Um segundo ano de produção recorde de açúcar no Brasil deve manter os preços mais baixos por mais tempo, trazendo alívio para os compradores que têm enfrentado anos de escassez. O maior exportador de açúcar do mundo está a caminho de sua segunda maior safra registrada, em parte devido ao bom clima e a uma área maior plantada com cana, de acordo com negociantes e analistas que se reuniram durante a Semana do Açúcar de Nova York. As usinas também estão transformando uma quantidade recorde de cana em açúcar este ano, em detrimento do etanol.
As exportações crescentes do Brasil nos próximos meses devem aliviar as preocupações com o fornecimento depois de déficits consecutivos terem elevado os preços por cinco anos seguidos, a mais longa série de alta desde 1989. Também proporcionará alívio em um momento em que grandes países importadores na Ásia e no Oriente Médio ainda estão com estoques apertados.
“Ninguém achava que o Brasil poderia exportar tanto”, disse Marcelo de Andrade, diretor administrativo de commodities da Cofco International, observando que muitos traders estavam errados em suas previsões anteriores.
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Todas as últimas estimativas discutidas durante as reuniões desta semana em Nova York apontam para uma produção de açúcar maior no Brasil do que o esperado anteriormente. A principal região de cultivo de cana do Brasil, o Centro-Sul, deverá produzir entre 41 milhões e 42,5 milhões de toneladas, próximo de um recorde histórico.
O plantio de cana-de-açúcar no Brasil também é maior do que inicialmente previsto, com alguns traders apontando para um aumento de 3% a 4% este ano. Isso porque mais cana ficou intocada nos campos no ano passado, disse Ricardo Carvalho, diretor comercial da BP Bunge Bioenergia.
“A perspectiva futura está longe das condições de pânico que tínhamos antes”, disse Tom McNeill, diretor da consultoria Green Pool Commodity Specialists.
É uma reviravolta em relação ao outono passado, quando o açúcar passou a renovar máximas dia após dia, um efeito dos enormes congestionamentos nos portos brasileiros impediam que os suprimentos chegassem aos países consumidores. Em novembro, os futuros do açúcar bruto foram negociados no mais alto nível em mais de uma década.
Desde então, os futuros caíram cerca de 30% à medida que os temores se dissiparam. O clima ameno permitiu tanto uma boa colheita quanto um desenvolvimento positivo da cana para a nova temporada.
“O Brasil está de volta ao jogo de uma maneira que não víamos há muitos anos”, disse Carlos Murilo Barros de Mello, chefe da mesa de açúcar para as Américas na empresa de gestão de riscos Hedgepoint Global Markets.
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Mesmo trazendo alívio, a crescente safra brasileira também significa que o mercado está mais dependente de um único país, já que o segundo maior produtor, a Índia, não deve exportar de forma significativa por mais um ano.
A nação sul-asiática só deve retomar os embarques de forma significativa na temporada que começa no segundo semestre de 2025, disse Kiran Wadhwana, diretor da corretora Comdex India. Até lá, o mundo dependerá principalmente do Brasil, o que ele considera um “risco enorme”, especialmente porque a maior parte do açúcar é embarcada a partir de um único porto.
As restrições na Índia também significam que os mercados globais estarão mais equilibrados este ano, sem grande excesso de suprimentos. A consultoria Datagro espera um superávit global de apenas 1,6 milhão de toneladas para o novo ano agrícola, o que não é enorme considerando que os estoques globais estão em níveis historicamente baixos.
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