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Gelo, conforto e whey protein: o que os hotéis oferecem para atrair os milhares de atletas pelo mundo

Setor de hotelaria tem se desdobrado para acomodar a demanda dos atletas amadores por rotinas de sono e dietas saudáveis

Maratona de Boston. Crédito: reprodução do Facebook

No início de novembro, os mais de 55 mil corredores da Maratona de Nova York representaram um recorde de inscritos na história do evento. Em Boston, os organizadores da maratona de abril de 2025 tiveram que aumentar a barreira de entrada, diminuindo o tempo mínimo de qualificação em mais seis minutos porque o número de inscritos – quase 37 mil – também bateu o recorde. Mais de 12 mil ficaram de fora.

O crescente número de maratonistas e triatletas reflete a atenção global dada à longevidade por meio de exercícios físicos, saúde mental e alimentação. Um dos desafios para atletas amadores, no entanto, é manter suas rotinas corporais, horas de sono e dietas saudáveis durante as viagens. Mas eles não estão abandonados. O setor de hotelaria – principalmente o de luxo – tem se desdobrado para acomodar suas exigências.

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O americano Barack Hirschowitz, que correu a maratona de Nova York, acompanha de perto a transformação do setor de hospitalidade. Ele é o presidente da Associação Internacional de Hoteis de Luxo, e defende que o hotel precisa oferecer o mínimo de bem-estar que um atleta tem em casa. Caso contrário, a hospedagem pode atrasar o andamento do treino, e até prejudicar a saúde.

Segundo Barak, o conceito de bem-estar vai além de um tapete de yoga: mundialmente, os hotéis de luxo e resorts estão personalizando a experiência de seus hóspedes, oferecendo academias completas, firmando parcerias com profissionais locais nas áreas de fitness e spa, e contratando chefs que elaboram cardápios em torno de hóspedes que seguem dietas específicas, como calorias limitadas ou vegetarianismo. Há um cuidado extra ainda na criação de mocktails, coquetéis sem álcool, que atende tendência da nova geração evitar cada vez mais bebidas alcóolicas. 

No mesmo webinar, Greg Habeeb, à frente do setor de desenvolvimento da cadeia WorldHotels, frisou que o foco da hotelaria de hoje é tornar hotéis em destinos, independentemente das cidades onde se encontram. Ele cita o exemplo do Villa Sassa, em Lugano, na Suíça. Ali, pode-se mergulhar em piscinas frias para recuperação muscular, usar saunas, academia de musculação, piscinas interna e externa e ter acompanhamento de profissionais de fitness divididos por categorias.

Habeeb também destaca o Cristoforo Colombo, em Milão, que oferece amenidades de fitness, spa e até uma iluminação mais serena, com intenção de desacelerar o ritmo dos hóspedes, mesmo estando numa das cidades mais movimentadas da Europa.

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Nos Estados Unidos, ocorre ainda o movimento inverso: a rede de academias Equinox mergulhou no setor de hospitalidade para oferecer a experiência do cuidado com o corpo 24 horas por dia. Nos próximos anos, a empresa pretende construir 30 hotéis pelo país, e por cidades chaves da Europa e Oriente Médio. O primeiro Equinox Hotel abriu as portas em Nova York, em 2019, no Hudson Yards, um complexo que engloba escritórios, lojas, e gastronomia.

Com diárias que variam de US$ 1.270 a US$ 13 mil, cada um dos 212 quartos oferece um programa de sono restaurativo, um kit para yoga, e a linha de roupa de cama e colchões exclusivos da marca, também vendidos na “Sleep Shop” para quem quiser levar a experiência para casa.

Além das combinações de chás exclusivos da rede, os hóspedes têm acesso à  academia, cujos 18 mil metros quadrados, incluem um spa, personal trainers, aulas de spinning ministradas pela rede SoulCycle e uma piscina coberta de água salgada. Para os corajosos, há também crioterapia: infinitos três minutos numa câmara de 101 graus abaixo de zero ideal para eliminar dores musculares e nas articulações.

“No livro ‘Garra’, a psicóloga Angela Duckworth conta que ela só se hospedava em hotéis onde houvesse um piano para a filha poder praticar”, nota a advogada e maratonista Edith Bertoletti. Carioca residente em São Paulo, Edith já participou de 20 maratonas mundo afora, e testemunha o aumento de corredores de rua e triatletas nos últimos anos. “Assim como o piano, o esporte requer dedicação, além de amor. Antes de cada maratona treinamos cerca de quatro meses. Todo sábado é preciso entregar um “longão”, que significa uma corrida de 26, 28 ou até 30 km”, explica. 

Edith reforça, no entanto, que luxo não é um requisito para hospedagem de atletas. Para ela, é preciso buscar um hotel que ofereça flexibilidade para acomodar demandas rígidas, como horário e alimentação. “Não é necessário mudar toda a estrutura do hotel. Basta adicionar as iguarias que os atletas mais apreciam, como sacos de gelo sempre à disposição ou acesso à banheira de gelo”, conta Edith. 

Edith conta que numa temporada na Sicília, na Itália, seu grupo precisou fazer um treino longo, mas o hotel ficava perto da praia, onde as ruas eram apertadas. O grupo estava sem carro. Então os hoteliers os levaram e buscaram de van até uma estrada vicinal para que eles pudessem correr. Já em Boston, a academia do hotel onde o grupo de corredores se hospedou estava em obras, então eles receberam passes para  treinar na academia vizinha.

No Brasil, não foi diferente. “No interior de São Paulo, nosso grupo de corredoras se hospedou no Habitat Prime Hotel, onde o café da manhã começava às sete horas. Mas precisávamos treinar às seis da manhã. Então os funcionários montaram uma pequena mesa uma hora antes, sem custo adicional e com um bilhete escrito: “Bom treino”, conta a maratonista

Edith ressalta que a cozinha hoteleira de hoje precisa oferecer opções como frutas frescas, ovos, pães integrais e geleias sem açúcar. “E, de novo, a pitada de flexibilidade, porque vai ter gente pedindo para bater um whey protein no liquidificador”.

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