossado pela alta da inflação, uma crise hídrica que ameaça descambar para uma crise energética e demonstrações de descontentamento de setores econômicos que antes o apoiavam.
Ofensiva contra o STF
Para analistas ouvidos pela Reuters, o presidente poderá usar um eventual e, na avaliação desses especialistas, provável grande comparecimento aos atos em seu discurso de que tem o povo ao seu lado, tentando com isso intimidar o STF, órgão que tem sido alvo de ataques quase diários do presidente, especialmente nas pessoas dos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
“O 7 de Setembro é especialmente importante nesse jogo do presidente se movimentando por meio do tensionamento institucional tendo em visto os riscos não somente para o seu mandato, mas sobretudo para o status jurídico do seu núcleo político, em particular o núcleo familiar”, disse o analista da Tendências Consultoria Rafael Cortez.
“O presidente tenta, por meio dessas manifestações, constranger decisões futuras que atores do Judiciário possam tomar envolvendo diretamente esse núcleo político”, explicou.
O que quer Bolsonaro?
Bolsonaro tem acusado Moraes e Barroso de atuarem fora dos limites impostos pela Constituição, ao mesmo tempo que afirma que, em resposta, também poderá desrespeitar a Carta Magna. O presidente afirmou na semana passada que os protestos do Dia da Independência serão um ultimato aos dois ministros e tem estimulado a participação de policiais militares nas manifestações, apesar de a legislação proibir que policiais da ativa se envolvam em protestos políticos.
“Essa estratégia, se não o ajuda para o plano eleitoral de 2022, ao menos dá um sinal que tem ainda uma mobilização importante de apoiadores do presidente. No fundo o que o presidente quer é aumentar um custo de uma eventual decisão negativa seja em relação ao seu mandato seja de um relação a essa questão mais individual”, disse Cortez.
A retórica inflamada de Bolsonaro sobre os atos de 7 de Setembro, que se reflete no discurso de seus apoiadores em redes sociais, alguns deles prometendo comparecer armados, gera o risco e temores de atos violentos, especialmente em Brasília, onde há receio de ataques ao prédio do Supremo, e em São Paulo, onde uma manifestação contrária ao presidente acontecerá no Vale do Anhangabaú, perto da Avenida Paulista, local do ato de apoiadores de Bolsonaro.
‘Barril de pólvora’
O presidente promete comparecer a esses dois atos e discursar em ambos, e as palavras que dirá aos apoiadores também deverão ser acompanhadas com lupa por políticos e analistas.
“O barril de pólvora vai ser colocado na rua, resta saber se alguém vai acender o fósforo. Aí a grande pergunta é saber a quem isso atende e me parece obviamente, na percepção do presidente da República, isso atende a ele”, disse o consultor político e CEO da Dharma Politics, Creomar de Souza.
Bolsonaro cita constantemente riscos de conflitos sociais e também frequentemente lembra o fato de ter feito parte das Forças Armada (foi capitão do Exército) e cita os militares como responsáveis por garantir a liberdade e a democracia.
Manifestação de força
Na avaliação do cientista político e mestre em Direito Luiz Alexandre Souza da Costa, que é militar da reserva da Polícia Militar do Rio de Janeiro, os protestos de terça devem ter grande comparecimento, dando ao presidente a manifestação de força que procura na tentativa de fazer frente a instituições democráticas responsáveis pelo sistema de freios e contrapesos.
“Para o Bolsonaro é muito difícil entender democracia liberal quando se tem ali um Poder antimajoritário como a Suprema Corte, porque para ele democracia é uma democracia autoritária, no contexto dele: ‘Ganhei a eleição e agora eu faço o que eu quiser porque eu sou a maioria e pronto e acabou'”, disse.
“O cenário que vejo que deve acontecer é: eles vão encher as ruas. Eles são uma minoria muito aguerrida, muito barulhenta e organizada. Eles vão encher as ruas. Isso vai dar para um presidente fraco uma demonstração de força.”
3 cenários pós-protestos
Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, há três possíveis cenários mais prováveis e suas consequências, que, avalia, ficarão claras somente no dia seguinte, a quarta-feira, 8 de setembro.
“A manifestação foi pacífica e foi pequena, irrelevante: Bolsonaro está na chuva. A manifestação foi grande e foi pacífica: aí eu diria para você que Bolsonaro mostrou força e demonstrou controle, seria o melhor cenário para ele. As manifestações foram grandes e não foram pacíficas: aí com a palavra, as instituições e a oposição”, afirmou.
“Não existe um cenário bom em que você possa dizer que no dia 8 se volta à normalidade. Eu não vejo”, avaliou.
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