O que é meta de inflação e quem a determina

Sistema foi criado em 1990, na Nova Zelândia, porém, só foi adotado pelo Brasil em 1999

Prédio do Banco Central em Brasília para ilustrar conteúdo sobre meta de inflação
Prédio do Banco Central em Brasília (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

A meta de inflação é um dos principais instrumentos para orientar a política econômica no Brasil. Com a adoção do novo regime de meta contínua, anunciado pelo governo em 2023 e formalizado em 2024, o país mudou a forma como acompanha e persegue a estabilidade de preços. Mas, afinal, o que é a meta, para que serve e como funciona hoje?

O que é meta de inflação?

A meta de inflação é um parâmetro que indica até quanto os preços podem variar ao longo de um período. Segundo o Banco Central (BC), ela funciona como uma “âncora de expectativas”, ajudando a orientar quanto o mercado espera de inflação no futuro. No Brasil, essa meta é definida com base no IPCA, o índice oficial que mede a variação dos preços ao consumidor.

Além do valor central, a meta sempre vem acompanhada de uma faixa de tolerância — um limite mínimo e máximo dentro do qual o IPCA deve permanecer. Com esses números em mãos, o BC ajusta sua política monetária, sobretudo a taxa Selic, para tentar manter a inflação dentro desse intervalo e evitar que os preços saiam do controle.

Esse regime foi adotado no Brasil em 1999 e faz parte do chamado tripé macroeconômico, que inclui:

  • meta fiscal;
  • câmbio flutuante;
  • metas de inflação.

Ele surgiu para evitar o retorno do descontrole inflacionário observado antes do Plano Real, garantindo mais previsibilidade e estabilidade à economia.

Como funciona o regime de metas de inflação?

Tradicionalmente, o Brasil adotou metas para anos específicos, avaliadas ao fim do ano-calendário. Entretanto, desde 2025, o país passou a seguir o modelo de meta contínua, formalizado pelo Decreto 12.079/2024 e pela Resolução CMN 5.141/2024.

Nesse novo modelo:

  • a inflação é acompanhada mês a mês, pelo acumulado em 12 meses;
  • a meta em vigor é de 3%, com tolerância de ±1,5 ponto percentual (entre 1,5% e 4,5%);
  • não há mais uma meta para um ano específico; ela permanece válida até nova decisão do CMN.

Se o IPCA ficar fora da faixa de tolerância por seis meses consecutivos, configura-se descumprimento da meta. Nessas situações, o presidente do Banco Central deve enviar carta aberta ao ministro da Fazenda, explicando as causas e quais medidas serão tomadas para trazer a inflação de volta ao intervalo.

Segundo o BC, o regime envolve quatro pilares operacionais:

  • A meta é definida e divulgada publicamente pelo CMN.
  • O Copom estabelece a meta da taxa Selic para controlar a inflação.
  • O BC executa operações para influenciar a Selic.
  • A taxa Selic afeta a economia por diversos canais e, por fim, a inflação.

Importância da meta de inflação

O regime de metas serve como um instrumento estruturado de controle da inflação, ajudando a preservar o poder de compra da população. Ele permite que o Banco Central avalie os efeitos das políticas monetárias já adotadas e ajuste sua atuação com base em expectativas e dados atualizados.

Ao delimitar um intervalo considerado adequado para a inflação, o regime fornece previsibilidade para consumidores, empresas e investidores, contribuindo para decisões mais seguras em crédito, investimentos, preços e salários.

Quando a inflação se afasta do objetivo, o BC tende a adotar políticas contracionistas (como elevação da Selic). Quando fica abaixo, podem ser usadas políticas expansionistas, sempre com foco em estabilidade.

Quem determina a meta de inflação

A definição da meta cabe ao Conselho Monetário Nacional (CMN), formado por:

  • ministro da Fazenda (presidente do CMN);
  • ministro do Planejamento;
  • presidente do Banco Central.

O CMN define a meta e a faixa de tolerância. Após isso, o Banco Central, por meio do Copom, conduz a política monetária necessária para manter a inflação dentro do intervalo, principalmente ajustando a taxa Selic.

Com o modelo contínuo, o CMN não define mais três anos de metas de uma só vez. Em vez disso, fixa um valor que permanece válido até nova decisão. O BC monitora o IPCA todos os meses, e descumprimentos persistentes exigem explicações formais e plano de ação.

Histórico de metas de inflação no Brasil

As primeiras metas adotadas no país eram mais altas, refletindo a transição após anos de inflação elevada. À medida que a economia ganhou estabilidade, as metas foram reduzidas gradualmente.

Houve anos em que o IPCA ficou acima do teto da meta, como 2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022. A partir de 2025, com a meta contínua, o acompanhamento passa a ser mensal, e o critério para descumprimento muda para o estouro da faixa de tolerância por seis meses seguidos.

Abaixo, segue a tabela com todas as metas desde 1999 e a inflação efetiva de cada ano.

AnoNormaDataMeta (%)Tamanho
do intervalo +/- (p.p.)
Intervalo
de tolerância (%)
Inflação efetiva
(Variação do IPCA, %)
1999Resolução CMN nº 2.615
​30/6/1999​826-108,94
2000Resolução CMN nº 2.615
​30/6/1999​​6​24-85,97
2001Resolução CMN nº 2.615
​30/6/1999​​4​22-67,67
2002Resolução CMN nº 2.7446/28/20003,521,5-5,512,53
2003*Resolução CMN nº 2.842
Resolução CMN nº 2.972
28/6/2001
27/6/2002
3,25
4
2
2,5
1,25-5,25
1,5-6,5
9,30
9,30
2004*Resolução CMN nº 2.972
Resolução CMN nº 3.108
27/6/2002
25/6/2003
3,75
5,5
2,5
2,5
1,25-6,25
3-8
7,6
2005Resolução CMN nº 3.1086/25/20034,52,5451095,69
2006Resolução CMN nº 3.2106/30/20044,5​2,02,5-6,53,14
2007Resolução CMN nº 3.2916/23/20054,5​2,02,5-6,54,46
2008Resolução CMN nº 3.3786/29/20064,5​2,02,5-6,55,9
2009Resolução CMN nº 3.4636/26/20074,5​2,02,5-6,54,31
2010Resolução CMN nº 3.5847/1/20084,5​2,02,5-6,55,91
2011Resolução CMN nº 3.748​30/6/20094,5​2,02,5-6,56,5
2012Resolução CMN nº 3.8806/22/20104,522,5-6,55,84
2013Resolução CMN nº 3.991​30/6/20114,5​2,02,5-6,55,91
2014Resolução CMN nº 4.0956/28/20124,5​2,02,5-6,56,41
2015Resolução CMN nº 4.2376/28/20134,5​2,02,5-6,510,67
2016Resolução CMN nº 4.3456/25/20144,5​2,02,5-6,56,29
2017Resolução CMN nº 4.4196/25/20154,51,53,0-6,02,95
2018Resolução CMN nº 4.4996/30/20164,51,53,0-6,03,75
2019Resolução CMN nº 4.5826/29/20174,251,52,75-5,754,31
2020Resolução CMN nº 4.5826/29/2017​4,001,52,50-5,504,52
2021Resolução CMN nº 4.6716/26/20183,751,52,25-5,2510,06
2022Resolução CMN nº 4.724​27/6/20193,51,52,00-5,00​5,79
2023Resolução CMN nº 4.8316/25/20203,251,51,75-4,754,62
2024Resolução CMN nº 4.9186/24/202131,51,50-4,504,83
2025Resolução CMN nº 5.0186/23/202231,51,50-4,504,9 (projeção do Banco Central)
Fonte: Banco Central

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