Primeiramente, quero me apresentar: sou formado em administração de empresas pela FGV e possuo mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Fui o sócio-fundador da gestora Set Investimentos e fundei a casa de análise Suno Research*. Esta última, é uma empresa focada em prover informações para que o pequeno investidor pessoa física possa tomar as melhores decisões e construir patrimônio.
Quando falamos de filosofia de
investimentos, falamos do conjunto de crenças sobre como os mercados funcionam,
que levam a estratégias de operações destinadas a tirar vantagem das anomalias
existentes.
É importante mencionar que não existe uma única e melhor filosofia de investimento, visto que o investidor deve utilizar aquela que melhor se adapta a suas crenças. Dentre as principais filosofias de investimento temos, além do value investing, a análise técnica, growth investing, arbitragem de informações, dividendos, e muitas outras.
Por mais que não exista um modelo
perfeito, podemos nos basear no que os melhores da indústria fizeram e
imitá-los. Nesse universo, possuímos um placar para medir quem são os melhores
investidores: ele é formado pelo patrimônio, pela rentabilidade atingida e pela
consistência dessa rentabilidade.
Ao analisar essas variáveis, é impossível chegar em alguém diferente do que Warren Buffett. O “Oráculo de Omaha”, como é conhecido, entregou para os acionistas de sua empresa, em média, 21% de retorno ao ano entre 1950 e 1993. Isso significa transformar US$ 1 em US$ 142.476 nesse período.
Para atingir esses números, Buffett
traçou uma estratégia, vide filosofia de investimento, e seguiu com ela até o
fim, o value investing. Este é um
conceito simples, mas muitas vezes mal interpretado ou pouco adotado pela
disciplina e visão de longo prazo necessárias para segui-lo. Destaco a seguir
três “mandamentos” do value investing.
Primeiramente, uma operação de
investimento é aquela que, por meio de uma análise, promete segurança para o
principal (o montante investido) e um retorno adequado. As operações que não
vão ao encontro destas exigências podem ser consideradas como especulativas.
Para isso, devemos estar cientes da
diferença entre valor e preço quando falamos de ativos financeiros. O primeiro
é dado em função dos fluxos de caixa, crescimento e risco, estipulado por meio
de uma extensa análise fundamentalista. O segundo é consequência da oferta e
demanda por aquele papel, impulsionada pelo momento, humor, pensamento em
manada e liquidez.
Uma operação de investimento só
promete segurança para o principal e um retorno adequado quando há um gap (degrau, diferença) entre o preço e
valor. Sendo assim, o primeiro mandamento do value investing é este, exigir uma margem de segurança que “cubra”
esse gap.
No entanto, os mercados são
irracionais no curto prazo. Pense nele como o “senhor Mercado”, um sócio de sua
empresa. De segunda a sexta-feira, o mesmo lhe oferece um preço para comprar ou
vender sua participação. Acontece que o senhor Mercado é um homem totalmente
emocional, que deixa seu entusiasmo e seu desespero afetar suas decisões de
investimento. Em alguns períodos, ele é exuberante e define o preço acima do
valor. Em outros, é pessimista e temeroso, exigindo um preço muito abaixo do
valor.
Por conta disso, o value investing busca se aproveitar dos
momentos pessimistas. Acontece que isso é simples de dizer, mas extremamente
difícil de se realizar. Períodos de euforia podem durar por muito tempo, e
exigem muita convicção de se permanecer de fora da manada. O mesmo também vale
para os tempos temerosos.
Sendo assim, o segundo mandamento do
investimento de valor é ter uma
abordagem de longo prazo e buscar minimizar suas irracionalidades. Como
dito anteriormente, o mercado é irracional no curto prazo, no entanto, sempre
irá convergir para a geração de caixa da empresa. As vezes de forma rápida, as
vezes não.
Por fim, investidores também devem
buscar empresas de alta qualidade, com fortes vantagens competitivas e que
aumentarão seu valor ao longo do tempo. Este consiste no terceiro mandamento do
value investing, comprar empresas que
possuem retornos acima da média e que conseguirão reportá-los por longos
períodos, pois isso faz toda a diferença no longo prazo.
Como disse, não há uma filosofia única de investimentos. Minha escolha, no entanto, é baseada nos dados da trajetória dos investidores de maior sucesso – entre eles, o maior investidor de todos os tempos, Buffett. Apesar de simples, esses mandamentos demandam bastante conhecimento para serem colocados em prática, o que abordaremos aqui. O conhecimento, aliás, é o grande segredo de quem consegue os melhores resultados no mercado financeiro.
*A Suno Research é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.