Arthur Heilbronn tem todas as características para exercer poder sobre uma das maiores fortunas do mundo: a da Chanel.

Laços familiares profundos? Ele tem. Diploma da Ivy League, uma das universidades mais antigas dos EUA, e em Harvard? Tem também. Pensa como os agentes de Wall Street? Sim.

Agora, há sinais de que o descendente da dinastia por trás do império Chanel está se aproximando do topo da empresa, supervisionando uma fortuna de US$ 90 bilhões.

Heilbronn, de 38 anos, assumiu cargos de gerência supervisionando os investimentos imobiliários, bancários e de mídia de seus parentes durante os seis anos desde que ingressou na Mousse Partners, um dos maiores e mais discretos family offices do mundo.

No mais recente sinal de ascensão para o graduado pela Harvard Business School e ex-executivo do Goldman Sachs, Heilbronn se tornou diretor no início deste ano de uma das principais holdings da Mousse, ocupando um cargo vago após a morte de Michael Rena, executivo de longa data da Chanel, de acordo com documentos do cartório.

Ele também é filho de Charles Heilbronn, fundador da Mousse e presidente da empresa desde 1991. Charles é meio-irmão de Alain e Gerard Wertheimer, herdeiros de terceira geração da fortuna da Chanel.

Os Wertheimers são netos de uma das sócias originais de Gabrielle “Coco” Chanel, que fundou a grife em 1910. Eles têm a mesma mãe de Charles, Eliane Heilbronn, que foi considerada a matriarca do império até sua morte no ano passado. Seus filhos estão todos na casa dos 70 anos.

Um representante da Mousse não quis comentar.

Patrimônio bilionário

Os Wertheimers, creditados por possuírem ações iguais na Chanel, que é uma empresa de capital fechado, têm um patrimônio líquido de cerca de US$ 45 bilhões cada, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg.

Sua fortuna se manteve praticamente estável no período pós-pandemia, mesmo com a crise no setor de bens de luxo atingindo rivais como a LVMH, liderada por Bernard Arnault, e a Kering SA, controlada pela família Pinault.

A ascensão de Arthur Heilbronn dá algumas indicações dos planos de sucessão da família, que é bastante tímida em relação à mídia e que há muito tempo busca manter sua riqueza longe dos olhos do público.

O filho de Gerard Wertheimer, David, iniciou um empreendimento de private equity, embora não haja indícios de que outros filhos dos dois herdeiros estejam envolvidos com Mousse.

“Eles parecem menos um family office e mais um fundo patrimonial privado para um império de luxo”, disse Marc Debois, fundador da FO-Next, empresa de consultoria para family offices, sobre a Mousse. Entre seus pares, “o que os coloca no verdadeiro 1% do topo não é o tamanho; é o tempo; a paciência multiciclo alimentada por dividendos”.

Pelo menos um quinto dos indivíduos entre as 500 maiores fortunas do mundo agora tem um family office que ajuda a administrar um patrimônio total de mais de US$ 4 trilhões, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg.

Uma pesquisa recente com 317 clientes de family office do UBS Group AG revelou que pouco mais da metade deles possui um plano de sucessão, sendo que aqueles nos EUA e no Sudeste Asiático são os mais propensos a já terem feito esses acordos.

“É um tópico enorme”, disse Eric Landolt, chefe global de consultoria familiar do UBS Group AG, sobre planos de sucessão para family offices. “É algo que surge em quase todas as discussões.”

Currículo

Heilbronn ingressou na Mousse como diretor em 2019, tornando-se diretor-gerente alguns anos depois, de acordo com seu perfil no LinkedIn.

Atualmente, ele é codiretor de private equity e investimento direto de risco com outro diretor-gerente, Paul Yun. Ele foi nomeado para o conselho de supervisão da Rothschild, depois que a Mousse Partners fez um de seus investimentos de maior destaque até o momento, juntando-se a outras duas dinastias francesas em 2023 para ajudar a fechar o capital do banco.

Ele também é diretor da Almacantar, uma imobiliária com sede em Londres responsável por projetos de grande porte na capital inglesa.

A holding da Chanel é a Mousse Investments, sediada nos Ilhas Cayman, dos Wertheimers, que não divulga dados financeiros.

A Mousse Partners é a divisão de investimentos e também possui escritórios em Pequim e Hong Kong.

A Mousse Investments se descreve como detentora de uma “ampla gama de classes de ativos nos mercados público e privado”, além da Chanel. Embora a Mousse não divulgue quanto dinheiro controla, algumas empresas a nomearam como participante em negócios ou acionista. Isso indica investimentos em ações, imóveis, crédito e private equity.

A Mousse Partners emprega mais de três dúzias de pessoas em todo o mundo e conta com ex-analistas do JPMorgan Chase e do Wells Fargo entre seus funcionários. Suzi Kwon Cohen ingressou como diretora de investimentos há quase uma década, após liderar o private equity norte-americano do fundo soberano de Singapura, o que a coloca entre as principais executivas no setor de family offices, historicamente dominado por homens.

Ao longo dos anos, a Mousse Partners apoiou uma ampla gama de startups, incluindo a provedora de saúde mental Brightside Health, a empresa de publicidade digital Brandtech Group, a empresa de biotecnologia Evolved by Nature, a empresa de alimentos Harmless Harvest e a provedora de saúde Thirty Madison.

No ano passado, Mousse se juntou à herdeira bilionária da L’Oréal, que investiu na marca de roupas de luxo The Row.

Nem só sucessos

Nem todas as apostas se mostraram lucrativas. A Beautycounter faliu no ano passado.

O family office detém aproximadamente 8% de participação na empresa francesa de entretenimento digital listada NetGem SA e 5,7% na fabricante de produtos para cabelo Olaplex Holdings. Os preços das ações de ambas as empresas despencaram em relação aos níveis da oferta pública inicial e não se recuperaram.

A Mousse também investe há décadas na indústria editorial e audiovisual francesa por meio da Media-Participations, que detém uma variedade de empresas de publicação de livros, mídia especializada, desenhos animados e histórias em quadrinhos.

A família por trás da Chanel, fabricante de óculos de sol de US$ 970 (cerca de R$ 5,5 mil), bolsas de US$ 6.500 (R$ 35,7 mil) e relógios J12 de US$ 23.400 (R$ 128 mil), juntou-se a outros bilionários franceses do luxo com participações na mídia em seu país.

Bernard Arnault é dono dos jornais Les Echos e Le Parisien, além do semanário Paris Match. O clã Pinault é dono das revistas Le Point e Point de Vue.

Embora Mousse não esteja envolvida nas operações da Chanel, ambas as empresas têm escritórios em uma torre de vidro ao sul do Central Park, em Manhattan, famosa por seus aluguéis caros e pela lista de grandes inquilinos financeiros.

Tanto Arthur quanto Charles Heilbronn listaram o endereço de seu local de trabalho naquela unidade nova-iorquina na “Billionaires Row” de Manhattan, onde Alain Wertheimer também mantém um escritório há muito tempo.

A portas fechadas naquela rua, os próximos passos nos planos de sucessão da Mousse Partners podem já estar tomando forma, embora seja improvável que alguém da dinastia por trás da Chanel comente publicamente sobre o assunto. “Somos uma família muito discreta”, disse Gerard Wertheimer certa vez em 2001. “Nunca conversamos.”