As ações da Gol (GOLL4) chegaram a recuar mais de 13% na bolsa brasileira nesta sexta-feira (26), após a companhia aérea formalizar na véspera um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos para fortalecer sua posição financeira. Analistas justificam o impacto negativo citando altos custos e longa duração do processo. No fechamento, o ativo minimizou a queda para 8,07%.
No último pregão, o papel da companhia fechou em baixa de 3,16%, negociado a R$ 6,44, após ter as negociações suspensas na B3 em razão do anúncio do pedido. No ano, a ação acumula queda superior a 30%.
A empresa recorreu a um processo legal nos EUA conhecido como “Chapter 11“, com compromisso de financiamento de US$ 950 milhões, na modalidade “debtor in possession” (DIP) por membros do Grupo Ad Hoc de bondholders da Abra – holding que reúne as operações da Gol com a colombiana Avianca – e outros bondholders da Abra.
A decisão não foi uma surpresa, após rumores confirmados pela Gol na semana passada de que estava discutindo com stakeholders financeiros sobre como chegar a uma reestruturação “consensual”, em meio a dívidas elevadas. No mês passado, a empresa contratou a Seabury Capital para uma revisão da estrutura de capital.
Segundo analistas da Guide Investimentos, embora a companhia tenha financiamento para cumprir com seus passivos, as recuperações judiciais normalmente levam muito tempo para serem concluídas.
“Além disso, existem custos do processo de recuperação judicial, possíveis restrições aos negócios e dificuldades em conseguir mais crédito que podem acabar prejudicando a companhia aérea”, escreveram em relatório ao justificar o impacto negativo nos papéis.
Como o pedido impacta o consumidor?
Em comunicado, a companhia informou que todos os voos estão operando conforme programado e todas as passagens e reservas permanecem em vigor.
A equipe de research da Genial Investimentos escreveu nesta manhã em relatório que o pedido de reestruturação não deve impactar imediatamente as operações e os serviços oferecidos aos passageiros e agentes de viagens, uma vez que a aérea obteve um financiamento de US$ 950 milhões para continuar operando.
Em entrevista à rádio CBN, nesta sexta-feira, o presidente-executivo da Gol, Celso Ferrer, disse que não prevê demissões de pessoal relacionadas ao pedido de recuperação judicial.
Entenda o caso Gol
A Gol é a mais recente de uma série de companhias aéreas latino-americanas a buscar proteção da Justiça contra credores após a pandemia, seguindo o caminho da colombiana Avianca, da mexicana Aeromexico e da chilena Latam Airlines.
A Gol acrescentou que usará o “Chapter 11” para reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo, e que espera sair dessa recuperação judicial com um investimento significativo de capital, “posicionando-a para expandir sua posição como companhia aérea líder na América Latina”.
Estimativas da Fitch mostraram em dezembro que a dívida total da Gol era de R$ 20,3 bilhões (US$ 4,12 bilhões), quase metade dos quais eram obrigações de leasing. Os vencimentos de curto prazo totalizaram US$ 3 bilhões, enquanto o caixa disponível estava em torno de US$ 905 milhões.
Analistas de sell-side e agências de classificação dizem que a Gol tem números operacionais sólidos em meio à demanda saudável por viagens aéreas no Brasil, mas que as altas despesas com leasing e juros têm pressionado seu fluxo de caixa e afetado seu perfil de dívida.
Ela também enfrentou problemas de capacidade em meio a atrasos nas entregas de aeronaves da Boeing, que seu presidente-executivo disse ter impedido a empresa de crescer no ritmo que gostaria, e alta pressão de manutenção devido a problemas de fornecimento de motores.
A Gol detinha 33% de participação de mercado na indústria de aviação brasileira no ano passado, perdendo apenas para a LATAM Brasil, conforme definido pela receita de passageiros por quilômetro, que mede o tráfego. Foi a principal companhia aérea do Brasil de 2016 a 2020.
O Bradesco BBI reduziu a recomendação sobre a ação da Gol para “underperform” ante “neutro” e cortou o preço-alvo do papel de 10 para 1 real citando “maciça diluição de 99%”. Analistas da corretora afirmaram que preferem ações da Azul ou da Latam.
O Goldman Sachs informou que encerrou a cobertura de GOLL4 em seu último relatório sobre a companhia divulgado na véspera, com recomendação “neutra”. O banco apontou como riscos para o papel variações na cotação do petróleo fora das expectativas, mudanças não previstas no valor de moedas locais frente ao dólar e alterações na demanda por viagens.
Situação do setor aéreo
Na semana passada, reportagem do InvestNews mostrou que as três principais aéreas que operam no mercado brasileiro conseguiram reduzir o prejuízo entre 2021 e 2022, conforme levantamento da plataforma Valor Pro. No entanto, a redução do rombo da Gol foi menor que das demais.
Já considerando os resultados mais recentes, a Gol voltou ao prejuízo no terceiro trimestre de 2023 após ter recolocado as operações no positivo no final de 2022, num movimento semelhante ao ocorrido com Azul (AZUL4).
*Notícia em atualização. Com Reuters
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