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Com holofote sobre Enel após chuvas em SP, setor traz dúvidas até para Sabesp

Vendaval atípico desperta incertezas sobre preparo para mudanças climáticas.

Com a Enel ainda trabalhando para restabelecer completamente a energia após um temporal que atingiu o estado de São Paulo no último sábado (3), as atenções dos investidores recaíram sobre as ações do setor de energia na B3. Afinal, as fortes chuvas e o vendaval mostram o despreparo das redes de distribuição para resistir a tais acontecimentos climáticos.

Tanto que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) convocou uma reunião na tarde desta segunda-feira (6) para tratar do assunto. O objetivo é analisar não apenas as consequências do temporal, mas também debater o que é preciso ser feito para que haja uma rede elétrica mais resiliente diante de eventos meteorológicos extremos – e cada vez mais recorrentes.

Funcionários da Enel fazem manutenção em poste de energia elétrica em São Paulo, SP, em imagem de 2021 (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Funcionários da Enel fazem manutenção em poste de energia elétrica em São Paulo, SP, em imagem de 2021 (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Em entrevista ao Valor, Sandoval Feitosa, diretor-geral da Aneel, disse que não se pode prever com precisão quando tais fenômenos climáticos ocorrem. “Mas podemos nos preparar para eles”, disse. Segundo ele, a reunião será o início de um trabalho em busca de ações corretivas e de prevenção, podendo resultar até em mudanças regulatórias.   

Ainda segundo o Valor, o diretor de operações da Enel, Vicenzo Ruotolo, afirmou que a recente redução do número de funcionários da empresa não afetou o serviço prestado à população. Desde 2019 – portanto, cerca de um ano após a empresa italiana ter comprado a antiga Eletropaulo – o total de empregados caiu mais de 35%. 

Ruotolo classificou a falta de energia na capital como um evento “excepcional” e afirmou que o restabelecimento vai exigir a ajuda do efetivo da empresa no Rio de Janeiro. Aliás, segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Nelson Tanure, maior acionista da Light, que ainda está em recuperação judicial, mira agora a compra da Enel RJ.

Falta de água põe privatização em xeque

A falta de energia na capital paulista e na grande São Paulo prejudicou também o abastecimento de água na região. Segundo a Sabesp (SBSP3),  os reservatórios no estado iniciaram o processo de recuperação apenas neste domingo (5), após o restabelecimento da energia elétrica em alguns pontos da cidade de São Paulo e na região metropolitana.

Obra realizada pela Sabesp em São Paulo 04/03/2015 REUTERS/Nacho Doce

A previsão da empresa é de que a normalização do abastecimento possa  se estender até esta terça-feira (7) em locais mais críticos, que passam a contar com caminhões-tanques. O retorno da água aos imóveis será de forma gradual.

Para a Capital Advice, o apagão de energia em São Paulo piora o cenário de privatização da Sabesp do ponto de vista político, especialmente na Câmara Municipal. Segundo o time de estratégia macro da BGC Liquidez DTVM, o principal temor dos vereadores era perder a interlocução com a Sabesp com a privatização, a exemplo do que aconteceu após a Eletropaulo ser privatizada. 

“Os vereadores são muito demandados pelas suas bases para água e luz, e a privatização praticamente [da Eletropaulo] acabou com a interlocução que tinham para debater as questões de energia. Os vereadores temem que o mesmo ocorra com a água”

BGC Política feito pela Capital Advice, da BGC Liquidez DTVM

Em contato com fontes na Câmara nesta segunda-feira (6), a Capital Advice afirma que os vereadores avaliam que a exposição das falhas da Enel após o temporal deve constranger “as defesas mais apaixonadas” pela privatização, elevando a cautela ao tratar do tema. 

No entanto, o time da BGC reitera que ainda não está claro qual será o reflexo prático do acirramento desse debate. “Não se sabe se pode atrasar as discussões a ponto de jogar a privatização para 2025”, conclui a BGC. 

Milhares sem luz

Cerca de 500 mil imóveis seguiam sem energia na Grande São Paulo nesta segunda-feira (6), quase 72 horas após o vendaval da última sexta-feira (3) afetar mais de 2 milhões de pessoas na região. Em nota oficial, a Enel (E1NI34) informou que o fornecimento de luz elétrica foi restabelecido para mais de 76% dos clientes que foram impactados.

Segundo a empresa, o número representa aproximadamente 1,6 milhão de clientes que já estão com o serviço normalizado, três dias após o temporal com rajadas de vento atípicas que atingiram diversas regiões do estado. O fenômeno climático excepcional requer uma atuação conjunta e esforço em várias frentes, fazendo com que a recuperação seja gradual.   

“O vendaval que atingiu a área de concessão no dia 3 de novembro foi o mais forte dos últimos anos e provocou danos severos na rede de distribuição”

Enel, em nota

Segundo a empresa, técnicos trabalham 24 horas por dia desde então para agilizar os atendimentos. As regiões mais afetadas na capital paulista foram as zonas sul e oeste, embora também haja relatos de falta de luz nas regiões leste e norte. Além disso, ao menos sete pessoas morreram devido a danos causados pelo temporal, como queda de árvores.

Apagão geral

A Enel é responsável pelo fornecimento de eletricidade na cidade de São Paulo e em outros 23 municípios paulistas. A previsão da empresa é restabelecer o serviço de energia em São Paulo para a grande maioria dos clientes nesta terça-feira (7). A informação foi confirmada na tarde de domingo (5) pelo prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB). 

Ele deve comparecer à reunião da Aneel, que também deve contar com a participação de representantes da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) e de distribuidoras de energia que atuam no estado de São Paulo, como CPFL (CPFL3) e EDP, além da Enel SP.

Aliás, a área atendida pela CPFL foi a segunda com mais pessoas no escuro, afetando ao menos 400 mil. A empresa atende 27 municípios do interior, como Campinas e Ribeirão Preto, e litoral do Estado. Já a única área onde a energia foi totalmente restabelecida é da EDP, que atua em 28 municípios nas regiões do Alto do Tietê e Vale do Paraíba.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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