Tesla e Wall Street fizeram 2020 ser o ano em que a indústria de veículos norte-americana decidiu migrar para os elétricos. O valor de mercado da montadora passou de 600 bilhões de dólares, tornando a companhia fundada pelo bilionário Elon Musk mais valiosa que as cinco maiores da indústria no mundo juntas.
O ápice veio na sexta-feira (18), quando as ações da Tesla bateram recorde antes da aguardada estreia dos papéis no índice acionário S&P 500.
Para 2021, todos os sinais indicam uma aceleração da indústria de veículos em direção à eletrificação de seus modelos, um ponto de virada do setor tão marcante quanto o lançamento da linha de montagem móvel da Ford para o Model T ou o pedido de recuperação judicial da General Motors em 2009.
A ascensão da Tesla também aconteceu no mesmo ano em que fundos de hedge ativistas e outros investidores resolveram pressionar corporações em relação ao combate às mudanças climáticas. As evidências são cada vez maiores de que mais investidores concluíram que o domínio de mais de um século do motor a combustão deve chegar ao fim no intervalo de uma década.
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De Londres a Pequim, passando pela Califórnia, líderes políticos adotam planos para o fim de veículos movidos apenas pela queima de combustível já em 2030. A pressão para redução de emissões de gases estufa mina a lógica por trás de novos investimentos em motores a combustão.
Os consumidores vão aderir?
Apesar disso, ainda é incerto quando os consumidores, principalmente nos Estados Unidos, vão dizer adeus a suas picapes e utilitários esportivos movidos por queima de derivados de petróleo.
Os veículos mais vendidos nos EUA continuam sendo picapes movidas a combustão. A demanda por estes veículos impulsionou a recuperação das montadoras de Detroit depois que a pandemia forçou o fechamento delas no primeiro semestre.
As melhores fabricantes de baterias para veículos elétricos podem alcançar o custo dos motores de combustão interna já em 2023, escreveu a corretora Bernstein em relatório.
Além da mudança para motores elétricos, o setor está passando também por uma tranformação em que seus veículos estão virando grandes máquinas digitais que geram a maior parte de seu valor a partir de software que equipa sistemas como os de direção autônoma.
Em toda a indústria, montadoras centenárias como a Daimler estão caçando programadores e especialistas em inteligência artificial.
A Tesla, por exemplo, oferece atualizações de software como as que ocorrem em celulares como um recurso que diferencia a marca. Em 2020, o modelo mais vendido dos EUA, a picape F-150 da Ford, foi reprojetada para oferecer atualizações de software.
O presidente-executivo da Daimler, Ola Kaellenius, deixou a situação da indústria clara em outubro: “Precisamos olhar para nossas bases de produção e onde fizer sentido, temos que mudar nossa produção… Ano passado vendemos cerca de 700 mil carros de passageiros na China. O segundo maior mercado é os Estados Unidos, com entre 320 mil e 330 mil carros.”
A Daimler controla a Mercedes-Benz, que anunciou na semana passada que vai deixar de produzir carros no Brasil, onde a indústria local coloca há anos ênfase na tecnologia de motores flex, apesar dos avanços internacionais na direção da motorização elétrica.