Boutiques de bancos de investimento e escritórios de advocacia estão contratando no Brasil em meio a uma explosão de reestruturações de dívida.
A Moelis, banco de investimento dos EUA que é um dos principais assessores em reestruturações no país, contratou três pessoas este ano para seu escritório de São Paulo, que tem cerca de 20 funcionários. O também norte-americano Houlihan Lokey tirou Bruno Baratta do Lazard e anunciou em março que estava abrindo um escritório em São Paulo, para o qual está montando uma equipe inicial de cerca de 10 pessoas.
“Com os juros altos do jeito que estão, ainda devemos ter muitas notícias ruins sobre as empresas brasileiras”, disse Ricardo Lacerda, presidente do BR Partners, no qual as comissões com reestruturação da dívida já representam cerca de 30% da receita de banco de investimento este ano, em comparação com quase nada em 2022.
- Confira a as ações da Via Varejo (VIIA3)
Cenário adverso
Os juros no Brasil no nível mais alto em seis anos combinados com o estresse no mercado de crédito que se seguiu ao colapso da varejista Americanas e o aperto monetário nos EUA e na Europa aumentaram o endividamento das empresas brasileiras e dificultaram a obtenção de financiamento no país e no exterior.
O número de empresas que entraram com pedido de recuperação judicial no Brasil este ano até maio subiu para 501, 50% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com o provedor de dados de crédito Serasa Experian.
“Houve o impacto inicial da pandemia de Covid, com muito crédito barato no mercado, e depois disso os juros passaram de 2% para quase 14% em um período de 15 meses”.
Otavio Guazzelli, co-chefe do escritório no Brasil da Moelis, disse em entrevista.
“O real nunca mais voltou ao nível pré-pandemia e o fluxo de caixa não veio tão forte quando o esperado, então muitas empresas acabaram com uma alavancagem significativa em um momento em que o refinanciamento é desafiador.”
Alguns setores, como o varejo, são especialmente afetados, pois os consumidores estão mudando seus hábitos de compra e o caso da Americanas impactou muitas empresas, disse Jorio Salgado-Gama, co-chefe da Moelis no Brasil.
Representando credores
A Moelis está representando detentores de títulos globais em dólar na reestruturação da dívida de empresas como Americanas e Light, a companhia de energia que entrou com pedido de recuperação judicial em maio. Está do lado das empresas nas conversas com credores da empresa de telefonia Oi e da produtora de químicos e fertilizantes Unigel.
A boa notícia é que as mudanças na lei de falências no Brasil, que entraram em vigor em janeiro de 2021, trouxeram mais segurança para os investidores financiarem empresas em dificuldades, inclusive as que estão sob proteção judicial contra credores, disse Erick Alberti, diretor da Moelis no Brasil.
“Quando comecei as negociações com o Houlihan para abrir um escritório no Brasil, não fazíamos ideia de que teríamos tanta reestruturação de dívida acontecendo em 2023”.
Bruno Baratta.
O Houlihan está com empresas como a prestadora de serviços brasileira Atento e a produtora de cimento InterCement e com detentores de títulos da dívida externa nos casos da Unigel e da Oi.
“Nós poderemos ver mais casos, considerando as incertezas do crescimento e o alto nível das taxas de juros”, disse Baratta, acrescentando que “no entanto há sinais positivos na economia e nós certamente esperamos que aconteça uma recuperação saudável”.
Bruno Baratta.
Cerca de 65% da receita global da Houlihan Lokey vem de assessoria em fusões e aquisições e em captação de investimentos, disse ele, acrescentando que está planejando trazer para o Brasil todos os negócios do banco norte-americano.
Roberto Zarour, que era o único sócio de reestruturação do Lefosse Advogados, viu sua prática agregar mais quatro sócios desde outubro. A empresa de advocacia tem assessorado um grupo de detentores de títulos locais da Light e também ajudou a companhia aérea Gol em suas negociações para novos financiamentos.
“Acho que a onda de reestruturação da dívida está aqui e vai continuar”.
Roberto Zarour.
O maior desafio de uma empresa é agir no momento certo para resolver seu problema de endividamento, disse Fabiana Balducci, diretora da BR Partners.
“Muitas vezes entramos em um processo de reestruturação já desgastado, que passou do ponto”, disse Balducci, ex-executiva do Credit Suisse e veterana em reestruturação que ingressou na BR Partners em outubro de 2021.
“Podemos fazer as coisas de forma proativa, evitando uma situação que seria pior para a empresa”.
Andrea Amorim, iretora da BR Partners.
Algumas empresas têm ativos que poderiam ser vendidos a investidores, trazendo o dinheiro necessário, e nem percebem que isso seria uma alternativa para elas, disse Balducci. A BR Partners ajudou a varejista de roupas Marisa na venda de créditos tributários para a gestora local de ativos alternativos Quadra Gestão de Recursos.
A BR Partners assessora mais de 10 reestruturações de dívida, incluindo da CVC, da Inbrands e até do Santos Futebol Clube. As empresas procuram bancos de investimento boutiques experientes que não sejam seus credores quando os tempos difíceis chegam, disse Lacerda.
“Não compramos papel de empresas que estamos reestruturando e você não vai acordar amanhã com o fundo BR Partners tentando tomar sua companhia”, disse Lacerda.
- Confira a cotação BBAS3 em tempo real
- Confira a cotação NUB33 em tempo real
Veja também
- HSBC faz maior reestruturação global em uma década
- HSBC nomeia Pam Kaur como CFO, a primeira mulher a ocupar o cargo
- Caixa puxa a fila – e crédito para comprar imóvel fica cada vez mais difícil para a classe média
- BTG adquire gestora de fortuna americana Greytown
- BTG apresenta oferta de aquisição das ações do Banco Nacional