O bitcoin (BTC) está em baixa no acumulado da semana – mas as altcoins sofrem ainda mais. Enquanto a maior cripto do mercado cai 8% no acumulado de sete dias, o ethereum (ETH) recua 11% e a solana (SOL) quase 15%.

Esse cenário de melhor desempenho do bitcoin (mesmo em momentos de crise) sobre as outras criptos não se restringe ao curto prazo, mas se mantém em um período de três meses. Basta olhar o Altcoin Season Index, um índice que compara o desempenho do BTC com dezenas de criptos nos últimos 90 dias.

Esse índice funciona basicamente como uma régua que mede o desempenho relativo do bitcoin em relação às altcoins. Ele analisa quais criptomoedas tiveram valorização maior que o BTC e quais ficaram atrás. Cada altcoin que superou o BTC soma pontos para o índice, enquanto aquelas que ficaram atrás não somam. O resultado final é uma escala de 0 a 100: quanto mais próximo de 100, mais as altcoins dominaram o período; quanto mais próximo de 0, mais o bitcoin se destacou.

Hoje, esse indicador está em 26/100, o que significa que só um quarto das altcoins conseguiu se sair melhor do que o bitcoin nesse período. Ou seja, o BTC superou as outras cerca de 75% das altcoins. No mercado cripto, isso é chamado de uma “bitcoin season” – o inverso é “altcoin season.”

Por que as altcoins sofrem mais?

A explicação está no perfil de risco e na estrutura de mercado. Criptos alternativas são, por natureza, mais arriscadas. Elas têm liquidez menor e capitalização de mercado bem reduzida na comparação com o BTC.

Em tempos de pânico e aversão ao risco, como o visto nos últimos dias, a venda de grandes volumes de bitcoin não derruba o preço de forma tão acentuada, pois normalmente há uma contraparte compradora robusta.

Já no ecossistema das altcoins, qualquer ordem grande de venda pode causar quedas bruscas, pois pode ser que não existam compradores suficientes no outro lado para absorver a pressão vendedora sem concessões de preço.

Além disso, os grandes investidores individuais (as chamadas baleias) podem movimentar altcoins menores facilmente, causando variações de preço mais intensas.

O bitcoin também têm mais instrumentos financeiros – ETFs, futuros, opções – que ajudam a estabilizar o preço em momentos de estresse. Altcoins mais conhecidas, como ethereum e solana, também têm, mas as criptos menores não têm acesso a essas ferramentas.

Boa parte do capital investido em altcoins também é especulativo (especialmente nas famosas memecoins). Os traders estão correndo atrás de ganhos rápidos. Isso aumenta a sensibilidade a notícias, rumores ou movimentos de grandes players.

E o futuro: hora de abandonar as altcoins?

A história do mercado cripto é feita de ciclos, e não vale descartar todo um setor baseado em um único momento de baixa. Apesar do cenário desfavorável, as altcoins continuam operando e têm catalisadores importantes no radar.

O BTG Pactual, em um relatório recente, destacou que, além de bitcoin, mantém exposição significativa a ethereum e solana, por exemplo.

“Mantivemos ethereum (ETH) e solana (SOL) entre as maiores exposições, amparadas por ETFs listados nos EUA e pela atuação de tesourarias corporativas na acumulação de posições, vetores que ancoram demanda e contribuem para a formação de preço no médio prazo”, os analistas do banco escreveram em relatório.

No mês passado, os EUA ganharam dois ETFs de solana. Juntos, segundo a plataforma SoSovalue, eles já têm um valor acumulado de US$ 323,02 milhões. Já os ETFs de ethereum, um pouco mais antigos, têm US$ 13,9 bilhões.

Em relação às companhias de tesouraria, 15 empresas de capital aberto já mantêm ethereum em caixa e 10 têm solana, segundo dados da plataforma CoinGecko. Em bitcoin, de acordo com o mesmo site, são mais de 120 companhias (algumas plataformas citam até 200).

O XRP, token associado à Ripple, também vem ganhando espaço nas análises de especialistas. Desde a aprovação de um ETF ligado à moeda nos Estados Unidos, em setembro, cresceu a aposta de que ele pode começar a chamar a atenção dos investidores mais tradicionais.

“Com a situação regulatória resolvida nos EUA, o XRP volta a atrair investidores institucionais. ETFs já operam nos EUA e no Canadá, e a rede Ripple segue avançando em soluções de pagamentos transfronteiriços”, disse Marcelo Person, crypto treasury & markets director da Foxbit.

E as altcoins menores e mais arriscadas?

Para as criptos de menor porte, o cenário de volatilidade acentuada deve permanecer. Mesmo nesse ambiente, projetos em nichos tendem a se destacar, segundo analistas.

Um exemplo citado pela equipe de research do Mercado Bitcoin é o Hyperliquid (HYPE), token nativo de uma exchange descentralizada (DEX, na sigla em inglês) de derivativos.

“Esse projeto vem ampliando sua atuação em campos estratégicos, como o desenvolvimento de uma stablecoin própria, o que pode reforçar ainda mais sua relevância dentro do ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) e gerar novas fontes de demanda para HYPE”.