Os cortes que afetam o setor de tecnologia têm minado os departamentos de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês), o que ameaça as promessas das empresas de impulsionar grupos sub-representados em suas fileiras e liderança.
Ofertas de empregos DEI caíram 19% no ano passado – uma queda mais forte do que em vagas nas áreas jurídicas ou de recursos humanos, de acordo com dados da Textio, que ajuda empresas a criarem anúncios imparciais. Apenas cargos em engenharia de software e ciência de dados tiveram declínios maiores, de 24% e 27%, respectivamente.
A Bloomberg News identificou profissionais DEI que perderam empregos nas últimas semanas na Amazon (AMZO34), Meta Platforms (FBOK34), Twitter e Redfin (R2DF34). Muitos disseram que suas responsabilidades devem ser atribuídas a ex-colegas que ficaram ou aos chamados grupos de recursos, que muitas vezes não são remunerados por esse trabalho.
Um porta-voz da Amazon disse que as prioridades DEI da varejista online não mudaram e que a empresa continua comprometida com seus objetivos. Um porta-voz da Redfin afirmou que a companhia tem investido no crescimento de sua equipe DEI desde 2021 e, apesar de uma recente demissão, o grupo é maior do que no início de 2022. Um representante da Meta não quis comentar.
“Estou cautelosamente preocupado – não que esses cargos sejam zerados, mas haverá um aumento dos cargos tipo ‘canivete suíço’”, o que significa que mais profissionais DEI serão esparramados à medida que assumem funções extras de trabalho”, disse Kieran Snyder, CEO da Textio. O fenômeno não deve se limitar à tecnologia, já que as demissões atingem outros segmentos da economia.
Boom de diversidade
Nos últimos anos, houve um “boom” de contratações com foco em diversidade e inclusão. Após os protestos do movimento Black Lives Matter em 2020, empresas de todos os tipos prometeram aumentar a diversidade racial e de gênero em suas fileiras. Dezenas trouxeram seus primeiros diretores de diversidade e inclusão. Nos três meses após o assassinato de George Floyd, ofertas de emprego DEI subiram 123%, de acordo com dados do site de empregos Indeed.
Agora, justo quando companhias de tecnologia começavam a avançar nesse campo, passam a reduzir essas equipes antes de atingirem totalmente as metas ou criar forças de trabalho que se pareçam com a população americana em geral. A diretora de diversidade da Meta, Maxine Williams, havia alertado no fim do ano passado que o corte de custos atrasaria esforços de contratação com diversidade.
“Cortar a equipe orientada à DEI agora, a menos que você tenha realmente avançado e possa dizer ‘missão cumprida’, não é uma boa ideia”, disse Angie Kamath, reitora da Escola de Estudos Profissionais da Universidade de Nova York, com foco no desenvolvimento da força de trabalho. “Existem alguns riscos reais.”
REUTERS/Dado Ruvic
Em alguns casos, as empresas podem até retroceder, disse Monne Williams, sócia da McKinsey & Company, em Atlanta.
“Diversidade, equidade e inclusão não podem ser coisas que você só aplica na fase boa”, disse Williams. “Se isso for como uma moda, as empresas perderão talentos.”
Em parte, o problema é que as companhias tendem a se apoiar na abordagem “último a entrar, primeiro a sair” quando fazem cortes, disse Brooks Scott, fundador e CEO da empresa de coaching executivo Merging Path Coaching. “As empresas se apressaram em pensar no lucro, mas sempre que tentamos otimizar a velocidade, provavelmente vamos desconsiderar a diversidade, equidade e inclusão.”
Na contramão dessa visão, empregadores deveriam considerar raça, gênero e etnia ao decidir quem demitir.