Diante da queda, surge uma pergunta: vale a pena nadar contra a corrente e aumentar a exposição na criptomoeda, em vez de vender, como a maioria está fazendo?
Em tese, seria – a lógica básica de qualquer ativo é: “compre na baixa, venda na alta”. Se você investe em uma cripto quando o preço dela está baixo, você paga menos por cada unidade. Quando o valor sobe, a diferença entre o que você pagou e o que ele vale vira seu lucro. (isso não é uma recomendação de compra; é apenas uma explicação, ok?).
“Na visão estratégica, faz sentido iniciar ou aumentar posição, mas com parcimônia, com entradas fracionadas”, disse Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
Mas nada no mercado financeiro é tão preto no branco, né? A teoria e os especialistas dizem que sim, esse seria um bom momento para comprar, mas há um grande problema a ser observado: não dá para saber se esse é o fundo da cripto – ou seja, o menor preço antes de uma possível alta.
“A queda não garante o fundo. Se o cenário macro piorar (a alta de juros, o dólar pressionando emergentes e o fluxo saindo do risco), a correção pode se estender ainda mais, buscando regiões de suportes (quando a cripto chega em um preço baixo e tende a subir) mais sólidas”, disse Lage.
Até onde o preço pode ir?
Essa é a pergunta de US$ 83 mil, preço que o bitcoin está sendo negociado hoje. Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, disse que é possível observar um pouco de demanda compradora tentando frear o movimento de queda, o que poderia dar uma segurada no deslize.
Se esse movimento continuar, as resistências de curto e médio prazo — quando a cripto chega em um preço alto e tende a cair — estão em torno de US$ 88.000 e US$ 100.000. Mas nada disso é garantido.
Se o fluxo vendedor — que hoje é o dominante — continuar forte e a pressão de baixa persistir, disse ela, “o preço do bitcoin pode sim buscar as regiões de liquidez entre US$ 80.000 e US$ 79.000”.
Também vale lembrar que bitcoin é diferente de bolsa. Empresas têm “fundamentos”, ou seja, o lucro que a operação delas dá – ou o lucro potencial que elas podem dar no futuro, principalmente quando você olha para empresas “de crescimento”, que ainda não operam no azul. E é isso que determina o preço de uma ação.
O bitcoin é diferente. Ele não tem valor intrínseco. O que dá para fazer é observar padrões de variação do passado e ver se eles se repetem no futuro – “análise gráfica”, no jargão.
Por que o mercado está nervoso?
O cenário atual é bem incerto. No lado macroeconômico, o relatório de empregos dos EUA (payroll), divulgado ontem, mostrou uma economia aquecida, com 119 mil vagas de emprego criadas em setembro (bem acima dos 50 mil esperado pelo mercado). Isso sugere que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) pode adiar os cortes de juros para controlar uma possível inflação, o que não é nada bom para as criptomoedas.
Os investidores de ETFs (fundos negociados em bolsa) também estão com o pé atrás com o mercado cripto – os dois pés, para falar a verdade. Eles retiraram US$ 3,79 bilhões dos 11 fundos negociados em bolsa entre o dia 1º de novembro e a quinta-feira (20), segundo dados da plataforma SoSoValue. Foi a maior debandada desde o lançamento desses produtos financeiros, em janeiro de 2024.
Além de tudo isso, o cenário no “mercado tradicional” não tem colaborado nada com cripto. As ações dos EUA, que chegaram a subir após os resultados trimestrais da Nvidia, recuaram nesta tarde. O índice Nasdaq 100, por exemplo, cai 0,20% no momento da publicação deste texto.
Quem está vendendo e quem está comprando?
Tem muita gente “das antigas” vendendo bitcoin. Owen Gunden, um dos primeiros grandes investidores de cripto – uma “baleia” (apelido dado a quem tem grandes quantidades de bitcoin) – voltou a movimentar o mercado. Ele vendeu 11 mil BTC, equivalentes a US$ 1,3 bilhão, entre outubro e ontem, segundo dados da plataforma de análise de blockchain Arkham.
Mas, apesar das quedas recentes, também houve investidores aproveitando os preços menores para ampliar posição. A Strategy – a empresa de tesouraria de bitcoin mais conhecida do mercado – comprou 8.178 BTC entre os dias 10 e 11 de novembro, um investimento de US$ 835,6 milhões pela cotação da época.
El Salvador também adicionou 7.474 bitcoins ao seu “carrinho”, cerca de US$ 680 milhões. Neste caso, porém, a operação levantou dúvidas do mercado. Isso porque o movimento contraria as exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI), que havia proibido novas compras de cripto como condição para liberar um empréstimo bilionário ao país no começo deste ano.
Qual melhor estratégia e quanto investir em bitcoin?
Uma das principais recomendações para investir em criptomoedas é adotar a estratégia de Dollar-Cost Averaging (DCA, em inglês), que consiste em investir um valor fixo na cripto em intervalos regulares – por exemplo, toda semana ou todo mês – independentemente do preço. Em vez de tentar acertar o “melhor preço” ou identificar o fundo, o investidor dilui as compras ao longo do tempo.
Quanto investir em cripto é uma das dúvidas frequentes de investidores também. Para ser direto: varia. “Depende muito do quão comprado com a tese o investidor está e a sua capacidade financeira”, disse Vitor Santoro Bezerra, planejador financeiro CFP e MBA em finanças pela Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças.
No final do ano passado, por exemplo, a gigante dos investimentos BlackRock sugeriu que entre 1% a 2% do portfólio em cripto pode trazer benefícios para o investidor. No entanto, há outras casas que sugerem entre 3% e até 5%, a depender do perfil do investidor.
Quais os riscos de investir em bitcoin?
Os riscos de curto prazo para o bitcoin incluem uma correção mais profunda por causa dos juros nos EUA, reduzindo o apetite por risco e desacelerando os fluxos para ETFs. Há bastante concentração do ativo digital nas mãos de investidores institucionais também, o que adiciona volatilidade caso eles decidam vender. No longo prazo, há sempre os riscos estruturais, como mudanças regulatórias.