Entre outubro de 2024 e o mesmo mês deste ano, esses aluguéis passaram de R$ 216 bilhões para R$ 332 bilhões, de acordo com levantamento do DataWise+, solução da B3 e Neoway.
Nesse tipo de operação, um investidor, chamado de doador, disponibiliza temporariamente seus ativos financeiros, como ações ou cotas de ETFs (fundos de índices), ou seja, aluga as ações ou cotas de ETFs para outro investidor (tomador). Para isso, esse doador recebe uma remuneração do tomador.
Para ganhar com a queda, o processo funciona, basicamente, da seguinte maneira: o investidor aluga as ações, depois vende os papéis e espera pela baixa das cotações. Quando os preços caírem, basta recomprar a quantidade vendida, devolver para o doador e embolsar a diferença.
É lógico que se ocorrer o oposto, ou seja, as ações subirem, o tomador pode amargar um prejuízo. Isso porque terá de recomprar os papéis mais caro para poder devolver ao dono. Explicamos o processo mais para a frente.
O levantamento da B3 e Neoway mostra os 10 ativos mais alugados entre outubro de 2024 e outubro de 2025. São:
- Cota do ETF do Ibovespa (BOVA11)
- Ação ordinária (ON) da Vale (VALE3)
- Ação preferencial (PN) da Petrobras (PETR4)
- Ação preferencial (PN) do Itaú Unibanco (ITUB4)
- Ação ordinária (ON) do Banco do Brasil (BBAS3)
- Ação ordinária (ON) da Ambev (ABEV3)
- Ação preferencial (PN) do Bradesco (BBDC4)
- Ação ordinária (ON) da Petrobras (PETR3)
- Ação ordinária (ON) da Eletrobras (atual Axia) (ELET3 / AXIA3)
- Ação ordinária (ON) da Prio (PRIO3)
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Há diversos motivos para os investidores apostarem na queda de uma ação ou índice. O Ibovespa, por exemplo, registrou uma alta de 13,44% no período avaliado. Em tempos de juros no maior patamar em 10 anos, muita gente pode achar que a bolsa já andou tudo o que tinha para avançar e que, a partir dos próximos meses, vai acabar devolvendo parte da subida.
Os preços das commodities também podem ter influenciado as posições vendidas. No caso da Petrobras, por exemplo, o barril do petróleo tem oscilado em uma faixa pouco acima dos US$ 60. No início do ano, o mercado alimentava a expectativa de uma cotação acima dos US$ 80 para o fim de 2025.
Do mesmo modo, as oscilações de cotações do minério de ferro na primeira metade deste ano trouxeram uma pressão sobre os resultados da Vale no começo do ano. O preço da tonelada chegou a cair 10% em abril. Havia entre os analistas, no segundo trimestre, expectativa de que o valor da tonelada iria fechar o ano abaixo de US$ 100, um patamar que não se vê desde 2019.
Quem alugou mais
O levantamento da B3 mostra ainda que, entre os tomadores, a maior participação veio dos fundos de investimento, que responderam por 47% das operações, seguidos por investidores não residentes (36%), instituições financeiras (12%), pessoas físicas (3%) e pessoas jurídicas, com participação residual (0,4%).
Entre os doadores, os fundos lideram com 41% do valor total. Em segundo lugar está a categoria de pessoa física, que representa 33% das ofertas de ativos. Na sequência aparecem os investidores não residentes, com 13%, instituições financeiras, 10%, e pessoas jurídicas, 2%.
Os investidores que emprestaram os ativos faturaram R$ 76,8 milhões só no terceiro trimestre deste ano. O valor representa uma alta de 15,9% em relação ao mesmo período de 2024.
Como funciona a aposta na queda
Vamos dizer que uma ação esteja valendo R$ 10 e você acredita que ela vai cair mais. Então parte para uma venda a descoberto, ou seja, vende algo que não tem. Você aluga 10 mil ações no mercado – pagando uma pequena taxa por esse empréstimo – e vende tudo, na hora. Você embolsa R$ 100 mil.
Vamos dizer que o plano deu certo: o papel caiu para R$ 8. Você recompra as 10 mil ações por R$ 80 mil, devolve ao dono e fica com a diferença. Descontando o custo do aluguel, algo como R$ 800 se você ficar um mês com as ações, no nosso exemplo, o lucro será de R$ 19,2 mil.
Para efeitos práticos, você transforma R$ 800 (a taxa de aluguel) em R$ 19,2 mil. Lucro de 2.300%. É por abrir esse tipo de possibilidade que o mercado de venda a descoberto segue pujante há 4 séculos.
Mas essa moeda tem um outro lado, lógico. O papel pode subir em vez de cari. E, desse modo, quem apostou na queda agora corre contra o prejuízo.
No exemplo citado, se a ação subiu para R$ 12, você precisa recomprar por R$ 120 mil para devolver o papel. Prejuízo de R$ 20 mil, mais a taxa de aluguel.
Investidores espremidos
Esse situação pode escalar se muitos investidores apostaram ao mesmo tempo na queda de um ativo. Conforme o preço sobe, muitos tentam recomprar as ações ao mesmo tempo para limitar o prejuízo. Essa corrida só faz o preço subir ainda mais. A cada nova alta, a pressão aumenta.
Nesse caso, o que temos é um “short squeeze” – quando o mercado “espreme” (squeeze) quem fez a venda a descoberto. Nesse cenário, reduzir o prejuízo vira uma corrida contra o tempo: quanto mais tempo demorar para cobrir maior a chance de o prejuízo se multiplicar.