O mercado está em euforia. O Ibovespa rompeu recordes consecutivos nas últimas semanas e o dólar continua em queda frente ao real – já são 14% no ano. Só que atrás de todo oba-oba existem os riscos – e eles ainda são muitos. Como todo portfólio precisa ter suas defesas contra solavancos, reunimos aqui os 5 riscos mais relevantes – e quais são as melhores forma de investir para se proteger deles.

1. Risco de inflação

O Brasil tem o segundo juro real do mundo. Com a Inflação um pouco abaixo de 5% e a Selic a 15%, estamos em 9,7% (não dá 10% cravados por que a conta usa a inflação projetada para o futuro, mas isso não faz diferença). Fato é que o nosso é o segundo maior juro real do mundo, atrás apenas da Turquia. Uma olhoda para o top 5 mostra o quanto estamos fora da curva.

Com base nesse dado, Maurício Valadares, diretor de investimentos da Nau Capital, observa o seguinte: abre-se aí uma janela de proteção combinada com ganhos futuros. Como? Por meio de uma estratégia simples: a compra de NTN-B (o Tesouro IPCA+), título de dívida do Tesouro que paga o IPCA mais um juro real, acima da inflação.

Valadares destaca que o prêmio pago hoje pelas NTN-Bs é tão alto que já chegou ao insustentável. Apesar da melhora recente das taxas, elas ainda estão nos maiores níveis da história, acima de 7% – em outras palavras é o mercado considerando que teremos um juro real relativamente alto nas próximas décadas. Mas isso pode mudar.

Ou seja: esse é o momento de “travar” taxas elevadas em títulos públicos de vencimento mais longo antes que os juros comecem a ceder – afinal, se os juros começam a cair, é porque a inflação também está arrefecendo.

Se o investidor carregar o título até o vencimento, receberá os recursos corrigidos de acordo com o que comprou. O problema é vender antes: aí precisará entender que pode perder dinheiro, já que receberá o que o mercado estiver pagando no momento. O jogo aqui é longo prazo.

E aí entra a parte de se proteger contra a inflação. Títulos prefixados, que pagam um juro seco e pronto, também estão num patamar historicamente elevado, garantindo um pouco mais de 13% ao ano até 2032. O problema: se a inflação sai do controle nos próximos anos esses 13% podem ser pouco. Com os títulos IPCA+, que garantem a parte da inflação na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, não há esse problema. Você fica protegido.

2. Risco fiscal e de crédito

A parte fiscal é a mãe de todos os riscos. Gastos públicos elevados, programas de transferência de renda e crédito subsidiado alimentam o crescimento no curto prazo, mas minam a confiança de longo prazo – pois geram inflação e dificultam o trabalho do BC, que precisa manter a Selic elevada.

Na avaliação de Valadares, o cenário de contas públicas frouxas já está precificado nas taxas de juros reais. E aí voltamos para a ideia do ítem 1: aproveitar para comprar NTN-Bs com taxas já altas.

Papéis privados pagam mais que as NTN-Bs, já que são bem mais arriscados. E com elas em alta, os títulos privados também estão com as taxas lá em cima, pagando até IPCA + 20%. É importante, como sempre, ter cuidado com títulos de empresas muito alavancadas – Raízen, CSN, Simpar, Oncoclínicas, Dasa –, mais vulneráveis a juros altos.

E são justamente elas que pagam as maiores taxas em seus títulos, claro, para compensar o risco maior de insolvência. Para quem procura boas remunerações, a tática de investir em empresas assim até pode fazer sentido, mas definitivamente não é a melhor estratégia para quem quer fugir do risco de crédito.

Mas não é só isso. O juro alto também uma ferramenta de defesa: oferece retorno elevado para as reservas de emergência, aquele dinheiro que você deixa mais à mão, para sacar em qualquer momento de necessidade. Nesses momentos, ter uma parte razoável da carteira atrelada à Selic é uma saída importante, via títulos públicos, sobretudo – caso do Tesouro Selic.

3. Risco político e eleitoral

O ciclo eleitoral de 2026 é o maior vetor de incerteza para os próximos dois anos. Não se trata apenas de dizer que uma reeleição de Lula traria mais gastos públicos (e mais pressão inflacionária) e a de um candidato da oposição faria o contrário. O debate pode acabar pautado por promessas eleitoreiras de mais gastos governamentais dos dois lados. O horizonte segue inescrutável.

E o fato é que resultados eleitorais são, essencialmente, um “risco-país”. Para Caio Zylbersztajn, sócio da casa de pesquisa e gestão de patrimônio da Nord, o ideal é deixar o portfólio menos exposto a isso. Em outras palavras: é preciso ter uma alocação internacional mínima obrigatória, de 10% a 15% da carteira, para todos os perfis, principalmente via ETFs que acompanham o mercado de lá – caso do IVVB11, que segue o S&P 500.

4. Risco cambial e de mercado

No mercado de câmbio, dólar segue em queda firme contra o real, mas tudo pode mudar a qualquer momento, sobretudo se o cenário fiscal brasileiro tiver uma piora significativa. Basta lembrar que o dólar estava a R$ 5,10 em maio de 2024 (um patamar ainda mais baixo que os R$ 5,30 de agora), mas fecharia o ano em R$ 6,18, depois de o frágil pacote de ajuste fiscal do governo frustrar os investidores.

Um choque dessa natureza pode ocorrer novamente a qualquer momento – e uma desvalorização do real gera pressão inflacionária. Um real mais barato impulsiona a inflação porque encarece produtos importados e insumos cotados em dólar, como combustíveis, componentes industriais e alimentos. Quando esses itens ficam mais caros em reais, as empresas repassam o aumento aos preços finais, elevando o custo de vida.

Aqui também vale fugir do “risco-país”, por meio da exposição internacional atrelada ao dólar. A queda do dólar até aqui abre algum caminho para quem pretende se posicionar. Impossível saber o futuro do dólar, mas é obviamente melhor entrar em investimentos estrangeiros com o dólar a R$ 5,30 do que com o dólar a R$ 6.

No mercado de renda variável, as ações brasileiras ainda são consideradas baratas em relação ao nível histórico e frente a outros mercados, como os EUA, em que as empresas se valorizaram muito e já são consideradas caras por alguns analistas. A queda de braço da bolsa local é com os juros: se eles permanecem altos, há menos estímulo para a procura pela renda variável.

Só que mesmo nesse cenário o fluxo de recursos estrangeiros segue em bom ritmo, com investidores buscando ações consideradas mais baratas frente aos papéis americanos. Ou seja: as ações brasileiras podem continuar subindo mesmo em cenário político ruim.

Nesse contexto, a euforia vista até aqui dá dois sinais opostos:

1) A oportunidade comprar ações antes de o juro cair e impulsionar ainda mais a bolsa.

2) A disparada de 30% do Ibovespa no ano que estamos vivendo agora é um fato relativamente raro. Não é prudente dar de barato que ele se repetirá em 2026.

5. Risco internacional

Não é só o Brasil que tem problemas na parte fiscal. A dívida americana, no maior nível em relação ao PIB desde a Segunda Guerra Mundial, é uma das maiores preocupações globais – já que pressiona o dólar para baixo.

Essa é uma das razões para a alta do real, e de várias outras moedas de países emergentes no ano, mas não dá para considerar o real como um porto seguro. Trata-se de uma moeda fraca, que e tende a perder valor no longo prazo em um ambiente de busca por proteção global – mesmo se a moeda americana não for a opção preferida dos investidores globais.

O ouro, então, é relevante nesse contexto. Em um mundo dominado por incertezas em várias frentes, investidores não estão buscando apenas oportunidades baratas, fora dos EUA, mas também um equilíbrio com um ativo de proteção tradicional. A demanda forte vem também dos bancos centrais de diversos países.

Valadares, da Nau, chama atenção para o fato de que o ouro já teve uma valorização enorme, de 61% em dólar no ano até agora. Ainda assim, é um ativo importante para o portfólio do ponto de vista estrutural. Mas, claro, sempre tem a mais importante das ressavas: “Mas vale ter atenção ao preço de entrada, porque o investidor pode acabar sofrendo com uma correção de preços”.