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Já ouviu falar em ‘bropiating’? Prática reforça gap de gênero nas empresas

Estudo aponta que muitos homens apoiam a luta feminina por maiores salários, mas na prática só promovem a ascensão de colegas de colegas do gênero masculino.

mulher gênero
View of an Asian businesswoman working on a laptop computer in her office with a view of office buildings out the window.

Um dos desafios para se obter transformações no trabalho e eliminar o gap de gênero é obter a colaboração masculina. A luta pela equidade de gênero vai avançar muito mais rápido se homens e mulheres estiverem envolvidos. É o que reforça um estudo recém-divulgado da London School of Economics, um dos centros de estudos de economia mais prestigiados do mundo.

Este texto faz parte da série do InvestNews “Desigualdade de Gênero no Trabalho e nos Investimentos”, que será publicada às sextas-feiras com diferentes abordagens. Confira a série completa:

Muitos homens apoiam a luta feminina por maiores salários, mas, no dia a dia, apoiam mais a ascensão de colegas dos colegas do gênero masculino, cobrando excelência apenas das mulheres nas promoções, aponta o trabalho, realizado com apoio de gigantes da indústria financeira: Goldman Sachs, Barclays e Citibank, além da autoridade reguladora britânica.

Os resultados não pegam bem para os homens no mercado financeiro londrino, um dos mais dinâmicos do mundo. Como se trata de mulheres inseridas em um mercado globalizado, é provável que reflita os vícios da indústria como um todo.

Apoio à causa feminina, mas só no discurso

No discurso, elas recebem muito apoio, mas na hora das promoções, elas são preteridas por funcionários com um desempenho médio, sempre do gênero masculino.

É a percepção que elas passam, segundo Grace Lordan, a professora da London School of Economics que entrevistou 79 mulheres dos setores bancário, de gerenciamento de ativos, de seguros e que trabalham em fintechs.

O que é ‘bropiating’

Mesmo em empresas mais inovadoras do setor financeiro, essa percepção se mantém. Muitas entrevistadas disseram que uma coisa é o discurso e, aí, existe muito apoio. Existe essa crítica particular no estudo. Com o gap de gênero sendo reconhecido pelas empresas, muitos gestores adotaram o discurso, mas na prática agem bem diferente – afinal, pega bem apoiar publicamente a inclusão.

A pesquisa indica que muito executivos e gestores adotam essa causa para ser bem vistos na dentro da empresa, alguém sintonizado com as modernas relações de trabalho, mas não muda nada ou quase nada nas práticas do dia a dia. Pelo contrário, promovem o oposto.

Há até uma expressão para quem se apropria dessas causas só para “pegar bem”: bropriating, neologismo criado da união de “bro”, abreviatura de “brother” (irmão), e o termo “appropriating” (apropriação). Isso ocorre quando um homem se apropria de ideias já expressadas ou realizadas por uma mulher e age como se fosse dele.

Homens muitas vezes formam grupos exclusivos no trabalho ou acabam desenvolvendo afinidades devido ao futebol de fim de semana ou outra coisa, o que não seria um problema, não fosse essa exclusão que acaba se tornando uma política de “recursos humanos”, quando um sobe na carreira e então promove seus amigos.

Situação é pior para mulheres negras

Pior ainda: como sempre, para as mulheres negras que trabalham no mercado financeiro (são 11 das entrevistadas pelo estudo), todas elas reclamaram que precisam ser muito melhores do que os homens, mas também do que as mulheres brancas para se destacar.

É normal que mesmo em empresas que estimulam um ambiente competitivo nem tudo seja excelência. As pessoas cometem erros. E esse estudo aponta é que mulheres não podem errar para subir na empresa, enquanto homens contam com certa tolerância dos gestores para cometer os mesmos erros e, mesmo com alguns percalços na carreira, conseguem promoções, enquanto só as mulheres com um super desempenho atingem o mesmo cargo.

Pior ainda: o estudo revelou que, se fazem parte de minorias, aí precisam ser as melhores da equipe se quiserem alcançar posições de sucesso.

Gap de gênero prejudica as próprias empresas

A preocupação dos grandes bancos que dão apoio ao estudo é de que isso acaba prejudicando não só as profissionais, mas também as empresas. Com a pandemia, novas habilidades de gerenciamento são necessárias para atender ao mundo que está tentando sair da covid, mas a política interna, pelo visto, não vem premiando os melhores.

Existe um preço a pagar em inovação e na capacidade de manter os melhores. O estudo conclui que é natural que uma mulher, vendo barreiras numa empresa, procure outra. E isso desfalca as equipes, além de premiar funcionários que no fim podem agregar muito menos ao cargo. Ou seja, não vai ser excluindo mulheres que essas empresas vão enfrentar a concorrência.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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