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Negócios

Com um grande passado pela frente, Eike Batista só quer falar de futuro

Eterno vendedor, Eike diz que cansou do petróleo, investe na “super cana” e dirige carro elétrico. Mas dívidas e a Justiça ainda esperam por ele

“O cara tá aqui, tem um tempinho”. Com essa mensagem no WhatsApp, a equipe do InvestNews soube que o empresário Eike Batista havia chegado para a entrevista – com duas horas de antecedência.

Quando este entrevistador chegou ao local da gravação – com uma protocolar antecedência de uma hora, diga-se –, um dos dois assessores que acompanhava Eike logo passou às mãos do ex-bilionário um calhamaço de folhas A3. Começou ali uma das famosas apresentações de slides de Eike Batista, na versão impressa.

Nas folhas, detalhes sobre sua “super cana” com potencial para produzir até três vezes mais etanol e 12 vezes mais biomassa do que as espécies usadas atualmente, segundo Eike. A ideia é vender a cana transgênica para os produtores e substituir aos poucos a cultura plantada atualmente.

Enquanto os técnicos ajustavam os microfones às roupas, ele contornava o emaranhado de fios e braços a fim de sustentar os slides nas mãos e prosseguia na apresentação.

“Serve para misturar no querosene de aviação, serve para fazer papel e celulose, serve para fazer qualquer tipo de embalagem”, listou depois, na entrevista gravada em São Paulo.

Eike Batista em entrevista ao InvestNews Foto: Reprodução/InvestNews

Doze anos depois da espetacular debacle da petroleira OGX, Eike Batista continua sendo, antes de tudo, um vendedor – e um vendedor de si mesmo. Ao mesmo tempo em que refuga a fama de “empreendedor de PowerPoint” – “meus projetos são reais e estão aí para todo mundo ver”, desafia –, o empresário segue reafirmando seu faro para negócios “excepcionalmente eficientes” e anunciando sua “capacidade de gerar novas coisas”.

Aquele que já foi o sétimo homem mais rico do mundo – a fortuna chegou a US$ 34,3 bilhões em 2012 –, agora confessa ter virado persona non grata na Faria Lima, onde ficam as sedes de boa parte do poder econômico do país. Mas Eike diz dar de ombros. “O Brasil da Faria Lima não conhece o Brasil [real], ele conhece o Brasil da telinha ali, da bolsa subindo, descendo, day trade”.

Eike se diz um fazedor serial de empresas que valem mais de um um bilhão de dólares – os “unicórnios” – e conta que, no momento, está ocupado em fazer vingar com “seis ou sete desses animais multichifrudos”, a “super cana” entre eles. Segundo Eike, ele pode exercer a preferência na hora de comprar essas startups.

Se o inferno de Eike como empresário começou nos poços de petróleo da OGX – muito menos produtivos do que se anunciava –, hoje ele aposta seu futuro na energia verde. Aos 67 anos, menciona os filhos do segundo casamento, com a advogada e empresária Flávia Sampaio, como inspiração para trabalhar por “um mundo limpo” e virou defensor contumaz dos carros elétricos – ele mesmo dirige um Yuan Plus, da chinesa BYD.

Eike tem no total quatro filhos, dois com Luma de Oliveira (Thor e Olin, de 32 e 28 anos, respectivamente) e dois com Flávia (Balder, de dez, e a única menina, Tyra, com dois anos).

“Eu acho que Deus não quis que eu mexesse com o mundo sujo do petróleo”, disse Eike ao InvestNews, para depois reconhecer que hoje nutre certo asco por essa indústria.

Nem por isso virou um crítico da Petrobras. E olha que o controlador da petroleira – o Estado brasileiro – já tirou de Eike algumas noites de sono quando 41 blocos exploratórios foram excluídos de um leilão dias antes do certame acontecer. A decisão, tomada em 2007, no governo Lula 2, forçou uma mudança de estratégia por parte da OGX: a petroleira de Eike arrematou áreas menos promissoras – ou mais arriscadas, como queira –, o que foi determinante para sua quebra alguns anos depois.

De acordo com Eike, “se os blocos não tivessem sido retirados, a OGX estaria estaria produzindo mais de um milhão de barris por dia hoje”. “Mas quem descobriu o pré-sal foi o governo, a Petrobras e a ANP. Então o governo tem direito de fazer isso”, sustenta, sem mágoas aparentes.

O empresário Eike Batista fala na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que apura irregularidades no BNDES, em 2017 (Wilson Dias/Agência Brasil)

Agora é a Acelen, da Mubadala Capital, quem sente a pressão do governo ao tentar “se meter” em negócios que interessam à estatal. Neste caso, a refinaria de Mataripe, na Bahia, que pode voltar para as mãos da Petrobras apenas três anos depois de ter sido privatizada.

“Essa refinaria não devia ter saído do portfólio da Petrobras”, opinou Eike. “Para maximizar valor, a Petrobras tem que ter o petróleo e as refinarias, é um hedge. As maiores empresas do mundo são assim”, argumenta.

LEIA MAIS: Como a Petrobras tem pressionado o Mubadala para ter refinaria de Mataripe de volta

Carregando o passado

Apesar do foco no futuro, Eike ainda tem um enorme passado pela frente. Em diferentes processos, foi condenado pelos crimes de uso de informação privilegiada, manipulação de mercado, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. As penas de prisão somam quase seis décadas. Juntas, as multas superam os R$ 2 bilhões.

Seus bens estão bloqueados pela Justiça e é longa a lista de credores e investidores em busca de reparação financeira. A esperança de Eike Batista está nas instâncias superiores do Judiciário brasileiro – e o histórico recente parece favorecê-lo.

Em 2023, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que as propriedades restantes de Eike – basicamente o restaurante chinês Mr. Lam, no Rio, e as debêntures da mineradora Anglo American, avaliadas em pelo menos R$ 360 milhões – só podem ser vendidas com autorização do Supremo.

Eike Batista e Luma de Oliveira | Reprodução

Já neste ano, Toffoli deu à defesa do empresário acesso às mensagens trocadas por autoridades da Lava Jato e que serviram de base para que condenações no contexto da operação fossem canceladas. Uma dessas anulações favoreceu Marcelo Odebrecht. Multas bilionárias da Odebrecht – hoje rebatizada de Novonor – e da holding J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, acabaram suspensas.

Eike afirma ter sido vítima do juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato do Rio. Para o empresário, sua condenação não passa de uma estratégia de autopromoção para o magistrado, hoje afastado das funções por determinação do Conselho Nacional de Justiça.

LEIA MAIS: Eike Batista confia seu destino à demolição da Lava Jato

“É uma loucura o que fizeram, foi um processo medieval”, reclamou Eike. “Tenho certeza de que, graças a Deus, nas instâncias superiores, todo mundo enxerga isso com uma clareza absurda.”

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