Com a nova gestão focada em aumentar vendas, a CVC (CVCB3) anunciou que vai elevar em 15% a oferta para a temporada de cruzeiros marítimos 2023/2024, com 680 mil leitos, e ainda facilitar o pagamento com prazos mais longos de parcelamento. A medida faz parte de uma sequência de iniciativas da empresa para alavancar as receitas, em linha com a estratégia da nova gestão.

Há menos de 2 meses, a empresa passou por uma mudança de comando, anunciando Fabio Martinelli Godinho como novo CEO. Ele substitui Leonel Andrade, que deixou a companhia em meio à crise financeira, após três anos no cargo.

Navio de cruzeiro, turismo (Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Apesar de ter ganhado força com a nova gestão, o foco sobre as receitas já vinha presente nos meses anteriores. No começo de 2023, a CVC comemorou ter registrado o melhor janeiro em vendas desde o início da pandemia. Ainda assim, a operadora terminou o 1º trimestre de 2023 com prejuízo – embora o montante negativo de R$ 128 milhões tenha sido menor que os R$ 166 milhões do mesmo período do ano anterior. Já a receita líquida no mesmo intervalo foi de R$ 295,5 milhões, alta de apenas 0,9%.

A estratégia para tentar elevar o faturamento tem como pano de fundo um contexto em que o segmento de turismo continua dando sinais de retomada no Brasil. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em maio de 2023, o índice de atividades turísticas subiu 4% ante o mês imediatamente anterior, no segundo resultado positivo seguido. Com isso, o segmento se encontra 5,6% acima do patamar de fevereiro de 2020.

Nesse cenário, segundo Orlando Palhares, gerente de produtos marítimos da CVC, o crescimento na oferta de leitos para cruzeiros se dá pelo sucesso de vendas do ano anterior.

“Ano passado embarcamos 150 mil passageiros, o equivalente a 25 saídas exclusivas, e este ano a expectativa é receber 170 mil passageiros, sendo que 45 mil já têm suas reservas confirmadas.”

Orlando Palhares, gerente de produtos marítimos da CVC, em nota

A operadora também ampliou as condições de pagamento, com opções de 10 a 12 parcelas sem juros. Esse parcelamento facilitado não se restringe aos cruzeiros. Recentemente, a empresa também anunciou que vai disponibilizar 30 mil assentos em voos exclusivos entre novembro de 2023 e fevereiro de 2024, mirando em datas estratégicas como Natal, Réveillon e férias. Com pacotes que abrangem traslados, hospedagem e passeios, os parcelamentos chegam a até 14 vezes. 

Houve também anúncio de descontos especiais em pacotes completos de viagem pela Europa e destinos no Caribe e América do Sul. Ainda de olho na alta temporada, a empresa lançou campanha de ingressos Disney grátis para crianças e descontos em entradas para os parques da Universal Studios. 

Castelo da Cinderela em parque Disney, com visitantes em frente em dia de sol.
Parque da Disney em Orlando, nos EUA
20/07/2022
REUTERS/Octavio Jones

O InvestNews questionou a CVC sobre qual é a previsão de elevação de faturamento com essas medidas, mas, até a última atualização desta reportagem, não recebeu resposta. 

Perspectivas para a empresa

Especialistas reconhecem que o bom momento vivido pelo segmento de turismo pode ser uma janela de oportunidade para a CVC melhorar seus números nos próximos balanços. No entanto, o cenário favorável não é o único fator em questão, já que a companhia segue com indicadores considerados preocupantes, segundo eles. Em 2023, a ação CVCB3 acumula queda de mais de 33% na bolsa de valores.

Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, destaca que “recentemente tivemos alguns relatórios de ocupação das companhias aéreas que trouxeram um certo otimismo, e isso tende a refletir no resultado da CVC, por fazer parte do mesmo segmento”. Mas ele diz que “o fato de a demanda aumentar não necessariamente trará uma ótima performance pro caixa, já que a empresa nos últimos resultados mostrou uma situação financeira complicada”.

De maneira semelhante, Lucas Rietjens, analista da Guide Investimentos, aponta que, “considerando o atual nível de endividamento da companhia, o impacto desse aumento na demanda para as ações da empresa seria marginal”. 

“As perspectivas para os próximos resultados da CVC permanecem negativas, porque o efeito da taxa de juros sobre a posição de dívida da companhia deve continuar resultando em despesas financeiras relevantes, pressionando o resultado da companhia.”

Lucas Rietjens, analista da Guide Investimentos

A CVC encerrou o 1º trimestre com dívida líquida de R$ 616 milhões. Segundo informações compiladas pelo Valor Pro, o grau de alavancagem da empresa subiu nos últimos meses e a relação entre a dívida e a geração de caixa da empresa (Ebitda) passou de 0,49 para 2,5. 

A companhia, no entanto, destacou em comunicado divulgado junto ao balanço que o recente reperfilamento de sua dívida, possibilitado por um acordo com debenturistas, fez com que a companhia atingisse “o menor patamar de dívida dos últimos 5 anos”. “Como consequência, passamos a contar com uma dívida mais gerenciável, vencimentos condizentes com a geração de caixa da companhia nos próximos anos e menor endividamento bruto”, disse a administração da CVC. 

CVC Corp Tower (Foto: Divulgação/CVC)
CVC Corp Tower (Foto: Divulgação/CVC)

Ainda assim, especialistas ainda se dizem cautelosos. Lucas Lima, analista da VG Research, comenta os motivos que fazem com que a expectativa para a CVC seja de “resultados mistos ao longo do ano de 2023”. Ele fala em “recuperação importante das reservas, mas rentabilidade pressionada e uma estrutura de capital delicada”

“O take rate (percentual da receita líquida sobre as reservas) deve seguir pressionado, mostrando que a CVC não vem conseguindo rentabilizar bem os últimos produtos lançados e também pelo fato de que a participação de produto marítimo (menos rentável) está aumentando.”

Lucas Lima, analista da VG Research

Mas o analista comenta que, “em relação à estrutura de capital, o cenário deve ficar um pouco mais positivo após o follow-on realizado recentemente, no qual a companhia levantou R$ 550 milhões”. “Com os recursos, a CVC ganha um fôlego importante no curto prazo para reduzir um pouco a dívida e para suportar o capital de giro”, diz Lucas Lima.

Oferta em alta e promoções: efeitos esperados

Embora as iniciativas da CVC tenham como foco o aumento de vendas, “não necessariamente isso vai ser traduzido sempre em bons números” nos balanços finais, opina Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club.

“No caso, a CVC expandiu a oferta de alguns pacotes de 10 vezes sem juros para 12 vezes sem juros. Consequentemente, as contas a receber da empresa podem se alongar mais, fazendo pressão no capital de giro. E, considerando que os juros estão altos, o valor presente líquido desses pacotes é menor, também podendo impactar suas margens de lucro”, diz o especialista.

Letreiro CVC amarelo iluminado com detalhes verdes, suspenso à frente de um mural de ponte e cidade noturna.
CVC Crédito: Divulgação CVC