Um total de 163 desses trabalhadores, contratados pela empreiteira da BYD, Jinjiang, foram encontrados no mês passado trabalhando em “condições análogas à escravidão”.
Todos eles estão saindo ou já deixaram o Brasil, disse Liane Durão, que liderou a investigação anunciada no final de dezembro. Ela acrescentou que cerca de 500 trabalhadores chineses no total foram trazidos para o país pela BYD.
“Tudo isso foi irregular”, disse Durão, acrescentando que a BYD será multada por cada trabalhador encontrado nessa situação, sem entrar em detalhes sobre o valor total a ser pago.
A auditora disse que a BYD concordou em ajustar as condições das centenas de trabalhadores que permanecerão no país para cumprir as leis trabalhistas brasileiras.
A BYD e a Jinjiang não responderam imediatamente a um pedido de comentário. A BYD já havia dito anteriormente que cortou relações com a Jinjiang, que contesta as acusações das autoridades brasileiras.
Uma fonte próxima à BYD disse à Reuters que a empresa chinesa acredita que os vistos foram emitidos corretamente e que todos os funcionários vieram voluntariamente para trabalhar no Brasil.
A fábrica se tornou um símbolo da crescente influência da China no Brasil e um exemplo de uma relação mais próxima entre os dois países.
Autoridades trabalhistas e representantes da BYD e de suas empreiteiras que trabalham na Bahia se reuniram nesta terça-feira (7) para negociar como proteger os direitos de todos os trabalhadores empregados na fábrica.
Chave para expansão global da BYD
A BYD está construindo a fábrica de Camaçari com capacidade para produzir 150 mil carros por ano inicialmente. O Brasil é o maior mercado da marca fora da China. Não está claro se a construção será atrasada pela investigação das condições de trabalho nas instalações da empresa na Bahia.
A BYD investiu 620 milhões de dólares somente na instalação do complexo fabril da Bahia. Quase um em cada cinco carros que a BYD vendeu fora da China nos primeiros 11 meses de 2024 foi no Brasil.
Em dezembro, o Ministério Público do Trabalho descreveu os trabalhadores, que haviam sido contratados pela empreiteira chinesa Jinjiang Group, como vítimas de tráfico humano. A empresa havia retido os passaportes de 107 dos trabalhadores, segundo os investigadores.
As investigações sobre escravidão podem ter consequências graves para os empregadores no Brasil, incluindo a restrição do acesso a empréstimos bancários.
Desde que os trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão, o governo brasileiro suspendeu a emissão de vistos temporários para a BYD.
As denúncias de irregularidades na Bahia podem vir a ser um grande ponto de atrito nas relações bilaterais.
O Brasil há muito tempo busca mais investimentos chineses. Mas o modelo de Pequim de levar trabalhadores chineses para os países onde investe representa um desafio para a criação de empregos locais, uma prioridade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A investigação também trouxe uma atenção indesejável para a BYD, quando ela está buscando expandir-se globalmente e construir seu domínio na China, o maior mercado automotivo do mundo.
Os inspetores do trabalho continuarão a monitorar o canteiro de obras da BYD, disse Durão, para garantir que os trabalhadores que permanecem empregados na fábrica não estejam sendo submetidos a condições de trabalho abusivas, afirmou.