É nesse cenário que surgem colaborações com personagens como Labubu, Pikachu, Snoopy e Sailor Moon. Longe de substituir a exclusividade, essas parcerias a ampliam, unindo escassez de produto ao valor simbólico. O resultado são lançamentos que geram filas digitais, viralizam no TikTok e chegam a cifras expressivas em leilões — alguns bonecos Labubu já alcançaram mais de US$ 31 mil.
“Sentir profundamente está se tornando uma forma de luxo. Sentir-se bem, em vez de apenas ter uma boa aparência, é uma aspiração”, declarou à Forbes Alex Hawkins, diretor de Prospecção Estratégica do Future Laboratory, uma consultoria britânica especializada em antecipar tendências de consumo, inovação e comportamento para empresas de diversos setores.
Segundo Hawkins, “cada vez mais marcas estão integrando experiências diversificadas em seus produtos e serviços, focando na ‘ciência por trás da sensação de admiração’, aquela emoção que sentimos ao nos deparar com algo maior do que nós mesmos”.
O fenômeno Labubu e a ascensão da Pop Mart
Criado pelo artista Kasing Lung, o boneco Labubu começou como parte da série The Monsters e rapidamente se transformou em símbolo de desejo global. Por trás do hype está a chinesa Pop Mart, que viu sua receita disparar com a febre dos colecionáveis.
Em agosto de 2025, o CEO da Pop Mart, Wang Ning, afirmou à Reuters que a empresa pode alcançar 30 bilhões de yuans (cerca de R$ 22,5 bilhões) em receita ainda este ano. “A demanda internacional está crescendo mais rápido do que esperávamos e hoje os mercados fora da China já rivalizam com o nosso público doméstico”, disse o executivo.
Wang explicou que a estratégia vai além da venda de bonecos em “blind box”, modelo de surpresa que cria escassez e expectativa. A empresa busca expandir sua presença global com lojas físicas, acessórios e experiências imersivas, reforçando o valor da marca e consolidando o ecossistema de Labubu.
Modelo Disney
A comparação com gigantes do entretenimento não é por acaso. Si De, diretor-executivo e co-COO da Pop Mart, afirmou, em entrevista à Reuters, que a empresa se inspirou na Disney por muito tempo. “O grande valor está em operar propriedade intelectual no longo prazo, por até 100 anos”, declarou ele.
Si De acrescentou que a empresa busca transformar Labubu em um universo completo, com conteúdo, colaborações de qualidade e novos formatos: “Não se trata apenas de lançar um personagem de sucesso imediato, mas de investir em um ecossistema de marca.”
O luxo encontra o pop
A estratégia não se limita à Pop Mart. Outras grifes vêm experimentando colaborações que unem tradição e cultura pop. A Omega, tradicional relojoaria suíça, lançou edições especiais do icônico Speedmaster em homenagem ao Snoopy, personagem associado à NASA e à corrida espacial. Os modelos esgotaram rapidamente e hoje são disputados em leilões e revendas por valores que ultrapassam várias vezes o preço original.
Seguindo a mesma tendência, a Tiffany & Co. surpreendeu ao firmar parceria com o universo Pokémon, lançando joias exclusivas inspiradas em Pikachu. A coleção, que incluiu pingentes e colares em ouro e prata, foi desenhada para aproximar a joalheria de um público mais jovem e menos formal. O movimento também refletiu a nova fase da Tiffany após a aquisição pela LVMH, que vem reposicionando a marca no cenário global.

Nostalgia dos anos 1990
Já a Jimmy Choo apostou na nostalgia dos anos 1990 ao lançar uma coleção inspirada em Sailor Moon, o famoso anime japonês. A linha de sapatos e acessórios trouxe elementos mágicos e glamorosos, como cristais e lantejoulas, que remetem à estética da personagem. O resultado? Os produtos se esgotaram em poucos dias e hoje figuram entre as peças mais disputadas em revendas online.
“Não é só nostalgia, é encontrar onde estamos indo como marca. Para cada geração, glamour significa uma coisa distinta, mas a ideia de se sentir elevada e importante continua central no meu trabalho”, afirmou à Forbes Sandra Choi, diretora criativa da Jimmy Choo:.
No caso da Tiffany, o CEO Anthony Ledru declarou ao Financial Times: “O futuro da Tiffany é sobre autenticidade e design, mas também sobre falar a língua das novas gerações.”
Riscos
Seja com personagens licenciados ou mascotes próprios, como o Louis Bear da Louis Vuitton, o fato é que o luxo está mudando de cara. Apesar do entusiasmo, há riscos. A dependência de poucos personagens, por exemplo, pode criar vulnerabilidade para as empresas caso o interesse diminua.
O próprio Si De, da Pop Mart, reconhece o desafio. “Há dúvidas sobre a sustentabilidade da popularidade de Labubu. É por isso que precisamos construir algo que vá muito além de um único boneco”, declarou ele.
Outras colaborações
Abaixo, confira outras colaborações recentes entre marcas de luxo e personagens da cultura pop.
Longchamp x Pokémon
A marca francesa lançou uma coleção exclusiva de bolsas e acessórios com o tema Pikachu, unindo o estilo clássico da marca com o universo dos animes.
H. Moser & Cie x Azuki x The 1916 Company
Uma colaboração inovadora que resultou em uma coleção de relógios de luxo com temática de anime, incluindo NFTs ((Tokens Não Fungíveis) e gêmeos digitais para garantir a autenticidade.
Fenty Beauty x Smurfette
A marca de cosméticos de Rihanna lançou uma edição limitada inspirada na personagem dos Smurfs, combinando beleza e nostalgia.
Funko x K-Pop
A Funko lançou uma coleção de bonecos Pop! inspirados em ícones do K-pop, ampliando seu portfólio para além dos personagens tradicionais.