O Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal, anunciou na sexta-feira (28) a aquisição de uma fatia relevante do Banco Master, de Daniel Vorcaro, em uma operação que traz alívio às preocupações de agentes do sistema financeiro com a liquidez do banco de Vorcaro.
O BRB adquiriu 49% das ações ordinárias (com direito a voto), 100% das ações preferenciais, totalizando 58% do capital do Master. Com isso, embora o controle formal permaneça com Vorcaro, que manterá 51% das ações ordinárias, na prática as instituições formarão um único conglomerado prudencial, no que as partes chamam de “co-controle”.
O negócio ainda depende de aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
De acordo com apuração do jornal Valor Econômico, o acordo teve apoio do Banco Central e veio em um momento-chave para o Master, que enfrentava crescentes desafios com suas fontes de captação. Ainda segundo o jornal, o banco de Vorcaro terminou dezembro com um volume de depósitos de R$ 50 bilhões, montante que equivale a quase metade da liquidez do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de R$ 107,8 bilhões.
Isso significa que, em um cenário hipotético de quebra do Master, boa parte da disponibilidade imediata do fundo seria comprometida para honrar os depósitos do banco — o que gerava crescente apreensão no setor bancário.
O negócio é visto como uma vitória para Vorcaro, que vinha tentando buscar fontes de captação, o chamado funding, mais barato e melhorar sua governança. Segundo os bancos, o BRB consegue captar dinheiro a 89% do CDI, enquanto o Master paga cerca de 120%.
Nova governança
Com o acordo, Daniel Vorcaro deixará o posto de CEO e irá para o conselho de administração. O Master mudará de nome, passando a se chamar BRB Banco de Investimento, mas manterá operações separadas do BRB, com “compartilhamento de governança, expertise, sinergias e coordenação estratégica e operacional”, segundo comunicado oficial.
A aquisição representará um investimento de aproximadamente R$ 2 bilhões e transformará o BRB em um dos dez maiores bancos brasileiros em carteira de crédito, com uma base de 15 milhões de clientes, de acordo com declarações de Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, em entrevista ao portal Metrópoles.
Captações agressivas
O banco de Vorcaro chamava atenção do mercado há anos por seu modelo de negócios agressivo. Conforme reportagem do Estadão, o Master multiplicou por dez seu patrimônio e quintuplicou sua carteira de crédito desde 2021, impulsionado principalmente pela oferta de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) que pagavam taxas muito acima da média do mercado — chegando a quase 19% ao ano em alguns momentos.
Essa estratégia fez do Master um dos principais emissores de CDBs garantidos pelo FGC, instrumento que cobre depósitos no limite de R$ 250 mil por conta ou R$ 1 milhão por CPF.
No fim de 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) limitou a garantia do FGC a seis vezes o patrimônio de um banco ou a 80% da captação total, numa tentativa de conter a corrida dessas instituições aos depósitos e a aplicação desses recursos em ativos arriscados. A medida foi vista por muitos como uma resposta direta às práticas do Master e de instituições semelhantes.
Operação sob escrutínio
O Banco Central deverá colocar seu time mais experiente de servidores para analisar o negócio, de acordo com reportagem do Estadão. Profissionais que acompanharam casos de fusão, intervenção e saneamento no setor – incluindo liquidações como as do Econômico, Bamerindus, Nacional e Cruzeiro do Sul – foram convocados para conduzir testes de estresse sobre o BRB.
A preocupação principal do regulador é com a estabilidade do sistema financeiro e se o BRB tem capacidade de absorver potenciais riscos do Master em todos os cenários.
A análise do Banco Central não tem prazo determinado para conclusão e pode levar semanas ou meses. Até a noite de sexta-feira, o pedido de aprovação ainda não havia sido formalizado ao órgão regulador.
História do Master
O Banco Master foi fundado em 1974 como Máxima Correta de Títulos e Valores Mobiliários. Em 1990, passou a atuar como instituição financeira, o que deu oridem ao Banco Máxima, quando a atuação estava concentrada em operações de crédito imobiliário
Em 2018, o empresário Daniel Vorcaro assumiu a presidência do banco, que passou por uma reformulação e passou a se chamar Banco Master. Desde então, a empresa expandiu sua atuação para áreas como crédito pessoal, consignado, câmbio, investimentos imobiliários e private equity.
Nos últimos anos, o Banco Master também foi às compras. Em 2024, comprou participação majoritária no banco digital Will Bank, o que significou a expansão da base de clientes para mais de 10 milhões de pessoas. O Master também investiu em outros setores, como saúde, ao adquirir ações da Oncoclínicas.