O bitcoin (BTC) despencou 17,67% em novembro, registrando seu pior desempenho desde junho de 2022. As principais altcoins também fecharam o mês passado no vermelho, em linha com o que o mercado já esperava. Ainda assim, havia a expectativa – mesmo que tímida – de que dezembro pudesse trazer algum alívio. Não foi o que aconteceu.

O BTC voltou a escorregar com força e recua 6,52% na manhã desta segunda-feira (1º), para US$ 86.017,70. O ethereum (ETH) acompanha o movimento, com queda de 7,30%, para US$ 2.825,99, e praticamente todas as outras criptomoedas também operam no negativo. Esse início turbulento tem vários gatilhos.

Hack reacende temor sobre segurança

Um ataque virtual a um produto do protocolo cripto Yearn Finance resultou em perdas de mil unidades de ethereum, o equivalente a US$ 3 milhões. O episódio reforçou a percepção de que o setor ainda enfrenta falhas de segurança.

O ataque pode ter envolvido vários contratos inteligentes (programas de computador autoexecutáveis) e ainda está sendo investigado. Na semana passada, vale lembrar, uma exchange sul-coreana também foi alvo de uma investida virtual e perdeu US$ 30 milhões dos usuários.

Tether voltar ao foco

Outro ponto de pressão é a situação financeira da Tether, emissora da USDT, a maior stablecoin do mercado. Como o InvestNews mostrou na semana passada, a S&P Global Ratings rebaixou a nota da empresa por temores sobre a composição de suas reservas.

Stablecoins deveriam ter reservas em ativos seguros equivalentes ao total emitido. A Tether, porém, tem aumentado a parcela alocada em bitcoin e ouro – ativos mais voláteis – o que elevou o alerta.

O cofundador da BitMEX, Arthur Hayes, afirmou no fim de semana, em suas redes sociais, que a estrutura atual preocupa. “Uma queda de aproximadamente 30% na posição em ouro + BTC eliminaria o patrimônio deles, e então o USDT estaria, em teoria, insolvente.”

O ruído da Strategy

A Strategy, principal bitcoin treasury company do mercado (empresa listada que mantém parte significativa do caixa em bitcoin), também entrou no radar. A companhia não comprou BTC na última semana, o que levantou dúvidas no mercado.

Além disso, um executivo da Strategy afirmou recentemente que a companhia poderia vender parte das reservas em um cenário extremo de falta de capital ou perda de prêmio atribuído à sua estratégia.

Para Sarah Uska, analista de cripto do Bitybank, isso funcionou como um ruído adicional. Segundo ela, o mercado usa a firma como uma espécie de proxy de bitcoin – ou seja, como uma forma indireta de acessar o desempenho do ativo por meio de suas ações.

“Esse efeito funciona bem em períodos de otimismo, quando o mercado atribui prêmio à estratégia de acumulação da empresa, mas também aumenta a sensibilidade a qualquer menção de mudanças em sua política de tesouraria.”

E o que esperar no restante de dezembro?

Para parte dos analistas, o cenário ainda é de cautela. “Estamos num momento de incerteza no mercado. A macroeconomia não correspondeu e tudo está sendo jogado para frente”, afirmou Mychel Mendes, CFO da Tokeniza.

Mas há um fator potencialmente positivo no horizonte: os juros nos Estados Unidos. Na quarta-feira (10), o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) divulga a nova taxa básica. Hoje, 87% dos agentes esperam um corte de 0,25 ponto percentual, movimento que tende a favorecer cripto e outros ativos de risco.

“Caso confirmado, tende a fortalecer o apetite global por risco – inclusive para cripto”, diz Felipe Martorano, head de criptomoedas da Levante Investimentos.

Veja as cotações das principais criptomoedas às 10h30:

Bitcoin (BTC):  -6,52%, US$ 86.017,70

Ethereum (ETH): -7,30%, US$ 2.825,99

XRP (XRP): -8,24%, US$ 2,02

BNB (BNB): -7,55%, US$ 821,23

Solana (SOL): -8,34%, US$ 127,17

Outros destaques do mercado cripto

Flamengo voa no campo, mas cai em cripto. O Flamengo venceu o Palmeiras no sábado (29) e se tornou o clube brasileiro com mais títulos da Libertadores. Mas, enquanto o time brilha em campo, no universo cripto o cenário é diferente: seu fan token MENGO recua 96% desde o lançamento, em 2021. O VERDAO, token do Palmeiras, também não escapa – acumula perda de 99,67%. Parece que o modelo de fan tokens não conquistou o investidor brasileiro.

Bitcoin como válvula de escape. A Méliuz (CASH3) virou uma bitcoin treasury company no início deste ano. Segundo Diego Kolling, head de estratégia bitcoin da firma, a companhia percebeu que deixar R$ 250 milhões do caixa (montante que tinha na época) em títulos públicos era sinônimo de perder dinheiro por causa dos juros e inflação do país. O BTC acabou virando uma ‘válvula de escape’ para proteger a tesouraria. Hoje, a Méliuz já acumula 605 bitcoins.

Fundos cripto atraem US$ 1 bi. Os fundos globais de criptomoedas voltaram ao terreno positivo após um mês de saídas. Na semana passada, registraram entradas líquidas de US$ 1,07 bilhão, segundo a CoinShares. O Brasil acompanhou o movimento, com fluxo positivo de US$ 9,7 milhões. O detalhe: esse respiro ocorreu antes da virada negativa do bitcoin e das altcoins no domingo (30). Resta saber se o fôlego se mantém ou se os saques voltam a ganhar força.

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