Confira o ranking dos índices de ações com melhor desempenho neste ano — e os Estados Unidos não aparecem nem no Top 10. Nem no Top 25. Dobre essa lista, e o S&P 500 ainda estará ausente. É preciso chegar até a 66ª posição para o índice mais valioso do mundo aparecer — atrás até do Athex, da Grécia, e do TA-35, de Israel. É uma das piores performances relativas desde a crise financeira global.

A subperformance é ainda mais surpreendente considerando a alta de 11% do S&P 500 em 2025, com múltiplos recordes históricos. Mesmo assim, o índice americano fica atrás de outros mercados desenvolvidos, como o DAX da Alemanha e o Nikkei 225 do Japão, e também de índices da Coreia do Sul, Espanha e Gana, quando medidos em dólares.

Dólar cai e impulsiona bolsas estrangeiras

Esse último detalhe é crucial — embora não determinante. O dólar caiu 7,3% neste ano, o que ajudou a inflar os retornos de bolsas estrangeiras em termos de dólar. Esse é o principal fator por trás de ganhos de pelo menos 39% em países como Colômbia e Marrocos.

Mas mesmo em moeda local, o S&P 500 ocupa apenas a 57ª posição, um desempenho pouco condizente com um índice que abriga as seis empresas mais valiosas do mundo, além de gigantes como Coca-Cola, McDonald’s e Walt Disney.

Participantes do mercado afirmam que a fraqueza reflete também uma mudança de mentalidade entre investidores estrangeiros, que passaram a mirar “campeões domésticos” à medida que o presidente Donald Trump intensifica sua guerra comercial global. As tensões aumentaram na sexta-feira, quando ele renovou ameaças de tarifas à China. Mesmo dentro dos EUA, investidores estão sendo mais seletivos, focando em big techs em vez de índices amplos.

Some-se a isso uma crescente preocupação com a estabilidade política e fiscal do país. O pacote de gastos e cortes de impostos de Trump deve ampliar o déficit. O governo está paralisado desde o início de outubro, o presidente tem ameaçado a independência do banco central e as decisões de investimento público tornaram-se menos técnicas e mais políticas.

Esses fatores abalaram a confiança na economia americana, enfraqueceram o dólar e impulsionaram uma disparada no preço do ouro. Embora os rendimentos dos Treasuries de longo prazo não tenham subido na mesma proporção, permanecem elevados em relação aos últimos anos.

A deterioração fiscal dos EUA e a crescente incerteza política estão corroendo a confiança dos investidores, enfraquecendo o dólar e levando à busca por oportunidades fora do mercado americano, disse Jasmine Duan, estrategista sênior do RBC Wealth Management Asia.

Naturalmente, analistas há anos preveem uma rotação das ações dos EUA para o resto do mundo — previsões que raramente se concretizam. A recente queda do dólar desacelerou nas últimas semanas, à medida que tensões políticas aumentam em países como França, Japão e Argentina.

E embora o S&P 500 esteja bem atrás dos três líderes — Gana, Zâmbia e Grécia, todos com altas de pelo menos 61% — sua valorização de 11% em 2025 criou cerca de US$ 6 trilhões em valor de mercado, o equivalente a mais de um terço de toda a capitalização do índice europeu Stoxx 600.

Os EUA também vêm de dois anos consecutivos de ganhos acima de 20%, superando com folga índices como o Euro Stoxx 50 e o Nikkei 225. Considerando o período de 2022 a 2024, o S&P 500 ocupava o 10º lugar global em desempenho.

Europa e Ásia ganham espaço

Ainda assim, há razões claras para o avanço das bolsas fora dos EUA. As taxas de juros na Europa estão pela metade das americanas, o que garante financiamento mais barato às empresas. Além disso, as companhias negociam a valuations cerca de 35% menores que as dos EUA.

Na Alemanha, a Rheinmetall AG mais que triplicou de valor, impulsionando o DAX a uma alta de 22%, após o governo prometer mais gastos em defesa. Bancos europeus, antes defasados, foram revitalizados — o Banco Santander, na Espanha, quase dobrou de valor.

Na Coreia do Sul, o índice Kospi subiu 50% no ano, à medida que investidores apostam que a nova política de incentivo a acionistas aumentará retornos. O país, destaque na fabricação de chips, tem campeões nacionais em inteligência artificial — como Samsung Electronics e SK Hynix, que se valorizaram após fechar acordos de fornecimento com a OpenAI.

A Ásia tem sido uma ótima plataforma de diversificação de portfólio e de busca por alfa dentro das classes de ativos, afirmou Sophie Huynh, gestora da BNP Paribas Asset Management.

No Japão, a expectativa de um novo premiê com postura pró-estímulo levou o mercado a recordes históricos. As ações da SoftBank Group dispararam 142%, puxando o Nikkei 225. Fabricantes de equipamentos de defesa, como Mitsubishi Heavy Industries e Japan Steel Works, também subiram com o otimismo sobre novos gastos públicos.

Gestores globais voltaram à China após anos de aversão, atraídos pelos avanços em alta tecnologia. Os planos da Alibaba para investir mais em IA e a ambição da Huawei de desafiar a Nvidia ajudaram as ações chinesas a registrar sua melhor sequência mensal desde 2018. O índice Hang Seng Tech acumula alta de 40% no ano — mais que o dobro do Nasdaq 100.

A forte recuperação do S&P 500 desde abril elevou as avaliações a níveis que preocupam e incentivam a diversificação. O índice negocia a 22 vezes o lucro projetado, um prêmio de 46% em relação ao resto do mundo. É também notoriamente concentrado: as gigantes de tecnologia e empresas correlatas respondem por mais de um terço do peso total.

Uma valorização de 53% desde o fim de 2022 deixou investidores estrangeiros superexpostos aos EUA.

Os investidores deveriam reequilibrar suas carteiras, realizando lucros nos EUA e aumentando a exposição à Europa, Ásia e emergentes, disse Kristina Hooper, estrategista-chefe da Man Group, o maior hedge fund listado em bolsa do mundo. Os EUA continuarão atrás dos outros mercados.

Por ora, os estrangeiros seguem comprando ações americanas em ritmo recorde, conforme o medo de recessão diminui. Isso faz sentido, já que as grandes protagonistas da febre da IA — como a Nvidia — estão sediadas lá.

Mas muitos estão redirecionando recursos. Uma pesquisa do Bank of America mostrou que, em setembro, investidores globais estavam com posição líquida 14% abaixo do peso médio em ações dos EUA, enquanto estavam 15% acima na zona do euro e 27% acima em emergentes.

Há também sinais de que os estrangeiros estão mais seletivos — e não é difícil entender por quê: apenas seis ações responderam por mais da metade dos ganhos do S&P 500 neste ano. Um índice alternativo, que elimina o viés de capitalização, sobe apenas 5,6% em 2025.

Os últimos dois anos foram apenas sobre os EUA, porque os lucros das techs dispararam enquanto o resto do mundo andava de lado, disse Beata Manthey, chefe de estratégia de ações globais do Citigroup. Neste ano, a diferença entre o trade de IA e o resto do mundo diminuiu — e vai diminuir ainda mais em 2026. Há muito mais temas para escolher agora.