O prejuízo trimestral do GPA está na casa do bilhão de reais. O St. Marché foi pedir proteção na Justiça contra os credores. Já o Carrefour anotou lucro bilionário no trimestre final do ano passado, mas foi bastante ajudado por ganhos tributários de quase R$ 800 milhões. São tempos difíceis para as grandes redes de supermercados.
Quem passa os olhos no noticiário econômico das últimas semanas nota que as manchetes envolvendo o varejo alimentício no Brasil não são lá muito animadoras. Os balanços financeiros frágeis e as dificuldades de honrar as dívidas são as partes mais visíveis das dificuldades do setor supermercadista no país, que opera com margens cada vez mais apertadas e pressionado por uma concorrência crescente.
Para listar algumas:
Inflação
Os preços dos alimentos estão subindo rápido. Em 2024, o grupo Alimentação e Bebidas registrou avanço de 7,69% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil. Foi o grupo que mais subiu e, claro o que mais contribuiu para a inflação de 4,83% no ano passado.
Para os supermercados, a alta acelerada dos preços dos alimentos é um desafio grande. Como o setor é muito pulverizado – você sabia que nenhuma rede supermercadista atua em todos os Estados brasileiros? – e a concorrência é intensa, há um incentivo racional para que as lojas retardem ou até limitem o repasse dos aumentos de preços dos seus fornecedores, o que compromete as margens e aumenta o risco de uma derrapada na gestão financeira.
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Juros
O “custo do dinheiro” também está subindo. Os juros escalam para conter a alta dos preços e o efeito direto para as empresas é um custo muito maior para investir. Quer comprar um concorrente para aumentar a escala, ganhar eficiência na logística e ampliar o poder de barganha junto aos fornecedores? Ótimo, mas essas possíveis vantagens todas precisam ser maiores dos que as despesas financeiras de um empréstimo bancário num país com taxa de juros básica em 13,75%. E vai subir mais.
Falando em taxas, os supermercados estão pressionando por medidas que levem à redução das taxas cobradas pelo tíquetes alimentação, que pressionam os custos financeiros e vão desembocar ou em repasses nas gôndolas ou em lucros mais espremidos.
Mão-de-obra
Só no Estado de São Paulo, há 30 mil vagas de trabalho abertas e não preenchidas em supermercados, publicou o Estadão. Os empresários dizem que está difícil encontrar repositores, empacotadores, operadoras de caixa, funcionários para o açougue e a padaria. Reclamam que é difícil encontrar gente minimamente qualificada mesmo para as vagas operacionais.
“É só pagar mais, não?”, alguém pode dizer. Sim, mas vale mencionar o cenário novamente: juros altos, margens baixas, concorrência feroz. Elevar salários significa subir os custos operacionais e comprometer a capacidade de se manter competitivo.
Nesse cenário, as grandes redes sabem que precisam fazer de tudo para serem mais eficientes. Os balanços de GPA e Carrefour, por exemplo, mostram que dois dos líderes do setor estão preocupados com isso. Tudo bem, o Carrefour lucrou R$ 1,2 bilhão e o GPA anotou prejuízo de R$ 1,1 bilhão, mas a última linha por si só não diz tudo.
Isso porque fatores não recorrentes impactaram o lucro líquido nos dois casos. No GPA, despesas de reestruturação e provisões fiscais pesaram muito. Já o Carrefour se deu bem pelo reconhecimento de créditos fiscais vindos lá de 2021, quando adquiriu o grupo Big – isso deve ter enchido de esperança os executivos do concorrente GPA, cujas disputas tributárias relacionadas ao PIS e ao Cofins somam R$ 6 bilhões.
Operacionalmente, tanto GPA quanto o Carrefour fizeram a receita líquida subir e estão gastando agora para tentar “limpar” suas operações e balanços futuros, fechando unidades ineficientes.
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As duas empresas também estão vivendo seus dramas internos.
O grupo francês Casino disse que não vê mais valor estratégico na sua participação de 22,5% no GPA e que está aberto a negócios. Isso foi em julho do ano passado.
Nelson Tanure, que tem 9,6% do GPA, mostrou interesse, mas o acordo ainda não saiu. Segundo a Veja, as conversas estão travadas neste começo de ano porque alguns executivos do Casino estão de férias, veja só.
Já o Carrefour vive a expectativa de que sua controladora, a também francesa Carrefour S.A, adquira todas as ações da subsidiária brasileira e feche o capital da empresa no país. A conclusão da transação está prevista para o segundo trimestre de 2025.