Indicadores de liquidez: o que são e para o que servem?

Veja como analisar os índices e a importância de acompanhá-los

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Os índices de liquidez são ferramentas essenciais na análise financeira, pois permitem que gestores e investidores avaliem a capacidade de uma empresa de honrar suas obrigações financeiras. Esses indicadores fornecem uma visão sobre a saúde financeira do negócio e sua capacidade de operar em um ambiente econômico dinâmico.

A importância desses índices se destaca na identificação de riscos financeiros e na avaliação da flexibilidade da empresa em momentos desafiadores. Compreendê-los é fundamental para a gestão eficaz e para a tomada de decisões seguras.

Neste guia, vamos mostrar os principais tipos de índices de liquidez, suas definições e fórmulas de cálculo, que vão ajudar você a entender como esses indicadores impactam a saúde financeira das empresas.

O que são índices de liquidez? 

Os índices de liquidez são métricas financeiras que avaliam quanto uma determinada empresa pode cumprir com suas obrigações financeiras — tanto de curto quanto de longo prazo. Esses indicadores são fundamentais para entender a saúde financeira de um negócio e sua capacidade de operar no mercado.

Esses índices dão informações importantes, como:

  • o grau de risco de atraso dos pagamentos a terceiros;
  • quanto será preciso para continuar com as atividades (preparar o estoque para as vendas sazonais, por exemplo);
  • se será preciso enxugar custos, como negociar com fornecedores ou buscar outros com preço melhor;
  • qual é a elasticidade das finanças da empresa para custear as atividades por um período enquanto tenta aumentar a receita líquida;
  • se vai precisar se desfazer de parte do patrimônio para honrar as despesas ou avaliar se a contratação de crédito pode ser uma alternativa ou mais um risco.

Um índice elevado sugere que a empresa tem recursos suficientes para honrar suas obrigações, enquanto um índice baixo indica dificuldades para manter os pagamentos em dia.

Principais índices de liquidez

Os quatro indicadores de liquidez de uma empresa são:

  • liquidez corrente;
  • liquidez seca;
  • liquidez imediata;
  • liquidez geral.

Eles traçam o cenário sobre a capacidade de pagamento em diferentes períodos: o curto e o longo prazo. Para calcular cada um deles, é preciso utilizar algumas informações que estão no balanço patrimonial da companhia.

Os grupos de dados do balanço usados para esses cálculos são:

  • ativo circulante: são os valores que têm alta liquidez para virar dinheiro no curto prazo, em menos de 12 meses. Incluem aplicações financeiras, contas a receber, valores disponíveis no caixa ou no banco, estoque e despesas antecipadas (assinaturas, encargos financeiros, juros sobre descontos de duplicatas etc.);
  • ativo não circulante: são bens que a empresa pode converter em dinheiro, como móveis, veículos, equipamentos etc. Essa conversão pode demorar para acontecer e, por isso, é considerada um valor de longo prazo. Alguns investimentos também podem entrar nessa categoria;
  • passivo circulante: são as obrigações da empresa no curto prazo. É o caso de contas a pagar, fornecedores, impostos, salários, prestações de empréstimos e financiamentos;
  • passivo não circulante: são as despesas de longo prazo;
  • patrimônio líquido: é o capital próprio que pertence aos sócios e acionistas. Ele representa a diferença entre o total dos ativos e dos passivos da empresa. 

Veja, abaixo, qual a utilidade de cada um dos índices e a fórmula para o cálculo:

Índice de liquidez corrente 

O índice de liquidez corrente é calculado pela relação entre o ativo circulante e o passivo circulante, refletindo a proporção de recursos disponíveis para cobrir dívidas que vencem em um período de até um ano. 

Um índice superior a 1 indica que a empresa possui ativos suficientes para saldar suas obrigações imediatas, enquanto um índice inferior a 1 pode sinalizar dificuldades financeiras.

Como calcular a liquidez corrente?

A fórmula da liquidez corrente é a seguinte:

  • liquidez corrente = ativo circulante ÷ passivo circulante.

Exemplo do cálculo de liquidez corrente 

Imagine uma empresa tem um ativo circulante de R$ 25.000,00 e um passivo circulante de R$ 21.000,00:

  • R$ 25.000,00 ÷ R$ 21.000,00 = 1,19.

Embora o resultado seja pouco acima de 1, a relação entre as receitas e as despesas da empresa para o curto prazo estão praticamente empatadas.

Índice de liquidez seca

O índice de liquidez seca (LS) mede a capacidade de uma empresa de cumprir com suas obrigações financeiras de curto prazo, excluindo os estoques do cálculo. Essa exclusão é o que diferencia a liquidez seca da liquidez corrente.

Esse índice indica a capacidade de pagamento da empresa mesmo que os estoques não sejam vendidos. Por refletir a liquidez real, a liquidez seca geralmente apresenta um resultado inferior ao da liquidez corrente, fornecendo uma visão mais conservadora da situação financeira da empresa.

Como calcular a liquidez seca? 

Para entender melhor, o cálculo é feito da seguinte forma: primeiro, se subtrai o valor dos estoques do ativo circulante. Isso resulta em um total que representa os recursos disponíveis que não dependem da venda de produtos em estoque. 

Em seguida, esse valor é dividido pelo passivo circulante, que inclui todas as obrigações financeiras que a empresa deve pagar em um período de até um ano. A fórmula pode ser expressa assim:

  • (ativo circulante – estoque) ÷ passivo circulante = liquidez seca.

Exemplo do cálculo de liquidez seca

Um negócio tem R$ 30.000,00 de ativo circulante, R$ 19.000,00 de estoque e R$ 17.000,00 de passivo circulante:

  • (R$ 30.000,00 – R$ 19.000,00) ÷ 17.000 = 0,65.

Nesse caso, a empresa só tem 65% dos recursos para pagar suas obrigações.

Importante: algumas fórmulas da liquidez seca descontam não só o estoque do ativo circulante, mas também as despesas antecipadas.

Índice de liquidez imediata

O índice de liquidez imediata (LI) é um indicador financeiro que mede a capacidade de uma empresa de arcar com suas obrigações financeiras de curto prazo, considerando apenas os recursos disponíveis imediatamente, como caixa e equivalentes de caixa.

Ele é fundamental para avaliar se a empresa pode enfrentar despesas emergenciais sem depender de vendas futuras ou do recebimento de contas a receber.

Embora um valor baixo na liquidez imediata não signifique necessariamente que a empresa está em crise, ele pode indicar uma posição financeira vulnerável. A gestão eficiente desse indicador permite à empresa lidar com imprevistos financeiros sem recorrer a empréstimos ou atrasar pagamentos.

Assim, a liquidez imediata é um reflexo importante da saúde financeira da empresa em um determinado momento e deve ser analisada em conjunto com outros indicadores de liquidez para uma avaliação mais completa da situação financeira.

Como calcular liquidez imediata? 

O cálculo da liquidez imediata é feito pela divisão do total de disponibilidades pelo passivo circulante. A fórmula é a seguinte:

  • disponibilidades ÷ passivo circulante = liquidez imediata.

O termo “disponibilidades” inclui o caixa, saldos em conta bancária e aplicações financeiras que podem ser convertidas em dinheiro rapidamente. Um resultado superior a 1 indica que a empresa possui recursos suficientes para cobrir suas obrigações imediatas, enquanto um resultado inferior a 1 pode sinalizar dificuldades financeiras.

Exemplo do cálculo de liquidez imediata

Imagine que uma companhia possui R$ 6.000,00 de caixa e R$ 18.000,00 de passivo circulante:

  • R$ 6.000,00 ÷ R$ 18.000,00 = 0,33.

Nesse cenário, a empresa tem apenas 33% dos recursos para arcar com os pagamentos de curto prazo.

Índice de liquidez geral 

O índice de liquidez geral (LG) avalia a capacidade de uma empresa de cumprir suas obrigações considerando todos os ativos, incluindo aqueles que não são circulantes, e todas as obrigações, proporcionando uma visão abrangente da situação financeira da companhia.

A liquidez geral é menos utilizada na gestão diária das empresas, pois seu foco está em um horizonte superior a 12 meses. No entanto, ao comparar os resultados ao longo dos anos, é possível identificar tendências na liquidez da empresa e avaliar se a situação financeira está se deteriorando ou melhorando.

Essa análise é importante para investidores e gestores, porque reflete a saúde financeira da empresa em um período mais extenso.

Como calcular a liquidez geral?

É bastante usual a seguinte fórmula para calcular a liquidez geral:

  • (ativo circulante + realizável a longo prazo) ÷ (passivo circulante + passivo não circulante) = liquidez geral.

Novamente, valores iguais a 1 sugerem que os ativos e passivos estão equilibrados, enquanto resultados abaixo de 1 indicam uma insuficiência de capital para honrar as dívidas. 

Exemplo do cálculo de liquidez geral

Uma empresa tem R$ 30.000,00 de ativos e R$ 3.000,00 de realizável a longo prazo. Ela também tem R$ 17.000,00 de passivo circulante e R$ 43.000,00 de passivo não circulante:

  • (R$ 30.000,00 + R$ 3.000,00) ÷ (R$ 17.000,00 + R$ 43.000,00) = R$ 33.000,00 ÷ R$ 60.000,00 = 0,55.

Com esse resultado, a companhia não tem como quitar suas despesas.

Como analisar os índices de liquidez 

A análise dos índices de liquidez é essencial para entender a capacidade de uma empresa honrar suas obrigações financeiras.

Os resultados dos índices de liquidez podem ser interpretados com base em três categorias: 

  • um índice maior que 1 indica que a empresa possui ativos suficientes para cobrir suas obrigações, sugerindo uma posição financeira favorável;
  • um índice igual a 1 significa que os ativos disponíveis são exatamente iguais às obrigações, sem margem para imprevistos;
  • um índice inferior a 1 sinaliza que a empresa não tem recursos suficientes para pagar suas dívidas imediatas, o que pode representar um risco financeiro significativo.

Além disso, é relevante considerar a variação dos índices ao longo do tempo e compará-los com benchmarks do setor. Mas o que é benchmark? Traduzindo do inglês significa “referência”. É uma ferramenta de gestão que compara o desempenho de uma empresa com outra para identificar as melhores práticas. 

A interpretação cuidadosa dos índices de liquidez fornece percepções valiosas sobre a capacidade da empresa de enfrentar desafios financeiros e sustentar suas operações no futuro.

Como melhorar os índices de liquidez?

Uma das estratégias é aumentar o ativo circulante, o que pode ser feito por meio da otimização da gestão de contas a receber. Implementar políticas eficazes de cobrança e oferecer incentivos para pagamentos antecipados também podem acelerar o fluxo de caixa.

Outra abordagem é reduzir o passivo circulante, focando na renegociação de prazos com fornecedores e na gestão eficiente das obrigações financeiras. Isso pode incluir a extensão dos prazos de pagamento ou a busca por condições mais favoráveis em contratos existentes. 

A redução de custos operacionais também pode liberar recursos que podem ser alocados para o pagamento de dívidas.

Além disso, a empresa pode considerar a venda de ativos não essenciais para aumentar a liquidez imediata. Essa medida deve ser avaliada cuidadosamente, garantindo que não comprometa a operação do negócio. 

A combinação dessas estratégias pode resultar em uma melhoria significativa nos índices de liquidez, proporcionando maior capacidade para enfrentar obrigações financeiras.

Por que é importante acompanhar os índices de liquidez? 

Além de entender os indicadores de liquidez, vale ressaltar que a empresa pode usar esses dados para fazer comparações regulares — a cada mês, semestre ou ano. Essa análise mostra o grau de evolução da saúde financeira do negócio e o ritmo em que ele cresce ou desacelera.

Também é possível verificar os índices de companhias concorrentes e, assim, definir ações estratégicas. Além disso, uma empresa de capital aberto tem em mente que estes dados contribuem para atrair mais investidores.

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