Com uma bolsa global que permite a operadores apostarem no resultado de eventos do mundo real – desde eleições até com que frequência Elon Musk publica no X — a Polymarket se tornou o assunto do Vale do Silício e de Wall Street.

O que se comenta menos é que, às vezes, esses resultados não são decididos por fatos objetivos, mas por um grupo de operadores de criptomoedas anônimos que debatem em uma sala de bate-papo online.

Conforme a Polymarket abre caminho para retornar ao mercado dos Estados Unidos depois de três anos, a maior plataforma de mercados de previsão enfrenta um aumento nas críticas dos usuários sobre a maneira confusa e, às vezes, ilógica com que resolve os contratos mais espinhosos.

A Polymarket, que utiliza criptomoedas para processar apostas, terceiriza quaisquer mercados onde ocorra uma disputa para os detentores de um token chamado UMA.

Os detentores do token debatem o assunto antes da votação para decidir o resultado. Embora qualquer pessoa possa monitorar as deliberações e o resultado, quase nenhuma informação está disponível sobre quem controla os tokens UMA — e, portanto, quem controla as decisões.

O processo frequentemente produziu resultados que surpreenderam e dividiram os usuários. Por exemplo, quando mais de US$ 240 milhões foram apostados sobre se o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, havia usado terno antes do final de junho, a palavra final coube aos detentores do UMA.

Eles determinaram que ele não havia usado, o que gerou indignação entre operadores depois que veículos de comunicação exibiram fotos e vídeos indicando o contrário.

O fundador e CEO da Polymarket, Shayne Coplan, não se manifestou sobre esta reportagem.

Hart Lambur, CEO da Risk Labs, emissora do token UMA, disse que o sistema incentiva os eleitores a agirem em prol dos melhores interesses de longo prazo do UMA, o que significa votar “de acordo com as próprias convicções”.

Polymarket: tirania da maioria

Ainda assim, a Polymarket e o grupo descentralizado que supervisiona o UMA trabalham em conjunto com outra empresa chamada EigenLayer para desenvolver uma metodologia diferente.

“O problema que você vê aí é a tirania da maioria”, disse Sreeram Kannan, fundador e CEO da EigenLayer, um projeto de finanças descentralizadas. “A maioria pode dizer algo que não é verdade e não há consequências para isso.”

Já Lambur disse que o objetivo é “melhorar o sistema”, mas sem detalhes.

Mercados preditivos como o Polymarket e o rival Kalshi avançam rapidamente no mundo das finanças tradicionais após chegarem às manchetes pelas previsões corretas sobre as eleições presidenciais dos EUA de 2024.

Uma vitória judicial suspendeu as restrições a tais apostas no ano passado nos EUA, e uma lista crescente de nomes de peso se envolve no setor. Peter Thiel, do Founders Fund, conta com a Polymarket no portfólio, enquanto Donald Trump Jr. é conselheiro da Kalshi.

Sim ou não

Nos principais mercados de previsão, operadores compram ações com opções “sim” ou “não”, e acompanham o resultado de uma situação real.

O volume de compra e venda desses instrumentos determina a probabilidade implícita — e, portanto, o preço — de cada resultado em qualquer momento. Os operadores lucram se venderem as ações por um valor mais alto ou se o mercado ficar a favor do investidor.

Embora o vencedor de uma eleição ou de um jogo esportivo seja geralmente claro, nem todo resultado é inerentemente fácil de definir.

Em um mercado que aposta se o CEO da Astronomer estará “fora” em uma determinada data depois que o caso amoroso dele foi exposto em um show do Coldplay, o fato dele estar de licença conta?

Na Polymarket, se os usuários acreditam que um mercado deve ser “resolvido” — ou seja, encerrado — eles podem investir alguma criptomoeda para sustentar a aposta e apresentar uma proposta para análise pelos detentores do UMA.

Outros usuários podem, então, contestar essa proposta, caso discordem, o que inicia um debate público e, posteriormente, uma votação secreta para determinar o resultado. O processo está descrito no site da Polymarket.

Anteriormente, qualquer pessoa podia fazer uma proposta, com cerca de 7.000 propostas apresentadas na plataforma do UMA todos os meses, das quais cerca de 1% era contestada, de acordo com um post de blog de fevereiro em um site do UMA. Esta semana, foi anunciado que a função ficará restrita a uma lista de usuários experientes, embora o poder de contestar uma proposta permaneça aberto a todos.