O Índice de Basileia, termo nem tão conhecido do mercado, mas que passa a ser mais discutido quando surge alguma crise bancária, é um importante indicador que dá sinais sobre a saúde financeira dos bancos.
Assim como essas instituições financeiras fazem a análise de crédito de seus clientes antes de conceder um empréstimo, é possível analisá-las por meio deste indicador.
Esse indicador pode ser importante para descobrir como escolher um CDB (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo.
Descubra aqui o que é o Índice de Basileia, qual sua origem, como calculá-lo e qual seu índice ideal para um bancos ser considerável saudável.
O que é o Índice de Basileia
O Índice de Basileia é um indicador internacional que possui a finalidade de analisar a saúde financeira de uma instituição financeira. A grosso modo, ele mede o quanto o banco tem de patrimônio em relação ao seu volume de empréstimos.
“É um índice que tem como objetivo saber qual é a solvência de um banco. Mede o quanto um banco está alavancado, qual o seu nível de endividamento. É como se fosse uma forma mesmo de medir uma instituição bancária”, explica Fábio Louzada, economista, analista CNPI, planejador financeiro CFP®️ e fundador da Eu me banco.
“Se vai emprestar um dinheiro para aquela instituição por meio de um CDB, é sempre válido saber se o índice de Basileia da empresa está dentro da normalidade. Dessa forma, se sabe o quanto essas instituições estão se expondo a riscos”, complementa.
Ele se baseia em um modelo de fiscalização composto por um conjunto de regras sobre os requisitos mínimos de capital de um banco com o objetivo de evitar colocar os recursos de clientes e investidores em risco.
Ou seja, o indicador permite examinar a capacidade da instituição de pagar suas dívidas utilizando seu patrimônio.
Da mesma forma que um banco analisa o crédito de um cliente, o índice de Basileia serve para analisar essas instituições e saber se, ao investir, seu dinheiro será empregado em um local seguro.
Origem do Índice de Basileia
O Comitê de Basileia foi criado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) em 1974. Já o Índice de Basileia surgiu após uma série de acordos.
Em 1988, o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, órgão ligado ao BIS, firmou o Acordo de Capital de Basileia, também chamado de Basileia I, envolvendo diversos países em um evento em uma cidade da Suíça com o mesmo nome.
O indicador estabelecia o capital mínimo que os bancos deveriam possuir para financiar suas operações.
Em 1994, o Brasil aderiu a esse modelo.
Em 2004 o Basileia I sofreu alterações e deu origem ao Basileia II, no entanto, em 2010, dois anos após a crise financeira mundial, surgiu o Basileia III, que vigora até hoje, mas o Basileia III não substitui o Basileia II, assim como Basileia II não substituiu Basileia I.
Segundo o Banco Central (BC), “Na verdade, trata-se de um movimento contínuo de aprimoramento da estrutura prudencial aplicável às instituições financeiras”.
Ainda segundo a autarquia, os objetivos de sua implantação eram: tornar o sistema financeiro mais resiliente; reduzir custos de crises bancárias e amparar o crescimento sustentável, com destaque para a reformulação da estrutura de capital das instituições financeiras.
“Basileia III é a resposta regulatória internacional à recente crise financeira e bancária”, disse a instituição.
“O Acordo, apesar de complexo, inspira-se em um princípio muito simples: os bancos precisam ser seguros para seus clientes, tanto pessoas quanto empresas, e ter recursos próprios suficientes (sob a forma de capital, provisões, recursos livres, etc.) para enfrentar situações de crise”.
Como funciona o Índice de Basileia
Entendendo que o Índice de Basileia foi criado para regular o funcionamento das instituições financeiras e estabelecer um valor mínimo de patrimônio para que elas possam realizar suas atividades, vamos entender como funciona na prática.
O índice de Basileia do Brasil é estabelecido pelo Banco Central. Basicamente, o órgão define uma porcentagem mínima e os bancos que ultrapassarem esse índice são considerados mais seguros.
“Por meio desse índice, a ideia é regular o funcionamento dos bancos e evitar que eles se alavanquem demais, de forma a reduzir possíveis calotes”, diz Fábio.
Internacionalmente, é sugerido que esse valor mínimo seja de 8%. No Brasil, ele foi estabelecido em 11%, com exceção para os bancos cooperados, cujo índice mínimo foi de 13%.
O Banco Central descreve quais são as medidas definidas pela Basileia para fortalecer o sistema bancário.
“Entre essas medidas, estão uma definição de capital mais rigorosa com o objetivo de ampliar a capacidade de absorver as perdas; harmonização internacional da definição do capital; ampliação do escopo dos riscos capturados pela estrutura de capital; criação de duas modalidades de capital suplementar que incentivam instituições a acumular reservas adicionais de capital; introdução do índice de alavancagem como medida ao requerimento mínimo de capital e adoção de requerimentos mínimos quantitativos para a liquidez”, cita Fábio.
Importância do Índice
O Índice de Basileia é muito importante, pois mensura a saúde financeira dos bancos, considerando que o funcionamento dessas instituições é diferente do de outras empresas e garantindo que tenham recursos financeiros suficientes para cobrir as perdas decorrentes de riscos das operações.
O dinheiro captado pelos bancos é utilizado em produtos como empréstimos e financiamentos, dessa forma, ele “pega dinheiro emprestado” e empresta a clientes e outras instituições, como bancos, por meio do CDI, por exemplo.
Seu intuito é dar estabilidade ao sistema bancário mundial, por isso esse indicador é essencial para a economia dos países.
Diferença para o Índice de Mobilização
Fábio Louzada esclarece que o índice de Mobilização mede o quanto uma instituição tem de investimentos em ativos imobilizados como imóveis e veículos.
“São ativos que acabam representando custos para as instituições e acabam restringindo o banco de pagar suas dívidas, por exemplo. Por isso, esse índice não pode ser alto”, explica. “Segundo o Banco Central, as instituições não podem deixar mais de 50% do patrimônio em itens imobilizados. Se isso acontecer, a empresa precisa vender os ativos imobilizados para ficar dentro da lei. É bem diferente do índice de Basileia, que na verdade, foca em saber o nível de solvência da instituição”, finaliza.
Diferentemente do Índice de Basileia, no caso do índice de mobilização, quanto menor o seu valor, melhor.
O máximo que esse índice pode atingir, segundo o Banco Central, é 50%.
Como calcular o Índice de Basileia
Fábio explica que para o cálculo do Índice de Basileia (IB), é necessário dividir o PR (Patrimônio de Referência) pelo RWA (valor dos ativos ponderados pelo risco).
IB = PR/RWA
O PR é calculado por meio da soma do Capital Nível I, que é composto pelo Capital Principal e pelo Capital Complementar, e pelo Nível II.
Já para calcular o RWA, devemos somar as parcelas de risco de crédito, risco de mercado e risco operacional.
Confira abaixo a demonstração contábil do Banco do Brasil em dezembro de 2022 com todas essas informações.
- IB = 178.688.546/ 1.072.894.044
- IB = 0,1665 (multiplicando por 100, temos 16,65%)
Esses dados são encontrados nos balanços das instituições.
O percentual, que for o resultado da conta, é o valor que o acionista tem como patrimônio. O mínimo considerado favorável, segundo regras internacionais, é o percentual de 8%.
No entanto, Fábio Louzada explica que essa é uma conta complicada para o investidor pessoa física fazer e que o ideal é que ele se informe em relação ao Índice de Basileia do banco com o seu assessor de investimentos ou gerente bancário.
No caso do Banco do Brasil, de maneira simplificada, se seu índice de Basileia é de 16,65%, temos que: a cada R$ 100 de recursos emprestados pelo banco, R$ 16,65 são recursos próprios e o restante pertence a terceiros.
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Como consultar os valores do Índice
Como dito anteriormente, o índice de Basileia pode ser consultado de várias formas sem a necessidade de fazer o cálculo sozinho.
Se preferir, pode perguntar ao seu assessor de investimentos ou ao gerente de seu banco.
É possível verificar no site do Banco Central a série histórica de alguns indicadores relacionados às instituições financeiras.
Para isso, basta acessar este link, selecionar o período desejado; o tipo de instituição Conglomerados Prudenciais e Instituições Independentes, e optar pelo tipo de relatório Resumo, conforme consta na imagem abaixo:
Também é possível verificar os valores pelo Site Bancodata.
Basta pesquisar o nome do banco e clicar nesse mesmo nome, em azul, abaixo de “Prudencial”.
Índice de Basileia dos principais bancos do Brasil
Confira abaixo o índice de Basileia de algumas das principais instituições:
Instituição | Índice de Basileia (%) |
Itaú | 15,13 |
Banco do Brasil | 15,7 |
Caixa Econômica Federal | 16,6 |
Bradesco | 15,5 |
Santander | 13,5 |
BNDES | 31,2 |
BTG Pactual | 15,4 |
Safra | 18,5 |
XP Investimentos | 20,02 |
JP Morgan | 16,47 |
Inter | 22,8 |
Banco C6 | 11,4 |
Credit Suisse | 23,2 |
Goldman Sachs | 19,35 |
Morgan Stanley | 23,9 |
Banco Modal | 15,8 |
Nubank | sem informação |
Fonte: Banco Central (dados de junho/2023)
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O que acontece se o índice de Basileia atingir 20%?
Fábio Louzada explica que o mínimo valor considerado favorável para o Índice de Basileia é o percentual de 8%. Então, se atingir 20%, a instituição está bem colocada.
Simplificando: se esse índice chega a 20%, significa que, a cada R$ 100 em empréstimos concedidos pela instituição, por exemplo, R$ 20 fazem parte de seu patrimônio.
De maneira grosseira, se houver um “calote”, o banco terá R$ 20 dos sócios para cobrir essa perda.