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‘A Mesbla está no meu DNA’, diz advogado que resgatou loja ícone dos anos 80

Filhos de dois ex-funcionários da empresa, os irmãos Marcel Jerônimo e Ricardo Vianna resgataram no universo online marca falida há 23 anos.

Ricardo Vianna, CEO da Mesbla
Ricardo Vianna, CEO da Mesbla marketplace. Crédito: Juliana Bizzo

Os irmãos Marcel Jerônimo e Ricardo Vianna tinham um sonho antigo: resgatar no mundo virtual a Mesbla, antiga loja de departamentos que foi ícone do consumo entre as décadas de 1980 e 1990, mas que fechou as portas em 1999, após ir à falência.

Filhos de dois ex-funcionários da empresa sediada no Rio de Janeiro e fundada em 1912 por um grupo francês, a dupla conseguiu tirar do papel o projeto e lançou no último dia 3 de maio o marketplace da Mesbla.

Os irmãos contam que investiram R$ 500 mil do próprio bolso para iniciar o negócio, que conta hoje com 1,7 mil vendedores de produtos que são usuários da plataforma. No total, o site da rede disponibiliza aproximadamente 25 mil itens, que vão de roupas a livros.

Em entrevista ao Investnews, Ricardo Vianna, que tinha 24 anos quando a empresa encerrou as atividades, falou sobre como surgiu a ideia de resgatar o negócio e o laço efetivo de toda a família com a antiga varejista.

Prédio que abrigou a Mesbla/Fonte: Rio e Cultura

“Meus pais se conheceram e se casaram trabalhando na Mesbla. Se eu falar que tenho um DNA da Mesbla, não estou mentindo”, conta.

Vianna, hoje com 47 anos, explica que a empresa tem hoje cinco funcionários e que o principal diferencial é “ser próxima do consumidor final”. Ele, que é advogado, e o irmão, que é empreendedor no ramo logístico, pagam royalties para usar a marca, mas os detalhes da operação não foram informados, em razão de sigilo contratual.

Vianna assumiu como CEO da empresa e é responsável pela área comercial, enquanto Marcel cuida da área de operações. Os pais, Adeilza Viana, de 75 anos, e Alfeu Viana, de 76 anos, não estão diretamente no dia a dia da empresa, mas estiveram ao lado dos filhos em todo o processo de estruturação do e-commerce.

Sobre algum dia voltar a ter lojas físicas, o advogado disse que, por enquanto, não há planos, e que hoje a estratégia está 100% focada no ambiente online. Confira abaixo a entrevista completa:

InvestNewsComo surgiu a ideia de resgatar a Mesbla?

Ricardo Vianna – É uma ideia que nunca morreu. Meus pais se conheceram e se casaram trabalhando na Mesbla [no Rio de Janeiro]. Meu pai era um dos funcionários mais antigos, ele começou lá aos 14 anos de idade. Meu irmão teve o primeiro emprego na Mesbla.

Vivi minha infância dentro da empresa como consumidor e indo aos finais de semana, acompanhado do meu pai. Eu tinha quatro ou cinco anos de idade. Sabe aquela coisa: leve seu filho para o trabalho? Como meu pai trabalhava aos sábados por algumas horas, especialmente no fim do mês, era muito comum eu acompanhar. E eu dizia que estava indo trabalhar também.

Se eu falar que tenho um DNA da Mesbla, não estou mentindo. Ter ou ver a volta da Mesbla sempre esteve muito ligado no íntimo e na alma da minha família. Nós enxergamos a Mesbla como um filho ou um sobrinho que você quer cuidar e preparar para a vida, assim como ela cuidou de nós no passado.

Sempre tivemos vontade de voltar com a empresa. Durante a pandemia, especificamente entre junho e julho do ano passado, eu e meu irmão começamos a ter algumas conversas. Começamos a entender as mudanças que a pandemia estava trazendo, a gente enxergava que o marketplace era o caminho mais viável para possibilitar o retorno da marca e começamos a trabalhar no projeto.

A gente entende que o online, que até ontem era o futuro, hoje já é o presente. Sabíamos que o acesso à internet sempre foi uma barreira muita grande para o Brasil, quando comparado a outros países da América do Norte e Europa. Mas os celulares conseguiram levar uma gama muito maior de pessoas a esse acesso. A gente vislumbrou e viu que era algo realmente viável de acontecer, tendo em vista que existem grandes empresas no mercado que atuam só nessa modalidade virtual. A gente apostou que era o momento de fazer o negócio funcionar.

Reprodução do marketplace da Mesbla, recém-inaugurado.

IN$Como foi o envolvimento da família no retorno da empresa?

Ricardo Vianna – Meu irmão trabalha com logística e já tinha uma noção sobre o funcionamento desta área, o que dava uma compreensão bem mais ampla para ele. Desde o ano passado, comecei a fazer alguns cursos para poder ter um entendimento mais amplo do negócio e consultorias com pessoas influentes na área.

Eu também já tinha uma bagagem empresarial e algum conhecimento, além da própria experiência do meu pai que sempre trabalhou no financeiro da Mesbla. Tivemos esse suporte, ele conseguiu passar mais conhecimento e mais noção sobre o dia a dia, foi uma união de fatores que confluiu para fazer esse momento funcionar. 

IN$Como vocês levantaram os recursos para iniciar o negócio?

Ricardo Vianna – Os recursos usados foram próprios, da família, no valor de R$ 500 mil. Tivemos um período grande para poder pesquisar e entender quanto custaria e o que seria necessário fazer para poder viabilizar o negócio.

IN$Por que decidiram não procurar investidores de fora?

Ricardo Vianna – Por conta de uma decisão estratégica de negócios alinhada à cultura e o direcionamento que queremos dar para a empresa.

IN$Assusta a possibilidade de concorrer, por exemplo, com gigantes como Magazine Luiza e empresas chinesas?

Ricardo Vianna – Na realidade, entendemos que há espaço para todo mundo. Nós somos mais um canal de vendas, que está próximo do consumidor. As pessoas estão nos dando um retorno muito grande em relação a isso, falando da marca, conversando com a marca, e isso demonstra que a gente fez no momento e no caminho certo. Entendemos que não há uma disputa por espaço no mercado nesse momento. O importante é a democratização dos canais de venda, o consumidor tem que escolher onde enxerga que é melhor e mais satisfatório e os motivos que o levam comprar aqui ou ali. 

IN$Tem algum diferencial que o marketplace pretendem focar?

Ricardo Vianna – Uma das primeiras coisas é o contato mais próximo e mais humano com as pessoas, menos chatbots e mais interação, oferecendo mais empatia nas relações. Se teve uma coisa que a pandemia modificou muito foi essa forma de compra fria. Mas a gente entende e aposta numa proximidade com o consumidor final, de ouvir e tentar se ajustar às necessidades dele.

IN$Quantos lojistas usam hoje a plataforma?

Ricardo Vianna – Temos uma gama de 1.700 sellers, com 125 mil produtos efetivamente no site. Estamos diariamente em busca de novos sellers e de novos contratos e parceiros. E temos tido uma resposta bastante satisfatória. É uma geração que viveu a Mesbla e quer ter o nome vinculado à empresa.

IN$Qual é o peso de ter a marca Mesbla hoje no negócio?

Ricardo Vianna – Ter a marca Mesbla no negócio nos traz uma grande responsabilidade por toda a relação de carinho e respeito que foi criada com seus clientes. A reação do mercado tem sido ótima, recebemos muitos comentários desejando sucesso e nos parabenizando pela iniciativa.

IN$Como vocês selecionam os sellers?

Ricardo Vianna – Somente empresas podem vender por meio do canal. Não temos cadastro de pessoas físicas. Até porque fazemos uma avaliação muito grande, para não aceitar também um vendedor, por exemplo, que vai vender um produto mais em conta, mas que é falsificado. Precisamos fazer uma análise para entender quem são cada um deles. Temos corresponsabilidade.

IN$Como estão fazendo para administrar o dinheiro investido no negócio? Vocês já têm algum retorno?

Ricardo Vianna – Tudo isso é bastante lento. A grande realidade é que, nesse primeiro momento, não estamos pensando única e simplesmente no retorno, porque tem muitas coisas que ainda precisam ser feitas e aperfeiçoadas. Estamos em um processo de aperfeiçoamento diário em todos os aspectos. É claro que a partir do momento que começamos a vender, começa a existir um equilíbrio da balança. E estamos trabalhando para viabilizar sim o retorno de forma mais breve possível.

IN$O que vocês querem alcançar com a Mesbla?

Ricardo Vianna – Planos a gente tem vários. As coisas estão acontecendo em uma velocidade tão bacana por conta da marca. Algumas coisas que a gente previa lá na frente estão se adiantando, como o retorno da mídia espontânea. Nem nos nossos maiores sonhos poderia ter tudo acontecido em um momento tão perfeito. Vinte dias antes (do lançamento do marketplace), a novela Pantanal voltou a passar na Globo. Na sexta-feira anterior, há [rumores sobre] a volta do Orkut e na terça-feira seguinte a Mesbla volta. Não tínhamos como imaginar todos esses fatores nostálgicos ao mesmo tempo. E onde eu quero ver a Mesbla chegar? O mais longe que ela puder.

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