O mercado de BDRs parece ter sentido a concorrência com as contas internacionais, que permitem investir diretamente lá fora.

Estamos falando dos “recibos” negociados na bolsa brasileira que reproduzem o desempenho de uma ação no exterior. O volume de negociações tem crescido. De 2024 para 2025 a alta foi de 60%, de R$ 617 milhões por dia para perto R$ 985 milhões – para comparar, o da B3 inteira fica em torno de R$ 25 bilhões.

BDRs são sensíveis ao câmbio – já que os recibos das ações gringas flutuam ao sabor do dólar. Se a moeda americana sobe demais, o valor delas em real infla, e é natural que isso empurre os volumes negociados em real para cima. Mas não foi o caso. O câmbio médio Em 2024 foi de R$ 5,39; o de 2025, R$ 5,60 – apenas 4% acima.  

Ou seja: a alta é firme. Mas isso não significa que a modalidade esteja ficando mais popular. O número de investidores está basicamente estagnado desde 2023. Há dois anos, eram 1,1 milhão. Hoje, 996 mil, de acordo com o Relatório Anual de BDRs, da B3. Quer dizer: menos pessoas são responsáveis por um nível maior de movimentação de BDRs na bolsa.

Tudo isso num período em que o S&P 500 (o “Ibovespa” dos EUA) subiu 79% em reais – ou seja, contando a apreciação do índice em si nesses dois anos (76%, graças às empresas de tecnologia) mais a variação do dólar no período (volatilidade à parte, ela foi pequena nesse intervalo: 3%).

A alta da bolsa americana explica o aumento dos aportes em BDRs. Mas não conversa bem com a estagnação número do usuários.

A razão provável aí está no advento das contas internacionais, que permitem investir diretamente em ações negociadas na NYSE e na Nasdaq. Diversas plataformas e bancos digitais passaram a oferecer esse serviço.

E há uma vantagem em fazer isso em vez de optar pelas BDRs: a liquidez lá fora é maior. Ou seja: a diferença entre o melhor preço de compra e o melhor preço de venda (algo essencial nas negociações diárias) tende a ser mínima (US$ 0,01 acima ou abaixo do preço corrente).

Entre as BDRs, o gap é maior, já que o mercado é menos fervilhante. Significa que, na hora da compra, você precisa dar uma oferta mais alta para levar; e, no momento da venda, colocar um desconto na mesa. Se é assim, então, por que, então, comprar uma ação da Nvidia aqui se eu posso comprá-la diretamente na bolsa americana, com sua liquidez infinita?

De qualquer forma, a própria Nvidia um dos BDRs mais buscados no Brasil. São R$ 115 milhões movimentados diariamente. A Tesla, com R$ 131 milhões, e o Banco Inter, com R$ 82 milhões de volume médio diário também estão na lista.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) oficializou a criação dos BDRs em 2000 e a primeira listagem foi da GP Investments, uma empresa global de private equity. Eles eram liberados apenas para “investidores qualificados” (com carteiras de mais de R$ 1 milhão). Em 2020, essa restrição caiu. Curiosidade: a estreante desse mercado vai abandoná-lo. Em agosto, a GP Investments aprovou a incorporação pela Consolidation Investments, em uma operação em que fechará seu capital e cancelará definitivamente o programa de BDRs.