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Negócios

Dívida das empresas sobe acima da inflação e acende luz amarela na bolsa

Setores com representatividade no Ibovespa, como bebidas, seguros e energia elétrica, estão entre os que mais se endividaram em um ano.

Não é novidade que 2023 vem sendo marcado como o “ano da insolvência”. Tudo começou em janeiro, com o bilionário rombo contábil da Americanas (AMER3) secando a liquidez do mercado de crédito no Brasil. Pouco depois, o novo pedido de recuperação judicial (RJ) da Oi (OIBR3) e o decreto de falência da Light (LIGT3) deixaram os investidores assustados. 

Afinal, vem mais por aí? Para não ser pego novamente de surpresa, o InvestNews fez um levantamento, em parceria com o TradeMap e o Investing.com, para saber quais setores e empresas listadas na bolsa brasileira figuram entre as que mais se endividaram e, talvez, podem acabar entrando na lista de empresas inadimplentes. 

Os dados do TradeMap levam em conta a dívida bruta (em R$ milhares) na passagem de junho de 2022 para junho deste ano, com base nos balanços do último trimestre. O setor de construção e engenharia teve o maior crescimento do endividamento entre 2022 e 2023.

Já os números do Investing.com consideram o valor da dívida (total e líquida) em relação ao Ebitda – ou seja, antes dos efeitos de endividamento no caixa da empresa – no mesmo período. Por esse critério, os dados mostram que entre as empresas mais endividadas estão BRF, MRV e Braskem.

Na mira

Chama a atenção o aumento do endividamento em alguns setores e empresas maior que a inflação. No total geral do mercado, houve um crescimento de 9,5% na dívida bruta em 12 meses até junho, segundo o TradeMap. Trata-se de uma variação percentual bem acima do apontado pelo índice oficial de preços no Brasil no mesmo período, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 3,99%. 

Entre os setores que têm maior representatividade no Ibovespa, merece atenção o aumento de 18% na dívida total bruta do setor de energia elétrica, ainda na mesma base de comparação. No período, o montante passou de R$ 360,4 milhões em junho de 2022 para R$ 425,3 milhões um ano depois. 

Logo da Eletrobras fotografado no Rio de Janeiro (RJ) 03/01/2019 REUTERS/Pilar Olivares

Juntas, as “elétricas” representam 10% da composição da carteira do Ibovespa, válida até setembro. Entre as empresas, o destaque fica para Eletrobras (ELET3), com uma relação dívida líquida/Ebitda de 6,20 vezes, segundo o Investing.com. Trata-se da maior proporção entre os pares do setor, sendo que, logo atrás, está a Taesa (TAEE11), com 5,20x.

Em geral, valores abaixo de 3 indicam que a empresa tem uma boa capacidade de pagamento de suas dívidas, enquanto valores acima de 3 sinalizam alguma dificuldade financeira, com a companhia podendo enfrentar problemas para honrar seus compromissos.

Ainda no segmento de utilidade pública, também salta aos olhos a alta próxima a 20% entre as empresas de saneamento básico e água e esgoto. Em um ano, houve um aumento de R$ 6,3 bilhões na dívida bruta do setor, aproximando-se de R$ 40 bilhões, ao passo que os indicadores da dívida sobre o Ebitda da Sabesp (SBSP3) melhoraram, ficando abaixo de 3.

Máquina da Sabesp trabalha ao lado de bombas da hidrelétrica Jaguari durante estiagem em Bragança Paulista 12/02/2015 REUTERS/Paulo Whitaker

Diante disso, fica mais fácil entender porque empresas como a Eletrobras e a Copel (CPLE6) foram privatizadas. Aliás, a operação bem-sucedida da elétrica paranaense eleva a expectativa de que outras estatais estaduais passem pelo mesmo processo, com a companhia paulista de saneamento despontando como a próxima da fila.

Nem tão seguro

Porém, setores mais tradicionais, tido como defensivos, como o de Previdência e Seguros, também pedem cautela. Isso porque houve um salto de 56% na dívida bruta desde junho do ano passado, acionando o sinal de alerta. Em valores, a variação foi de R$ 130,9 milhões. Já em termos percentuais, trata-se da maior variação entre todos os setores analisados com maior representatividade no Ibovespa, segundo o TradeMap. 

Logo atrás, está o segmento voltado à moda, com as empresas de vestuário e calçados registrando um crescimento de 35% na dívida bruta até junho. 

Nesse caso, enquanto Alpargatas (ALPA4) se destaca por uma relação negativa da dívida total (-15,10) e líquida (-11,10) em relação ao Ebitda, Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3) possuem ambos os indicadores abaixo de 3, de acordo com o Investing.com. No entanto, o sinal negativo da dona da marca Havaianas reflete a dificuldade em gerar resultados operacionais, ao invés de significar que possui mais caixa do que dívida.  

Destaque solo

Por fim, algumas empresas são destaque solo, destoando nos setores que representam. É o caso da Ambev (ABEV3). Com um peso de 3% no Ibovespa, a fabricante de bebidas teve uma alta de quase 25% na dívida bruta no período de um ano, a R$ 3,99 bilhões. Porém, a relação do endividamento total com o Ebitda é próximo a zero.

Na outra ponta, chamam a atenção os indicadores de Pão de Açúcar (PCAR3) e BRF (BRFS3), com uma relação dívida líquida e total/Ebitda bem acima dos rivais, ficando entre 15 e 20. Embora no Ibovespa o peso desses papéis seja menor que 1%, a participação do setor de consumo no índice à vista é de quase 4%. 

Logo da BRF. REUTERS/Rodolfo Buhrer/File Photo/File Photo

No caso da dona das marcas Sadia e Perdigão, o que pesa é o prejuízo bilionário que prejudica a recuperação da margem bruta da companhia. Já o GPA segue em um processo complicado de reestruturação das operações desde a aquisição pelo Casino. 

Nada muito diferente da Braskem (BRKM5), cujos níveis de endividamento saltaram em um ano, chegando a 13,50% de dívida líquida/Ebitda ao final de junho de 2023, em meio ao impasse sobre a venda da petroquímica. No Ibovespa, a fatia do papel representa 0,3%.

Recuperações judiciais em alta

Nos dados mais recentes, o indicador da Serasa Experian sobre recuperação judicial e falências mostra que os pedidos saltaram mais de 100% em maio, na comparação anual, totalizando 119 requerimentos. Entre eles, as micro e pequenas empresas (MPEs) são as mais afetadas, com 68. 

Já entre as grandes empresas, houve o dobro de pedidos, no mesmo período, passando de seis para 13. Para o economista da Serasa, Luiz Rabi, esse aumento preocupa, após dois meses de estabilidade nos compromissos financeiros das companhias, o que indica que é possível que a insolvência das empresas continue crescendo.

“Quando o número de pedidos de recuperação judicial e falência aumenta entre as grandes empresas, acende o sinal de alerta, pois elas teriam maior capacidade de atravessar cenários econômicos incertos”

economista da Serasa, Luiz Rabi, em nota

Rabi explica que esses requerimentos acontecem como última tentativa dos credores evitarem um prejuízo maior e receberem da empresa devedora um valor proporcional ao crédito concedido.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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