A declaração da Freeport-McMoRan sobre o acidente em sua mina na Indonésia, onde dois funcionários morreram e cinco estão desaparecidos, não poderia ter acontecido em pior momento para o mercado de cobre.

A demanda pelo metal, essencial para eletrônicos, disparou junto com a transição para energia limpa e o crescimento da inteligência artificial. No entanto, uma combinação de acidentes e interrupções atingiu minas da América do Sul à África Central, pressionando a oferta.

O local onde aconteceu o acidente, em Grasberg, na ilha da Nova Guiné, é a segunda maior fonte de cobre do mundo, respondendo por 3% da produção global.

A Freeport alertou que poderia não conseguir honrar os contratos de fornecimento da mina, e a empresa sediada no Arizona, nos Estados Unidos, reduziu seu guidance de produção de cobre e ouro para o trimestre.

A medida pegou muitos de surpresa e fez o cobre disparar na Bolsa de Metais de Londres, com os preços fechando em alta de 3,6%.

Os contratos futuros ampliaram os ganhos nesta quinta-feira (25), sendo negociados perto de US$ 10.400 a tonelada, próximos da máxima histórica de US$ 11.104,50 em maio de 2024.

“Tudo isso é muito significativo”, disse Helen Amos, analista da BMO Capital Markets. “Isso está acontecendo quando o cobre já está bastante apertado. Isso nos leva a um novo regime de preços mais altos do que estávamos observando antes.”

Produção de cobre

Os impactos no fluxo global de cobre vêm ocorrendo há meses. Em maio, a atividade sísmica causou inundação em uma mina da Ivanhoe Mines na República Democrática do Congo. Em junho, interrupções atingiram duas operações da Teck Resources no Chile. Em julho, um acidente fatal na mina da Codelco no Chile interrompeu atividades por mais de uma semana.

Somadas à demanda crescente, as restrições levaram os bancos de Wall Street, como o Goldman Sachs e o Citigroup, a projetar uma disparada do cobre para US$ 15.000 ou US$ 13.000, respectivamente.

Não é incomum que o mercado de cobre sofra interrupções na oferta, o que os analistas tentam levar em consideração em suas previsões.

Quando a First Quantum Minerals fechou sua mina Cobre Panamá no final de 2023, após protestos e disputas com o governo, o fechamento retirou 1,5% do fornecimento global de cobre. Este ano, no entanto, as condições de mercado estão mais apertadas.

“No final de 2023, todos viam o mercado de cobre como bem abastecido para 2024, enquanto hoje já estamos claramente em déficit”, disse Amos. Ela estima que o mercado mundial de cobre refinado provavelmente terá um déficit de cerca de 300.000 toneladas este ano.

“Dependendo de quanto tempo isso durar, o déficit fica maior”, disse Bart Melek, chefe global de estratégia de commodities da TD Securities. Os estoques de cobre precisarão ser utilizados para satisfazer à demanda, afirmou.

As interrupções na oferta deste ano e seu impacto nos preços evidenciam o baixo investimento na mineração de cobre na última década. As mineradoras mantiveram a disciplina financeira após um período de aquisições agressivas que levaram a bilhões de dólares em baixas contábeis e enfureceram investidores.

Se os problemas em Grasberg persistirem, o fornecimento de cobre semiprocessado para as fundições que produzem cobre refinado ficará ainda mais restrito — e isso dará mais poder de precificação para os concorrentes da Freeport.

As fundições têm enfrentado dificuldades para garantir a matéria-prima e já estão pagando mais caro por ela, e esses preços podem repercutir nas cadeias de suprimentos globais de produtos feitos com o metal.