A operadora de terminais portuários Corredor Logística e Infraestrutura (CLI) está pronta para investir quase R$ 1 bilhão até o início da próxima década para atender a demanda que virá do agronegócio brasileiro. Hoje, os terminais de Itaqui (MA) e Santos (SP) operam próximos ao limite e a estimativa é de que as exportações de soja, milho e açúcar do país aumentem em quase 70 milhões de toneladas em 10 anos.
“Nós temos o tempo todo, seja no Maranhão, seja em Santos, a sensação de que estamos adicionando capacidade e o mercado pedindo mais”, diz Helcio Tokeshi, CEO da CLI. A empresa, controlada pelas gestoras de private equity (aquelas que compram participações em empresas) IG4 e Macquarie, atende alguns dos principais exportadores agrícolas do mundo, como as americanas ADM e Cargill e a chinesa Cofco. “As tradings estão pedindo mais volume do que a gente está conseguindo oferecer.”
Com o investimento de quase R$ 1 bilhão , a expectativa da CLI é alcançar a capacidade de movimentar 25 milhões de toneladas por ano, aumento de 5 milhões de toneladas em relação à oferta atual.
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O primeiro investimento já está em curso: R$ 565 milhões para ampliação do terminal da CLI no porto de Santos – ativo que foi comprado da Rumo em 2022 por R$ 1,4 bilhão. Outro investimento já mapeado está estimado em R$ 400 milhões, no Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) do porto de Itaqui. Esse segundo aporte, entretanto, depende de aprovação da União porque envolve a renovação antecipada da concessão por mais 25 anos para a CLI e suas outras três sócias no Tegram (TCN, Viterra e ALZ Grãos).
Com essa renovação, o prazo final da gestão do terminal passaria de 2037 para 2062. Nesta terça-feira (19), o Tegram obteve aval do Ministério dos Portos e Aeroportos para a obra, estimada em R$ 1,2 bilhão, mas ainda falta a aprovação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
Tanto Santos quanto Itaqui são estratégicos para as vendas do agronegócio brasileiro ao exterior. Enquanto Santos, o maior porto da América Latina, é fundamental para o embarque de açúcar dos Estados do Centro-Sul, maior região produtora, o porto de Itaqui se tornou uma das principais vias de escoamento para a soja e milho de Mato Grosso, líder da produção nacional, e do Matopiba (acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
A aposta da CLI está no embarque de granéis vegetais – aquele em que as cargas são transportadas sem embalagem e em grandes quantidades diretamente no baú dos navios. Por ser uma operação menos complexa do que carregar um navio de contêineres, o diferencial está na agilidade.
“Granel é granel. No grosso, o que conta no nosso negócio, dada a nossa estratégia, é a eficiência operacional, é fazer muito muito bem e muito rápido”, lembra Tokeshi, que já foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo (2016-2018) antes de desembarcar na IG4. O executivo ajudou a criar a CLI em meados de 2020, quando a IG4 assumiu o terminal da empresa CGG no Tegram. A CGG passava por problemas financeiros e repassou o ativo para que a IG4 fizesse a reestruturação de cerca de R$ 1,2 bilhão de dívida.
Desde então, a CLI consolidou-se no porto do Maranhão como um operador independente—aquele que não tem exclusividade com nenhum exportador específico —, ampliando essa presença no agro com a compra de 80% do terminal da Rumo em Santos. Especula-se que a os controladores da companhia estariam buscando um novo sócio ou a venda total do negócio — a CLI não comenta.
De janeiro a setembro deste ano, a empresa faturou R$ 706,3 milhões, 10% mais do que no mesmo período do ano passado. Já o volume embarcado avançou 14%, para 14,7 milhões de toneladas, chegando a uma participação de 10,7% de tudo que o Brasil exportou de açúcar e grãos neste período.
Investimento em ESG
Além dos investimentos em expansão, a CLI anunciou recentemente um plano de R$ 25 milhões para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa até 2040 e de seus fornecedores até 2050. Cumpridas as etapas, a estimativa é que a empresa tenha uma redução equivalente a 62 mil carros por ano, ou 5% da frota atual da cidade de Santos.
Denise Chagas, diretora de ESG da CLI, diz que o plano será submetido no ano que vem para avaliação do Science Based Targets initiative (SBTi), referência internacional no acompanhamento de metas de descarbonização.
Tokeshi afirma que o investimento em sustentabilidade não é apenas um compromisso social, mas uma necessidade. “Para nós, o ESG não é apenas um verniz, é uma estratégia de negócios”, diz. O executivo lembra que seus clientes também estão com metas agressivas para reduzir emissões de carbono e exigem que os fornecedores tenham uma agenda “verde”.
Na estratégia de negócios está ainda o objetivo de ter maior diversidade no time de funcionários em um segmento em que, tradicionalmente, a mão de obra costuma ser masculina.
A modernização dos equipamentos contribui para que a empresa alcance o objetivo: foram incorporadas, por exemplo, ferramentas pneumáticas, que facilitam o trabalho e o tornam mais acessível às mulheres. “Nós encontramos um negócio em que não tinha quase nenhuma mulher na área operacional. Expandimos muito a presença delas com apoio do Senai para as vagas que abrimos”, afirma Denise.
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