Índice de Basileia: entenda como calcular o risco de investir em um banco

Índice serve para medir o quão seguro é um banco

Ilustração: Daniela Arbex

O Índice de Basileia, termo nem tão conhecido do mercado, mas que passa a ser mais discutido quando surge alguma crise bancária, é um importante indicador que dá sinais sobre a saúde financeira dos bancos.

Assim como essas instituições financeiras fazem a análise de crédito de seus clientes antes de conceder um empréstimo, é possível analisá-las por meio deste indicador.

Esse indicador pode ser importante para descobrir como escolher um CDB (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo.

Vaja abaixo o que é o Índice de Basileia, qual é sua origem, como calculá-lo e qual é o índice ideal para um banco ser considerável saudável.

O que é o Índice de Basileia

O Índice de Basileia é um indicador internacional que possui a finalidade de analisar a saúde financeira de uma instituição financeira. A grosso modo, ele mede o quanto o banco tem de patrimônio em relação ao seu volume de empréstimos.

“É um índice que mede quanto um banco está alavancado, qual o seu nível de endividamento. É como se fosse uma forma mesmo de medir uma instituição bancária”, explica Fábio Louzada, economista, analista CNPI, planejador financeiro CFP e fundador da “Eu me banco”. 

“Se vai emprestar um dinheiro para aquela instituição por meio de um CDB, é sempre válido saber se o índice de Basileia da empresa está dentro da normalidade. Dessa forma, se sabe o quanto essas instituições estão se expondo a riscos”, complementa.

O índice se baseia em um modelo de fiscalização composto por um conjunto de regras sobre os requisitos mínimos de capital de um banco com o objetivo de evitar colocar os recursos de clientes e investidores em risco.

Ou seja, o indicador permite examinar a capacidade da instituição de pagar suas dívidas utilizando seu patrimônio.

Da mesma forma que um banco analisa o crédito de um cliente, o índice de Basileia serve para analisar essas instituições e saber se, ao investir, seu dinheiro será empregado em um local seguro.

Origem do Índice de Basileia

O Comitê de Basileia foi criado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) em 1974. Já o Índice de Basileia surgiu após uma série de acordos. 

Em 1988, o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, órgão ligado ao BIS, firmou o Acordo de Capital de Basileia, também chamado de Basileia I, envolvendo diversos países em um evento em uma cidade da Suíça com o mesmo nome.

O indicador estabelecia o capital mínimo que os bancos deveriam possuir para financiar suas operações.

Em 1994, o Brasil aderiu a esse modelo. 

Em 2004 o Basileia I sofreu alterações e deu origem ao Basileia II, no entanto, em 2010, dois anos após a crise financeira mundial, surgiu o Basileia III, que vigora até hoje, mas o Basileia III não substitui o Basileia II, assim como Basileia II não substituiu Basileia I. 

Segundo o Banco Central (BC), “na verdade, trata-se de um movimento contínuo de aprimoramento da estrutura prudencial aplicável às instituições financeiras”. 

Ainda segundo a autarquia, os objetivos de sua implantação eram: tornar o sistema financeiro mais resiliente; reduzir custos de crises bancárias e amparar o crescimento sustentável, com destaque para a reformulação da estrutura de capital das instituições financeiras.

Basileia III é a resposta regulatória internacional à recente crise financeira e bancária”, diz a instituição.

“O Acordo, apesar de complexo, inspira-se em um princípio muito simples: os bancos precisam ser seguros para seus clientes, tanto pessoas quanto empresas, e ter recursos próprios suficientes (sob a forma de capital, provisões, recursos livres, etc.) para enfrentar situações de crise”.

Como funciona o Índice de Basileia

O Índice de Basileia no Brasil é regulamentado pelo Banco Central, que define um percentual mínimo obrigatório para todas as instituições financeiras. Os bancos que mantêm um índice superior a esse mínimo são considerados mais sólidos e seguros para clientes e investidores.

“Esse índice tem como objetivo principal controlar o funcionamento dos bancos e evitar que eles se alavanquem distraidamente, o que ajuda a reduzir o risco de calotes e perdas no sistema financeiro”, explica Fábio Louzada, economista e analista financeiro.

No cenário internacional, o padrão mínimo sugerido pelo Comitê de Basileia é de 8%. No Brasil, esse valor foi elevado para 11%, com uma regra diferenciada para os bancos cooperativos, cujo índice mínimo foi previsto em 13%.

O Banco Central destaca que as medidas previstas pelo Acordo de Basileia visam fortalecer o sistema bancário. Entre elas estão: a definição de critérios mais específicos para o regulador de capital, com o objetivo de ampliar a capacidade das instituições para absorver perdas; a harmonização internacional desses critérios; a ampliação dos tipos de risco cobertos pela estrutura de capital; a criação de modalidades adicionais de capital suplementar para promover a acumulação de reservas extras; a introdução do índice de alavancagem como uma métrica complementar às exigências mínimas de capital; e a implementação de parâmetros quantitativos mínimos para liquidez.

Essas diretrizes garantem maior estabilidade ao sistema financeiro, protegendo investidores e clientes contra eventuais crises.

Importância do Índice

O Índice de Basileia é muito importante, pois mensura a saúde financeira dos bancos, considerando que o funcionamento dessas instituições é diferente do de outras empresas e garantindo que tenham recursos financeiros suficientes para cobrir as perdas decorrentes de riscos das operações.

O dinheiro captado pelos bancos é utilizado em produtos como empréstimos e financiamentos, dessa forma, ele “pega dinheiro emprestado” e empresta a clientes e outras instituições, como bancos, por meio do CDI, por exemplo.

Seu intuito é dar estabilidade ao sistema bancário mundial, por isso esse indicador é essencial para a economia dos países.

Diferença para o Índice de Mobilização

Fábio Louzada esclarece que o índice de Mobilização mede o quanto uma instituição tem de investimentos em ativos imobilizados como imóveis e veículos. 

“São ativos que acabam representando custos para as instituições e acabam restringindo o banco de pagar suas dívidas, por exemplo. Por isso, esse índice não pode ser alto”, explica. “Segundo o Banco Central, as instituições não podem deixar mais de 50% do patrimônio em itens imobilizados. Se isso acontecer, a empresa precisa vender os ativos imobilizados para ficar dentro da lei. É bem diferente do índice de Basileia, que na verdade, foca em saber o nível de solvência da instituição”, finaliza.

Diferentemente do Índice de Basileia, no caso do índice de mobilização, quanto menor o seu valor, melhor. O máximo que esse índice pode atingir, segundo o Banco Central, é 50%.

Como calcular o Índice de Basileia

Para calcular o Índice de Basileia (IB), é necessário dividir o PR (Patrimônio de Referência) pelo RWA (valor dos ativos ponderados pelo risco). 

IB = PR/RWA

O PR é calculado por meio da soma do Capital Nível I, que é composto pelo Capital Principal e pelo Capital Complementar, e pelo Nível II.

Já para calcular o RWA, devemos somar as parcelas de risco de crédito, risco de mercado e risco operacional.

Confira abaixo a demonstração contábil do Banco do Brasil em dezembro de 2022 com todas essas informações.

  • IB = 178.688.546/ 1.072.894.044
  • IB = 0,1665 (multiplicando por 100, temos 16,65%)

Esses dados são encontrados nos balanços das instituições. 

O percentual, que for o resultado da conta, é o valor que o acionista tem como patrimônio. O mínimo considerado favorável, segundo regras internacionais, é o percentual de 8%.

No entanto, Fábio Louzada explica que essa é uma conta complicada para o investidor pessoa física fazer e que o ideal é que ele se informe em relação ao Índice de Basileia do banco com o seu assessor de investimentos ou gerente bancário. 

No caso do Banco do Brasil, de maneira simplificada, se seu índice de Basileia é de 16,65%, temos que: a cada R$ 100 de recursos emprestados pelo banco, R$ 16,65 são recursos próprios e o restante pertence a terceiros.

Balanço patrimonial: o que é?

Como consultar os valores do Índice?

Como dito anteriormente, o índice de Basileia pode ser consultado de várias formas sem a necessidade de fazer o cálculo sozinho.

Se preferir, pode perguntar ao seu assessor de investimentos ou ao gerente de seu banco. 

É possível verificar no site do Banco Central a série histórica de alguns indicadores relacionados às instituições financeiras.

Para isso, basta acessar este link, selecionar o período desejado; o tipo de instituição Conglomerados Prudenciais e Instituições Independentes, e optar pelo tipo de relatório Resumo, conforme consta na imagem abaixo:

Também é possível verificar os valores pelo Site Bancodata

Basta pesquisar o nome do banco e clicar nesse mesmo nome, em azul, abaixo de “Prudencial”.

Índice de Basileia dos principais bancos do Brasil

InstituiçãoÍndice de Basileia (%) (2025)
Itaú Unibanco15,7
Banco do Brasil15,7
Caixa Econômica Federal16,6
Bradesco15,5
Santander Brasil13,5
BTG Pactual15,4
Banco Inter22,8
Banco C611,4
Credit Suisse Brasil23,2
Goldman Sachs Brasil19,35
Morgan Stanley Brasil23,9
Banco Modal15,8
XP Investimentos20,02
Fonte: Banco Central do Brasil (dados de 2025)

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O que acontece se o índice de Basileia atingir 20%?

Fábio Louzada esclarece que o valor mínimo considerado favorável para o Índice de Basileia é de 8%, segundo padrões internacionais. No entanto, no Brasil, o Banco Central estabelece esse mínimo em 11%, reforçando a segurança do sistema financeiro nacional. Quando uma instituição apresenta um índice de 20%, ela está em uma posição muito sólida.

De forma simplificada, um índice de 20% significa que, para cada R$ 100 em empréstimos empréstimos, R$ 20 devem ao patrimônio próprio da instituição, ou seja, aos recursos de seus sócios e acionistas. Isso significa que, em caso de inadimplência ou perdas, o banco teria R$ 20 para absorver esses impactos antes de comprometer fundos de terceiros.

Portanto, quanto maior o índice, maior a capacidade da instituição para suportar riscos e manter sua estabilidade financeira, proporcionando mais segurança para clientes e investidores.

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