O filme Barbie”, que estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (21), já é um sucesso mesmo antes de seu lançamento. No último mês, as ações da Mattel (MAT), dona da marca da boneca mais famosa do mundo, mais de 20% na bolsa de valores norte-americana Nasdaq. Segundo especialistas, o segredo do sucesso envolvendo o longa está na lógica do produto que explora a nostalgia como apelo de consumo. 

Margot Robbie, em vestido preto e colar de diamantes, sorri na estreia do filme Barbie. Fundo azul com logo rosa.
Margot Robbie posa em Los Angeles
9/7/2023 REUTERS/Mike Blake

O professor Bruno Pompeu Marques Filho, da área de Publicidade da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), explica que a estratégia consiste em uma referência estética clara a uma determinada época, oferecendo os valores associados a ela por meio do consumo.

“Esses produtos que exploram a nostalgia têm alta capacidade de significar coisas que as pessoas querem consumir, significados com que querem se conectar, em uma lógica tão simples quanto satisfatória”, diz o especialista.

Caio Machado, diretor executivo da agência de publicidade Curious, observa que o marketing de nostalgia se pauta na memória emocional das pessoas. “Todo mundo tem recordações positivas de determinada fase, e que tendem a ser romantizadas. A ideia de usar a nostalgia a favor do marketing é justamente explorar uma relação emocional e uma memória afetiva em prol de marcas que tenham uma história relevante e que já estão há um bom tempo na vida do consumidor”, pontua.

Margot Robbie sorrindo, em vestido rosa de bolinhas brancas, ao lado de um carro rosa vintage. Fundo Barbie.
Atriz Margot Robbie durante sessão de fotos do filme “Barbie” em Los Angeles, Califórnia
25/6/2023 REUTERS/Mike Blake/Arquivo

O sucesso do filme antes mesmo de sua estreia surpreendeu até mesmo atriz Margot Robbie, que vive Barbie no filme. Ela disse que estava perplexa com o amor que os fãs estão demonstrando pelo filme antes de seu lançamento mundial nos cinemas.

“Eu sabia o quanto nos sentíamos empolgados em compartilhar este filme e esperava que outras pessoas também sentissem essa empolgação, mas veio para nós com tanto entusiasmo e empolgação que estou até chocada, muito chocada”, disse Robbie à Reuters na estreia mundial do filme em Los Angeles no domingo.

Expectativas da empresa

A primeira boneca Barbie foi lançada em 9 de março de 1959, na Feira Americana de Brinquedo, em Nova York. Estimativas da Mattel mostram que 1 bilhão de Barbies já foram vendidas, com aquisições em mais de 150 países. 

Em 2022, a companhia faturou US$ 1,49 bilhão com a venda de bonecas da marca – e agora aposta no sucesso do filme para impactar os valores neste ano.

“Barbie” tem um orçamento de US$ 100 milhões e a estimativa é de que sua bilheteria de estreia alcance entre US$ 70 milhões e US$ 80 milhões, segundo o site The Hollywood Reporter.

Nostalgia como produto, mas nos dias atuais

Para Koca Machado, professora de Branded Content e Storytelling da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a ideia da Mattel foi “excelente, ao ser desenvolvida por meio do reposicionamento da boneca do século 20 para os dias atuais”.

“Criaram uma narrativa que quebra o estereótipo da boneca ou mulher perfeita e traz ela para o comportamento e questionamentos do século 21. Com isso, humanizam a Barbie e fazem, com o marketing, com que esse novo comportamento crie tendências e buzz, como a tendência Barbiecore”, explica.

A especialista pontua que o reposicionamento de marketing de uma marca deve rever sua identidade, repensar os valores e atributos desejados.

“Como essa marca quer ser reconhecida pelo seu público? Ao rever esse posicionamento, parte-se para a distribuição da comunicação com uma linguagem proprietária e construída em torno da ética da marca” 

Koca Machado, professora de Branded Content e Storytelling da ESPM

No caso do filme, Barbie questiona por que precisa ser perfeita para ser aceita no seu mundo. “Essa comunicação pode abraçar um público de diversas idades porque o que terá relevância é a mensagem a ser comunicada”, completa.

Relembrar é viver

Apesar do grande sucesso, a Mattel não é a única que aproveita a estratégia para impulsionar seus números.

A Hasbro (H1S34), principal concorrente da Mattel e dona do estúdio Entertainment One, também abriu espaço para levar seus brinquedos para produções audiovisuais. Exemplos recentes são os filmes “Transformers: O Despertar das Feras” e “Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes”.

Segundo Caio Machado, da Curious, de forma recorrente o cinema utiliza a estratégia para lançamentos antigos. Alguns longas de sucesso do passado ganham novas versões ou mesmo continuações – caso de “Indiana Jones e o Chamado do Destino”, lançado em 2023, 42 anos após a estreia do primeiro volume; ou mesmo “Star Wars”, que tem sequência prevista para 2026.

Harrison Ford, de terno, posa em frente ao logo laranja 'Indiana Jones and the Dial of Destiny' em fundo escuro.
Harrison Ford na pre-estreia de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” em Los Angeles
14/06/2023
REUTERS/Mike Blake

A indústria de games também tem aproveitado para impulsionar seus ganhos. Recentemente, títulos como “Super Mario Bros” e “Sonic” arrecadaram milhões nas bilheterias.

“Talvez hoje o principal desafio das marcas seja, de fato, capturar a atenção e engajar o consumidor, principalmente emocionalmente. O marketing de nostalgia acaba sendo uma ferramenta. É algo que acontece há anos e que vai continuar acontecendo”, explica Machado.